São inúmeras as queixas sobre o barulho que extrapola os limites permitidos por lei na rua Paranaguá e seu entorno. Tradicional região da cidade, é bastante frequentada pelas famílias que ali residem e caminham de manhã para o banho de sol ou passeiam com os cachorros. Entretanto, desde 2019 é referência também de noites mal dormidas.

Imagem ilustrativa da imagem Poluição sonora tira paz do entorno da Paranaguá
| Foto: Gustavo Carneiro

Quando a tarde cai, o som sobe, a aglomeração nas ruas virou uma constante e a tranquilidade dos cidadãos que ali residem, a maioria em prédios, é afetada. Radicado em uma das vias citadas há 29 anos, o administrador de empresas Antônio Carlos Ribeiro admite que o clima mudou mesmo. "Percebemos que, a partir de 2019, a abertura de novos bares e restaurantes trouxe para o local muita algazarra por parte de pessoas que não cumprem a lei." Ribeiro aponta que esse público, que talvez nem frequente os estabelecimentos, faz barulho com motos, carros, música e que também há consumo de "bebidas e venda de drogas". "Em outubro de 2019, após denúncias, conseguimos uma audiência com a Prefeitura, Ippul (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina), GM (Guarda Municipal) e PM (Polícia Militar). Ao observar a morosidade, formamos uma associação de moradores, fizemos um abaixo-assinado com 400 assinaturas e protocolamos junto à Promotoria de Meio Ambiente, que formalizou uma ação e agora, no dia 3 de setembro, cinco moradores serão ouvidos como testemunhas em audiência ", revela.

Ribeiro esclarece que os moradores não são contra os empreendimentos. "Mas que se cumpra a lei: do sossego, da proibição de consumo de bebidas em vias públicas e o toque de recolher", destaca. O morador sugere que os estabelecimentos também sejam fiscalizados se estão em conformidade com alvará e isolamento acústico e recebam um prazo para adequação. "Não queremos brigar com ninguém, mas nossa qualidade de vida está sendo prejudicada, pois temos moradores de 90 anos que são afetados, assim como as pessoas que precisam descansar e trabalhar no dia seguinte", expõe.

Saúde mental de moradores é afetada

A representante comercial Ana Luisa Pellegrini, embora mais nova no pedaço, mora há oito meses no entorno e desde então vive uma rotina de perturbação pelo barulho excessivo que chega ao apartamento dela no oitavo andar. Sua experiência profunda com o incômodo não permitiu que considerasse tal situação banal. "Quinta, sexta e sábado eu já me programo para chegar mais tarde em casa, pois já sei o que me espera e sei que isso incomoda quem precisa descansar, estudar ou acordar cedo nos dias seguintes ao som alto que vem dos bares." Pellegrini relata que muitos residentes não levam à frente a reclamação pela necessidade de ter que fazer a representação. "Já cheguei da delegacia às 3 horas da manhã. Perdemos a noite de sono por barulho ou por ter que estar na delegacia. Falta bom senso e cumprimento das leis", ratifica.

Com diversas gravações de vídeo, Pellegrini explica que um novo abaixo-assinado foi feito e que há bares que já entenderam a realidade e de forma amigável abaixam o som quando são solicitados. "Naquela região, o isolamento acústico é obrigatório, mas há proprietários que simplesmente não atendem as queixas e seguem cada dia mais ativos com música ao vivo e um volume de som que prejudica até mesmo restaurantes vizinhos", reclama.

Guarda Municipal reconhece ocorrências

De acordo com o Secretário de Defesa Social do Município, tenente-coronel Pedro Ramos, a recente experiência negativa de aglomeração não é problema só na rua Paranaguá. "Esse tipo de situação tem sido frequente em outros pontos da cidade e isso se acentuou após a flexibilização de horários do novo decreto. Mas precisamos de mais servidores para o enfrentamento." Sobre a aglomeração recente na rua Paranaguá, no dia 7 de agosto, Ramos confirma a desproporcionalidade de servidores e público presente na via.

"Recebemos ligação, mas não tínhamos equipe. Na mesma noite tivemos reclamação na Higienópolis, em chácaras e festas particulares". Segundo o secretário, operações programadas estão previstas. "E já fizemos contato com a Abrasel Norte ( Associação Brasileira de Bares, Restaurantes e Empresas ligadas ao setor de alimentação fora do lar), em relação a suas atribuições. As fiscalizações observam o espaçamento necessário, o número de pessoas dentro dos estabelecimentos, bem como o cumprimento do horário", sinaliza.

PM destaca que atua na ordem pública

No entendimento do Tenente Coronel Nelson Villa Junior, comandante do5º Batalhão da Polícia Militar em Londrina, ações planejadas com antecedência funcionam melhor, pois dependendo da proporção que uma aglomeração toma, é preciso intervenção especializada. " O uso de granadas de efeito moral, como aconteceu recentemente na Paranaguá - onde havia mais de 500 pessoas , foi necessário para fins de dispersão". De acordo com Villa, a ferramenta é reconhecida até mesmo pela ONU-Organização das Nações Unidas, pela sua segurança. "Seu principal objetivo é dispersar sem machucar. As pessoas estavam inclusive arremessando garrafas contra as autoridades e nossa ação foi realizada para que a Guarda Municipal pudesse continuar o seu trabalho de fiscalização dentro dos estabelecimentos comerciais. Villa confirma a participação do efetivo da Polícia Militar nas AIFU- Ações Integradas de Fiscalização Urbana e as considera assertivas.

Abrasel diz que cumpre cartilha e pede apoio de clientes e do governo

De acordo com o empresário e presidente da Abrasel Norte - Associação Brasileira de Bares, Restaurantes e Empresas ligadas ao setor de alimentação fora do lar, Leonardo Leão, a associação tenta orientar todos os estabelecimentos e empresários para que cumpram o decreto vigente. "Sabemos que sempre existe um pouco de ansiedade por parte dos empresários quando têm novas notícias, mas dentro de nosso setor tentamos trazer tranquilidade para que todo mundo saiba que a Abrasel está lutando pela flexibilização de horários e para aumentar a capacidade de pessoas dentro dos lugares. Ao mesmo tempo, sabemos que isso ainda não é muito viável porque a pandemia não terminou", reflete. "Só a vacina não está sendo 100% eficaz para combatermos diretamente a pandemia, então temos que ter calma", diz.

Leão reforça que pede calma para todos e respeito. "Dos clientes e das pessoas que frequentam e transitam pelas ruas para que cumpram o decreto e nos ajudem para que termos harmonia entre os setores privado e público", afirma. O presidente da Abrasel Norte se mostra descontente com situações flagradas. "Alguns frequentadores fazem uma verdadeira arruaça nas ruas com carro de som, bebida e nem são clientes. É literalmente um Carnaval, pois se antes da Pandemia isso já não era permitido, no momento em que vivemos com certeza isso vai totalmente contra o que a Abrasel prega e o Poder Executivo". O empresário destaca ainda que está em consonância com as regras em vigor. "Estamos tentando alinhar forças para nossa entidade juntamente com a Prefeitura, Secretaria de Saúde e Polícia Militar para conter esse tipo de arruaça",

Ministério Público acolheu reclamações

Conforme apuração da reportagem, um procedimento sobre o barulho na rua Paranaguá segue em andamento na 20ª Promotoria de Justiça, por meio de uma solicitação que data de 2019. Procurada pela reportagem, a promotora de Meio Ambiente, Leila Schmidt, não atendeu às solicitações da Folha de Londrina até o fechamento da edição.

Receba nossas notícias direto no seu celular, envie, também, suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1.