Escolas brasileiras e a adequação às novas realidades
É importante que os agentes do setor se atentem às novas ferramentas e as utilizem para criar uma boa grade curricular
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 25 de outubro de 2024
É importante que os agentes do setor se atentem às novas ferramentas e as utilizem para criar uma boa grade curricular
Maria Xavier
De acordo com dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2023, divulgados recentemente pelo Ministério da Educação (MEC), o Brasil registrou uma ligeira melhora na qualidade da educação básica, mas ainda se mantém distante das metas para os anos finais do ensino fundamental e ensino médio. Esse cenário é resultado, principalmente, da falta de investimentos contínuos no setor, políticas educacionais mais efetivas, desigualdades regionais e das diversas transformações que ocorreram nos últimos anos na sociedade e mudaram a forma como as pessoas se relacionam com os estudos.
Como aponta um relatório da consultoria Gartner, o avanço das novas tecnologias também está moldando o futuro da educação, e é importante que os agentes do setor se atentem a essas ferramentas e as utilizem para criar uma boa grade curricular, identificando as tecnologias que precisam ser incluídas nos programas de ensino.
No ensino público, por exemplo, o Governo Federal criou, em setembro de 2023, a Estratégia Nacional Escolas Conectadas, com a promessa de universalizar o acesso à internet nas 138,3 mil escolas públicas brasileiras até 2026. Todos os estados e o Distrito Federal ingressaram no programa, mas algumas cidades ainda estão fora: até janeiro de 2024, 92,15% dos municípios haviam aderido – o prazo para que os gestores adotassem a iniciativa havia se encerrado no mês anterior.
O fato é que, muitas vezes, as escolas estão conectadas, mas o uso dos computadores se restringe ao pessoal administrativo, não chegando ao professor nem ao aluno. Além disso, muitos docentes ainda não têm o preparo necessário para lidar com o novo componente curricular.
O ensino pós-pandemia
Após a pandemia, houve um crescimento do Ensino à Distância, visto que era a única forma dos estudantes continuarem suas jornadas de aprendizado. Com o passar dos anos, esse modelo foi se estabelecendo cada vez mais. Segundo informações do Censo da Educação Superior, em 2022, o número de ingressantes no ensino superior na modalidade EaD foi o dobro daqueles na modalidade presencial.
Porém, mesmo com a sua popularização, há dúvidas se a forma como a modalidade está sendo oferecida e praticada atualmente pelas instituições de ensino é realmente efetiva. Prova disso foi o anúncio do MEC, em junho deste ano, de que estava suspendendo até março de 2025 a criação de novos cursos de graduação na modalidade de Ensino a Distância. Essa decisão faz parte do processo de revisão do marco regulatório do EaD, cujo objetivo é assegurar a sustentabilidade e qualidade dos cursos de graduação ofertados neste modelo.
Mesmo em meio a essas incertezas, não podemos esquecer do seu papel fundamental para levar o acesso ao ensino a pessoas que não conseguiriam estudar de outra forma, seja pela localização geográfica, disponibilidade de tempo ou renda (visto que os cursos por ensino à distância tendem a ser mais acessíveis do que os tradicionais, além de eliminarem os gastos com transporte e alimentação fora de casa).
Nesse sentido, a grande dúvida atual é como as escolas brasileiras podem adequar o ensino a essas novas realidades. Para isso, precisam integrar tecnologias educacionais, capacitando também os professores para que saibam utilizá-las, e analisar as competências que serão mais demandadas no mercado de trabalho, aproveitando essas informações para guiar a formação docente e adequar os currículos para garantir que os alunos adquiram esses conhecimentos essenciais.
Além disso, pensando que estamos na era da personalização com o uso de dados, toda a estratégia de ensino pode ser repensada e adaptada para atender às necessidades específicas dos alunos e monitorar seu progresso.
Por fim, também precisamos cobrar do governo e das empresas por mais investimentos na área e a criação de projetos focados em combater os desafios relacionados a desigualdade social, que impedem as populações mais vulneráveis de ter acesso a uma educação de qualidade – que, vale ressaltar, é a base principal para o desenvolvimento de uma sociedade sustentável, igualitária e feliz.
Por Maria Xavier, gestora de educação com especialização em Tecnologias Aplicadas à Educação pelo Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro