Há poucos dias, Londrina se despedia de um cidadão que deixará muita saudade. Tive a oportunidade de realizar a benção no seu velório e perceber o que agora escrevo. Ali, ligeiramente envelhecidos pela inevitabilidade da passagem dos anos, encontrei velhos guerreiros desta cidade, com quem convivo há cerca de três décadas. Pesarosos, não apenas pela morte precoce do Tadeu, mas mormente pelo significado da sua existência para a urbe e para os amigos. De fato, Tadeu não veio nesta vida a passeio!

Foi um guerreiro, no pleno sentido do termo. Encontrei-o pela primeira vez em 1989, quando eu, ainda seminarista recém chegado de Portugal, vislumbrei numa sua luta como presidente da Câmara, a oportunidade de me engajar pela primeira vez, em causas além do seminário. Ficamos amigos.

Logo eu soube da sua atividade estudantil e dedicação à “res-pública”. Teve, como sabemos, um marcante papel nos movimentos acadêmicos ainda no antigo regime, presidindo inclusive o DCE. Jornalista, professor, pró-reitor, vereador, entusiasta pela cidade que o viu nascer. A inovação e a tecnologia o seduziram. Coordenou a Adetec (Associação do Desenvolvimento Tecnológico de Londrina), Incubadora Industrial de Londrina, Núcleo SOFTEX Norte do Paraná, Parque Tecnológico de Londrina).

Idealizou e fundou o Fórum Desenvolve Londrina e a Agência Terra Roxa. Foi ainda diretor de Inovação do Iapar. Nos últimos tempos, ocupou o cargo de chefe de Gabinete da atual administração e em 2021 assumiu a presidência do Ippul, com a responsabilidade de conduzir o debate sobre o Plano Diretor Participativo.

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Londrina disse adeus a um destes homens, que apesar de jovem, representa o pioneirismo do entusiasmo e dedicação à região. Um democrata. Um homem de bem. Um marido e pai dedicado. Um cidadão discreto, mas eficaz! Eis o recado deixado pelas lágrimas contidas, de quem acompanhou o seu velório.

Era patente o murmúrio, dos que lamentavam a perda e sublinhavam a marca que ele deixará para Londrina. Tadeu, pouco ocupava as páginas dos jornais nos últimos anos. Elas andam geralmente saturadas com outras notícias! Oculto a uma cidade que cresceu mais do que o previsto e cuja maioria dos seus filhos usa as vinte e quatro horas do dia para sobreviver, Tadeu dedicava o seu tempo para que o futuro fosse mais promissor a todos.

Distante das pelejas político-partidárias, descobriu como ser um excelente político em sentido pleno, cuidando e zelando pela sua polis! Foi assim que construiu a sua vida longe dos holofotes. Um homem movido a sonhos. Animado com o único desejo de fazer a diferença, asfaltando um caminho por onde o futuro começasse a correr.

Tadeu tinha uma mente altruísta e não simplesmente um coração sensível! Ele pensava o coletivo e gastava as suas energias na elaboração e edificação da sociedade que considerava ideal. Mas era prudente, sensato e convencido que é no diálogo, com forças muitas vezes antagónicas, onde se tecem os projetos efetivamente consolidados e consistentes. Um cidadão que foi adquirindo ainda cedo a sabedoria que deveria caracterizar todos os homens públicos. Os interesses particulares, subjugados ao que se configura melhor para a coisa pública! Esse era o Tadeu!

Londrina precisa registrar em formas inamovíveis e inolvidáveis os que tal argamassa a ajudaram a ser o que é. A história de uma cidade não é um detalhe, passível de ser ou não mencionado! Nas escolas, nas ruas, nos órgãos públicos, nas conversas informais que seja, Londrina deve falar de si mesma e dos que foram a sua alma ao longo dos seus oitenta e oito anos. Pessoas como o Tadeu, continuam bem vivas, longe dos museus ou quiçá de monumentos! É assim que eu o vejo, ao contemplar a cidade que o viu partir!

Padre Manuel Joaquim R. dos Santos, Arquidiocese de Londrina

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