Lula classifica união da oposição a Maduro de ‘extraordinária’
Apesar da declaração, o presidente evitou dar sequência à escalada nas críticas ao ditador da venezuela
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 23 de abril de 2024
Apesar da declaração, o presidente evitou dar sequência à escalada nas críticas ao ditador da venezuela
Cátia Seabra, Marianna Holanda e Renato Machado - Folhapress
Brasília - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) manifestou otimismo com as próximas eleições presidenciais na Venezuela, apesar da série de restrições contra candidatos opositores promovidas pelo regime de Nicolás Maduro. Lula ainda considerou "extraordinária" a movimentação da oposição, que pretende lançar uma candidatura única para o pleito.
As declarações foram dadas durante café da manhã do presidente com os jornalistas que cobrem o dia a dia da Presidência da República, no Palácio do Planalto.
Após o Conselho Nacional Eleitoral venezuelano, aparelhado pelo chavismo, barrar dois nomes da oposição, um na Justiça e outro no registro da candidatura, o diplomata Edmundo González Urrutia aceitou, no domingo (21), ser o representante da maior plataforma da oposição para disputar contra o ditador Nicolás Maduro nas eleições previstas para 28 de julho.
"A questão da Venezuela, está acontecendo uma coisa extraordinária: a oposição toda se reuniu, está lançando candidato único. Vai ter eleições. Acho que vai ter acompanhamento internacional sobre as eleições, há interesse de muita gente em acompanhar. E, se o Brasil for convidado, participará do acompanhamento das eleições", afirmou o presidente.
Embora tenha acenado à movimentação da oposição venezuelana, o presidente evitou dar sequência à escalada nas críticas ao ditador Nicolás Maduro, que havia começado no mês passado.
No final do mês passado, o governo mudou de tom e contestou, pela primeira vez, o bloqueio à candidatura da opositora Corina Yoris, nome escolhido pela principal força de oposição contra o chavismo nas eleições de julho na Venezuela.
Em nota, o Itamaraty disse que "acompanha com expectativa e preocupação o desenrolar do processo eleitoral" no país, marcando uma inflexão na posição até então adotada por Lula em relação a Maduro, de preservar o aliado sul-americano.
Na semana seguinte, Lula chamou de grave o veto à candidatura e afirmou que não há justificativa política ou jurídica para se proibir um adversário de disputar eleições.
A fala enviou sinal de que o Planalto endossou a repreensão ao regime chavista, algo considerado importante por diplomatas brasileiros uma vez que a resposta de Caracas, em tom agressivo, sugeriu uma divisão de opiniões entre a chancelaria e o chefe do Executivo.
Desde o desenrolar do episódio envolvendo as candidaturas, os Estados Unidos retomaram as sanções ao setor energético venezuelano, que estavam suspensas por seis meses após o diálogo entre o regime de Maduro e a oposição, conhecido como Acordo de Barbados.
Lula afirmou esperar que as eleições aconteçam dentro da normalidade e o resultado das urnas seja aceito pelas partes. Nos bastidores, integrantes do governo e diplomatas manifestam preocupação com o pós-eleições, com a possibilidade de uma ruptura democrática.
"[Estamos] na perspectiva de que quando terminar as pessoas voltem à normalidade. Ou seja, quem ganhou toma posse e governa e quem perdeu se prepara para as outras eleições, como eu me preparei depois de três derrotas aqui no Brasil", afirmou.
"Eu fico torcendo para que a Venezuela volte à normalidade, para que os Estados Unidos tirem as sanções e que a Venezuela possa voltar a receber de volta o povo que está deixando a Venezuela por conta da situação econômica", declarou.
Lula também disse que ainda não teve a oportunidade de ler a carta endereçada a ele pelo presidente da Argentina, Javier Milei. O documento foi entregue há uma semana pela chanceler do país vizinho, Diana Mondino, que estava em viagem oficial a Brasília.
Ela se encontrou e repassou a carta ao ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Lula, no entanto, justificou que seu chanceler esteve em algumas missões oficiais e por isso ainda não o encontrou para pegar o documento.
"A única coisa que posso adiantar é que depois que eu ler [a carta] eu tenho interesse que a imprensa saiba o que o presidente da Argentina quer conversar com o Brasil", afirmou.
O presidente também disse que pretende realizar uma reunião entre "presidentes democratas" para discutir como enfrentar o crescimento da ultradireita. Participariam líderes como o francês Emmanuel Macron e o premiê espanhol Pedro Sanchez.