São Paulo - O premiê britânico, Rishi Sunak, admitiu nesta quarta-feira (11) que usou a rede privada de saúde do Reino Unido no passado, mas afirmou estar registrado em um centro de saúde do NHS (Serviço Nacional de Saúde), sistema público semelhante ao SUS brasileiro.

A declaração acontece durante uma onda de greves no Reino Unido que se estende há sete meses, ainda que alguns intervalos – nesta quarta, equipes de ambulâncias, motoristas e paramédicos estavam paralisados.

Os trabalhadores pedem reajustes nos salários, defasados em relação à inflação, que chegou a 11,1% em outubro do ano passado, a maior em 41 anos. As paralisações deixaram o sistema de saúde à beira do colapso no final de 2022.

O jornal “Guardian” já havia revelado que o premiê tinha registro em uma clínica particular de Londres cujas consultas custavam £ 250 (R$ 1.600). Sunak, porém, ainda não tinha comentado o assunto publicamente.

Ele confirmou o uso da rede privada ao responder a um questionamento da parlamentar da oposição, a trabalhista Cat Smith, durante a primeira sessão do ano no Parlamento britânico. Após descrever a suposta ausência de dentistas no sistema público de duas cidades inglesas, Smith perguntou por quanto tempo o premiê esperou para ter a sua última consulta.

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"Sou registrado com um médico do NHS. Eu usei o sistema de saúde privado no passado e sou grato ao hospital de Friarage pelo fantástico cuidado que deram à minha família ao longo dos anos. A verdade é que tenho orgulho de vir de uma família do NHS", afirmou Sunak, que é filho de um médico do sistema público e de uma farmacêutica e dono de uma fortuna pessoal superior a de membros da família real.

Em um post no Twitter, a parlamentar afirmou que Sunak se esquivou da pergunta ao mencionar o registro com um médico do NHS. "Algo que a maioria de nós faz quando nasce e usa por toda a vida", disse.

Durante a sessão, o premiê afirmou que a greve é “aterrorizante para os pacientes que precisam de atendimentos urgentes”. "O assustador é que agora as pessoas não sabem se, quando ligarem para o 999, receberão o tratamento de que precisam", disse Sunak aos parlamentares, referindo-se ao número de emergência do NHS.

A primeira greve da categoria ocorreu em dezembro, e outros atos estão planejados até o fim do mês.

Na segunda-feira (9), Sunak se reuniu com sindicatos do Transporte, da Saúde e da Educação para tentar encontrar uma saída, mas não conseguiu avanços concretos. Na terça-feira (10), então, apresentou um projeto de lei para decretar "serviços mínimos" em setores essenciais.

"Obrigar os trabalhadores a trabalhar contra a sua vontade é um escândalo", afirmou Mick Lynch, porta-voz do sindicato ferroviário RMT. O governo britânico, diz ele, aposta no fracasso das negociações com os sindicatos para prolongar as greves e empobrecer os trabalhadores.

Aos parlamentares, o ministro da Saúde, Steve Barclay, disse que as greves são “lamentáveis” e afirmou estar preocupado com o impacto na segurança dos pacientes.

O líder do Partido Trabalhista, Keir Starmer, criticou o governo durante a sessão e o acusou de não negociar com os trabalhadores. "Nos 13 anos do último governo trabalhista, não houve nenhuma greve nacional do NHS", afirmou. "Se o premiê tivesse negociado com os enfermeiros antes do Natal, eles não estariam em greve. Se tivesse negociado com os socorristas, eles também não estariam em greve. Por que está escolhendo prolongar a miséria em vez de encerrar as paralisações?"

Sunak insistiu que deseja um "diálogo construtivo" com os sindicatos, mas afirmou que os acordos salariais podem aumentar a inflação. "Ninguém está negando a liberdade de greve dos sindicatos, mas também é importante equilibrá-la com o direito das pessoas de terem acesso a serviços essenciais."

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