Em reportagem no último fim de semana, a FOLHA mostrou que brasileiros mais abastados que ainda não fazem parte de grupos prioritários para vacinação contra a Covid-19 estão embarcando para os Estados Unidos em uma espécie de "turismo da vacina". A esperança da imunização está em uma espécie de "unir o útil ao agradável" e o aeroporto internacional virou a forma como os "idosos" da casa dos 30 aos 50 anos e seus filhos estão driblando a lentidão do processo de vacinação no Brasil.

Após a cidade de Nova York, nos Estados Unidos, ter liberado a vacinação de turistas, agências de viagem se movimentaram para levar brasileiros para lá. O pacote é dividido em duas etapas. Na primeira, a pessoa viaja para um país que tenha as fronteiras abertas para viajantes do Brasil, como algumas ilhas do Caribe e países da América do Norte.

O paradisíaco México tem sido o destino mais procurado. Ali, é preciso cumprir uma quarentena de 15 dias, antes de seguir para os Estados Unidos. Na hora de embarcar, um teste negativo de Covid-19, realizado até três dias antes, é exigido e, após a chegada, os turistas devem fazer um novo teste e ficar entre três e cinco dias isolados.

A vacina preferida dos turistas é a da Johnson & Johnson. Aplicada em apenas uma dose, é oferecida gratuitamente em centros de vacinação móvel instalados em vans, que ficam estacionadas em pontos turísticos como o Empire State Building, Times Square, Brooklyn Bridge, Central Park e High Line. Há também incentivos para quem se imunizar, como ingressos para atrações, jogos de beisebol e museus.

Nos Estados Unidos, país que se preparou produzindo e comprando imunizantes no ano passado e traçando um esquema logístico realmente eficiente de vacinação, as doses estão sobrando. Assim, a prefeitura de Nova York encontrou no fornecimento do excedente do produto aos turistas uma forma de reaquecer o turismo da "cidade que nunca dorme".

Além de Nova York, é possível se vacinar sem a necessidade de comprovar residência em outros estados americanos, como Arizona, Louisiana, Texas, Alabama, Califórnia, Colorado, Indiana, Iowa, Michigan, Nevada, Novo México, Ohio, Carolina do Sul, Tennessee, Virgínia e Flórida. O pacote México + EUA pode sair entre R$ 15 mil e R$ 50 mil por passageiro.

Não poderia ser diferente: o turismo da vacina nos Estados Unidos provoca novo debate ético sobre a desigualdade na pandemia. Epidemiologistas e cientistas sociais vêm criticando a prática, lembrando que o governo americano poderia usar o excedente para doar a países que ainda não vacinaram nem mesmo seus idosos e profissionais de saúde. Outra crítica é que a atitude enfraquece a ideia de que vencer a Covid-19 é uma guerra coletiva e não individual.

A vacina é um direito de todos e por isso não deveria ser um privilégio de países mais ricos ou uma "jogada" para reaquecer o turismo. Nessa altura da pandemia, se está sobrando imunizante em um lugar, está faltando em outro.

Obrigado por ler a FOLHA!

Receba nossas notícias direto no seu celular! Envie também suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1