Imagem ilustrativa da imagem ESPAÇO ABERTO - A crise e o aumento da criminalidade: sobre os linchamentos e a justiça com as próprias mãos
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Nós do ensino fundamental nos preocupamos muito com os efeitos da pandemia. Nesse momento, não tratarei de questões envolvendo a educação. Na verdade, pretendo apresentar algumas reflexões sobre o aumento da violência. Para ser mais específica, falarei sobre justiça (ou a falta dela) a partir de um tema em específico: o linchamento.

De acordo com o livro “Linchamentos: A justiça popular no Brasil”, de José de Souza Martins, nos últimos 60 anos cerca de um milhão de brasileiros já participaram de um linchamento ou tentativa de linchamento no país. Sobre o tema, podemos identificar alguns graves problemas sociais, mas dois deles se destacam: a aversão contra o poder judiciário brasileiro e a vontade da população de se vingar de criminosos.

Crimes de justiça com as próprias mãos são, de acordo com a pesquisadora Ariadne Natal, difíceis de serem investigados pela polícia e por isso comumente são arquivados. Esse arquivamento e a ausência de aplicação de penas aos culpados reforçam a aversão da população contra o poder judiciário e contribuem para com o aumento do número de “justiceiros” no país. Boa parte da população está farta de conviver com injustiças sociais, sendo assim, aumenta-se o desejo de vingança, que viola direitos básicos assegurados pelo artigo quinto da Constituição federal do Brasil, como os direitos à segurança e à vida. Há diversas frases que expressam diferentes tipos de ódio que ouvimos frequentemente, como “Direitos humanos para humanos direitos” ou “Bandido bom é bandido morto”. Essas práticas não devem ser aceitas, pois não cabe a população julgar alguém. Devemos agir de forma inteligente!

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Diferentemente de justiça, vingança apresenta objetivos destrutivos vindos de alguém que foi prejudicado e deseja descontar sua raiva e/ou frustrações em outras pessoas longe dos conformes da lei. Justiça é a qualidade daquilo que está de acordo com o que é direito. O tema é complexo, mas as séries e os quadrinhos da Marvel podem nos ajudar a refletir sobre isso. Por exemplo, podemos associar os termos “justiça” e “vingança” aos personagens fictícios “Demolidor” e o “Justiceiro”.

Embora seu pai tenha sido assassinado, o Demolidor não matava nenhum criminoso, pois sabia que cabe apenas a polícia e ao judiciário prender e punir delinquentes. Em contrapartida, há o Justiceiro, um anti-herói que teve sua esposa e filhos assassinados e que comete crimes semelhantes (ou piores) aos que ele declarou guerra contra. Esse personagem é extremamente aclamado pelo público, embora cometa atos ilegais. “Justiceiro” não é o nome mais apropriado para alguém com essas ações, visto que sua vingança é o oposto de justiça. Quem combate ao crime com outros crimes não se transforma em um criminoso?

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Em vista disso, o poder judiciário brasileiro deve reformular suas estruturas a fim de acelerar seus processos de julgamento. Os poderes de segurança e justiça precisam ser fortes, modernos e efetivos. Somente assim transmitirão maior credibilidade e segurança à população e os crimes como os linchamentos poderão diminuir. Ainda sobre o livro de José de Souza Martins, fica claro que criminalidade, pobreza, miséria e crises andam lado a lado. Podemos não saber todas as soluções para esses problemas, mas de uma coisa podemos ter certeza: violência só gera mais violência.

Karen Yamamoto Brambilla, estudante do 9º ano do Colégio Mãe de Deus, de Londrina

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