EDITORIAL - Perdas e ganhos na Cultura em tempo de transição
Nossos artistas, ao saírem de cena, deixam à mostra a importância da cultura não só como lazer, mas como elemento transformador de vidas
PUBLICAÇÃO
sábado, 12 de novembro de 2022
Nossos artistas, ao saírem de cena, deixam à mostra a importância da cultura não só como lazer, mas como elemento transformador de vidas
Folha de Londrina
Ultimamente, o Brasil tem chorado a perda de seus artistas. Esta semana, de forma súbita, Gal Costa faleceu.
Com ela se vai não apenas uma carreira, mas uma era que nos remete a grandes momentos da MPB - Música Popular Brasileira. Gal começou a brilhar nos anos 1970 e representou para muitas mulheres a liberdade de expressão, usando como principal veículo uma voz incomparável. Não era só uma cantora, era um símbolo, com seus trinados que lhe valeram a definição de "voz de cristal." Ela sai de cena como uma das maiores cantoras do País e isso não é pouco.
O Brasil também perdeu o apresentador, cantor e compositor Rolando Boldrin que com o programa "Senhor Brasil", na TV Cultura, devolveu ao País a acuidade para a música caipira, a de raiz, valorizando composições como "Chico Mineiro", Cabocla Tereza" ou "Beijinho Doce", todas de um lirismo que parecia perdido no tempo, mas que foi resgatado para novas gerações através de Boldrin.
Também vimos a partida do ator Roberto Guilherme, o Sargento Pincel, personagem do programa "Os Trapalhões" que nos deu tanta alegria e aquela dose de otimismo necessária no cotidiano.
As perdas nos remetem à importância que os artistas têm em nossas vidas e à dimensão que a cultura e a arte assumem no cotidiano onde há lugar para o lazer e o conhecimento, porque a cultura é principalmente conhecimento.
No momento, a ideia do País voltar a ter um Ministério da Cultura é um dos alentos que reforçam a importância dos artistas, com o segmento sendo tratado com a dignidade merecida e os investimentos que podem ajudar a transformar pessoas comuns em grandes criadores. Como tudo, aquilo que se planta é o que se colhe!
Gal Costa era apenas mais uma menina baiana até se tornar a cantora que encantou o País num momento fecundo da MPB. Rolando Boldrin, nascido em São João da Barra (SP), tocava viola desde criança, e numa cidade voltada à cultura caipira bebeu o conhecimento que fez com que brasileiros, de todas as regiões, vissem em seu programa um 'senhor Brasil' com lentes de aumento, consagrando a cultura da roça como um patrimônio. Quanto ao Sargento Pincel, de Roberto Guilherme, nem é preciso falar da importância do humor no dia a dia em que carregamos as nossas preocupações. Afinal, é preciso algum otimismo que vem de uma dose reforçada de alegria.
Nossos artistas, ao saírem de cena, deixam à mostra a importância da cultura não só como lazer, mas como elemento transformador de vidas. Arte é coisa que o Brasil tem de sobra, com um sentido estético "tipo exportação", nada mais justo do que tratar nossos criadores com o respeito que merecem, devolvendo à Cultura sua relevância política e social. Esse é o desejo dos que ficam e de cada um que se foi.
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