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Talibã ameaça EUA caso prazo para retirada de tropas seja estendido

O ultimato ocorre em meio à operação ocidental de retirada de cidadãos e aliados afegãos por meio do aeroporto de Cabul

ATUALIZAÇÃO
23 de agosto de 2021

Igor Gielow - Folhapress
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São Paulo - O Talibã afirmou que não permitirá a extensão do prazo para a retirada de forças ocidentais do Afeganistão, marcado para o próximo dia 31. "É uma linha vermelha", disse o porta-voz Suhail Shaheen. "Se os EUA ou o Reino Unido buscarem tempo extra para continuar a evacuação, a resposta é não. Ou haverá consequências. Se eles pretendem continuar a ocupação, isso vai provocar uma reação", escreveu ele no Twitter.

O Talibã derrubou o governo de Ashraf Ghani no dia 15, após uma campanha militar avassaladora de duas semanas
 

O ultimato ocorre em meio à desesperada operação ocidental de retirada de cidadãos e aliados afegãos por meio do aeroporto de Cabul, local onde EUA e outros países mantêm hoje sua derradeira presença diplomática no país. O Talibã derrubou o governo de Ashraf Ghani no dia 15, após uma campanha militar avassaladora de duas semanas.

O grupo havia sido expulso do poder em 2001 pelos EUA, que atacaram o Afeganistão por ter dado abrigo à rede Al Qaeda quando os terroristas planejaram e executaram os atentado do 11 de Setembro. Desde então, há uma corrida para sair do país de ocidentais e civis temerosos da volta o regime medieval do Talibã, que governou com crueldade de 1996 até 2001 e agora promete agir com moderação, embora poucos acreditem. Já foram evacuadas 37 mil pessoas, segundo os EUA.

Mas a confusão continua, ainda que não tenham ocorrido mais cenas como a invasão da pista do aeroporto, com afegãos caindo para a morte após terem se agarrado a um cargueiro americano em decolagem.

Nesta segunda (23), ao menos um militar afegão trabalhando com os ocidentais foi morto em um tiroteio com pessoas não identificadas, elevando para 21 o número dos que perderam a vida na operação de evacuação - muitos foram esmagados nas filas intermináveis em torno do aeroporto.

O prazo de 31 de agosto foi definido pelo presidente americano, Joe Biden, e foi o gatilho para a ofensiva do Talibã. Quando ela começou, mais de 95% das tropas dos EUA já haviam deixado o país. Com a crise da evacuação, cerca de 6.000 militares foram enviados por Washington para tentar controlar o caos.

Outros países, como Reino Unido, Alemanha e França, também enviaram homens. Os números de pessoas ainda a serem evacuadas, em especial afegãos que trabalhavam com os ocidentais e temem retaliação do Talibã, é incerto.

Por isso, o governo britânico deverá sugerir ao americano a extensão do prazo, segundo relatos da imprensa britânica. O primeiro-ministro Boris Johnson pretende levar a ideia a Biden na reunião virtual do G7 nesta terça (24). Isso levou à reação do Talibã.

No domingo (22), Biden dissera que as tropas poderiam ficar mais do que o prazo se fosse necessário. "Deixe-me ser claro. A evacuação de milhares de Cabul será dura e dolorosa. Nós temos um longo caminho e muita coisa pode dar errado", afirmou.

É uma modulação de discurso ante após a humilhação da volta do Talibã ao poder e as cenas caóticas que se seguiram. Amparado no fastio do americano com os 20 anos de guerra, que custaram US$ 2,3 trilhões e 170 mil vidas (a maioria de afegãos), segundo estudo da Universidade Brown, o presidente anunciou em abril que cumpriria o acordo de paz costurado pelo antecessor, Donald Trump, com os talebans.

Só que houve um enorme erro de inteligência no caminho, dado que o governo americano se disse surpreendido pela velocidade da queda das forças de Ghani. O "momento Saigon", em referência à fuga da capital sul-vietnamita quando os comunistas a tomaram em 1975, chegou para Biden.

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