Imagem ilustrativa da imagem ESPAÇO ABERTO - A morte de Olavo de Carvalho
| Foto: Vivi Zanatta/Folhapress

Ao mesmo tempo que recebi a notícia do falecimento de Olavo de Carvalho, também comecei a receber pessoas me questionando sobre minha opinião sobre ele. Por ser professor de filosofia, meus conhecidos viram na morte do guru uma oportunidade de me perguntarem o que tenho a dizer sobre ele. É disso que trato abaixo, tentando ser sucinto.

Em primeiro lugar, cabe citar o poeta antigo Homero, que dizia que antes da morte de alguém é preciso hesitar para fazer julgamento sobre seu caráter. A mensagem por trás de uma afirmação assim esconde uma tentativa de se escusar da responsabilidade pelo próprio juízo que se afere ao outro e também expõe o otimismo de que em vida uma pessoa sempre pode mudar suas escolhas e viver de outra forma, no entanto, é muito raro que seja esse o caso de grandes personalidades, tal qual, inegavelmente era o caso de Olavo de Carvalho – quer se goste dele ou não.

Em segundo lugar, tenho de revelar sem delongas que já li seis das obras do guru e no passado gostava mais dele do que nos últimos tempos, embora não me considere uma pessoa de direita. O que me excita em Olavo de Carvalho sempre foi sua autonomia de criticar, falar e expor tudo o que pensava sem receio ou medo: uma lição a ser apreendida com ele, ainda que se discorde de tudo que ele dizia, o que não é muito difícil de se acontecer, já que realmente várias de suas falas e escritas são mais para que compremos ele enquanto personalidade e escritor do que suas ideias, pois seu compromisso era mais com a fama que com a verdade. Perceba, por exemplo, que ele vendia junto com sua fala, também, uma imagem de velhinho arrumado, fumante e de fala incisiva, havia no guru uma estética conservadora, embora, dentre os conservadores, talvez tenha sido ele o maior dos revolucionários.

LEIA TAMBÉM:

- Deputados paranaenses falam sobre influência de ‘guru’ bolsonarista

- Bolsonaro decreta de luto oficial por morte de Olavo de Carvalho em rara iniciativa

Além disso, gosto de pensar Olavo de Carvalho como uma espécie de Plínio Salgado. Para quem não sabe, Salgado foi o chefe do movimento integralista, um grupo que gostava de flertar com o fascismo e existiu no Brasil na primeira metade do século XX. Plínio Salgado, assim como Carvalho, era fortemente católico, influenciava massas conservadoras e foi exilado. Olavo não foi exilado, morava na Virginia, creio eu, porque queria ficar longe de problemas e também da zorra que é o Brasil, e nisso estava corretíssimo. Mas também, isso esconde uma contradição, porque expunha um Brasil demasiado elitista e com um ideal exclusivamente católico, o que é um absurdo para um país tão miscigenado tanto na cor quanto na cultura e na religião.

Também é plausível comparar Olavo de Carvalho com Arthur Schopenhauer. Alguns podem querer minha cabeça por falar isso, e aqui tenho pouco espaço para discorrer com mais detalhe, por isso, trato da questão em resumo: Schopenhauer, assim como Olavo de Carvalho, era extremamente crítico das academias, era revoltado com os pensadores e influenciadores do seu tempo e gostava de xingar seus inimigos intelectuais. A diferença basilar dessa comparação é que Schopenhauer tinha méritos para criticar as universidades alemãs: ele obteve seu doutorado em 1818, por outro lado, Olavo de Carvalho nunca sequer formou-se na escola.

O que temos de aprender com a morte do guru que estava mais preocupado com parecer do que com esclarecer é que os próximos intelectuais precisam ser inovadores como ele, no entanto, precisam também ser capazes de popularizar a educação, tornando-a desejável. Do contrário, continuarão a surgir políticos de fora da política (Bolsonaro que era militar; Lula que era operário), e filósofos que não se formaram na academia (Olavo) e aqueles que estão mais preocupados com a aparência do próprio bolso do que com a verdade (Pondé, Karnal, etc.).

A grande questão é que a verdade não é lucrativa. Ela é calma, difícil de entender, leva tempo para digerir e além disso não está nem aí para ninguém, pois continua firme e imponente... diante disso, cabe dizer que a filosofia é uma disputa interminável de argumentos que muitas vezes não levam a nada, o filósofo, em grande parte das vezes, apenas um reprimido que precisa alimentar o seu ego escrevendo sem parar, já a polêmica é o instrumento que o filósofo usa para chamar atenção e fazer crescer o seu bolso, do contrário, se ele fica só falando verdades, ninguém o ouvirá.

Antonio Alves Pereira Junior, professor de filosofia, Maringá.

Os artigos, cartas e comentários publicados não refletem, necessariamente, a opinião da Folha de Londrina, que os reproduz em exercício da sua atividade jornalística e diante da liberdade de expressão e comunicação que lhes são inerentes.
COMO PARTICIPAR| Os artigos devem conter dados do autor e ter no máximo 3.800 caracteres e no mínimo 1.500 caracteres. As cartas devem ter no máximo 700 caracteres e vir acompanhadas de nome completo, RG, endereço, cidade, telefone e profissão ou ocupação.| As opiniões poderão ser resumidas pelo jornal. | ENVIE PARA [email protected]