O solstício de inverno, inaugurado em mais um dia 21 de junho, é um fenômeno da astronomia que marca a chegada de uma nova estação ao hemisfério sul. Mais do que pontuar a posição do planeta em relação ao sol, esse movimento indica, de acordo com o latim, o ponto onde a trajetória do sol não se desloca. Segundo a tradição Wicca, definida por Gerard Gardner – “Como os seguidores modernos da bruxaria” -, o solstício de inverno celebra o renascimento do Deus, simbolizado pelo Sol, que num novo movimento celeste reaparece depois da noite de escuridão.

Imagem ilustrativa da imagem ESPAÇO ABERTO - Ainda há tempo para falarmos de verdades?
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No Brasil, a tradição Wicca chegou na década de 1990, não tão distante do boom crescente que o movimento adquiriu principalmente nos anos de 1960 na Ásia, Europa e EUA. Nesse país, inclusive, ganhou adeptos do feminismo e dos ecologistas ligado ao movimento de contracultura. Defensores da prática da bruxaria e do misticismo, os Wiccanos defendem preceitos solidários que vão da crença na reencarnação, comemoração aos ciclos da natureza até o respeito absoluto à vida.

Mas, para nós brasileiros, em pleno século XXI, acostumados e adaptados as mais variadas interpretações daquilo que se pretende chamar de modernidade, quais são os verdadeiros valores dedicados à vida? Pensando de modo semelhante aos seguidores do Wicca, existe alguma ideia objetiva a respeito de que se pode fazer tudo desde que não prejudique o próximo?

Essas indagações remetem a questões que vão além do respeito a diversidade religiosa e as diferenças históricas existentes entre elas. Não podemos negar que a presença da bruxaria indica - e como - a chegada do novo. A mesma bruxaria que nos tempos de supremacia do catolicismo na Europa, atribuída propositalmente as inflexões do gênero feminino, parece persistir, secularizada nas suas mais variadas formas, a reencarnação de práticas e rituais voltadas a condenação do uso do menos casual, visando marginalizar a busca por respostas elaboradas em torno de um cenário adverso as mudanças.

Embora o preceito medieval seja utilizado de forma equivocada ao quererem atribuir um sentido atrasado as formas econômicas e políticas quando comparadas as técnicas de produção do mundo contemporâneo, ainda é possível, mesmo séculos depois, voltarmos a discutir a presença do estado de consciência irracional nos dias atuais, apontado pelo historiador Jacques Le Goff no século XX, como um marco ao conhecimento do imaginário medieval.

Apesar dos estudiosos destacarem que o irracionalismo descende de uma justaposição contrária a ideia de racionalidade, é sabido que os seus mecanismos mais constitutivos em sociedade não se limitam apenas a execrar a razão e o conhecimento científico. Existem prerrogativas dedutivas que fazem com que o irracionalismo seja a efetivação de um discurso ético articulado em torno do negacionismo.

Por conta disto, a negação da realidade acabou adquirindo hábitos modernos, novos em relação aos preceitos medievais e, pautados numa esteira relativista em torno de ideias constituídas sem paralelos e/ou critérios embasados por estudos. O exercício de negar tem se revelado numa compreensão escamoteada daqueles que se negam a aceitar a tomada de uma consciência voltada a busca pela verdade. Como se fosse plausível e “inversamente coerente” acreditar no que se pretende definir enquanto verdades.

O maior problema é que a busca pela verdade condicionou a evolução das ciências, o amadurecimento de práticas sanitárias, a evolução de tratamentos médicos e a salvar vidas. A verdade é um exercício que se define pelo estreito limite que se opera com o reconhecimento de estudos e as comprovações apresentadas. Fugir disto seria defender o retorno da invenção de um passado que por si mesmo já fez todos os esforços por garantir as bases teóricas práticas da transformação para um mundo moderno.

Contudo, é importante reconhecermos que a ciência é e sempre será um movimento inacabado. Até porque, nem só de ciência vivem as sociedades. Nem só de estudos científicos repousa a tentativa de dar um sentido equilibrado e justo a humanidade. Como afirmam os seguidores do Wicca, há razões para acreditar que pode haver a existência de consciências universais que se definam pela elaboração de ideias que privilegiem um sentido cada vez mais universal, portanto, mais coletivo e amplo aos seres humanos.

André Alexandre Valentini é professor de História da rede privada de Londrina e Doutorando em História pela Universidade Estadual de Maringá.

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