Guarulhos, SP - Após anos de reiteradas solicitações de lideranças do Canadá, o papa Francisco realizou nesta segunda (25) um pedido de desculpas aos povos indígenas do país pelo papel da igreja na manutenção de internatos onde foram registrados casos de violência contra crianças.

Francisco foi recebido por uma plateia repleta de representantes indígenas na província de Alberta
Francisco foi recebido por uma plateia repleta de representantes indígenas na província de Alberta | Foto: Patrick T. Fallon/AFP

O líder da Igreja Católica pediu perdão e disse estar envergonhado. "Sabemos como a política de assimilação, que incluía essas escolas, foi nefasta", afirmou Francisco a uma plateia repleta de representantes indígenas na província de Alberta. Por mais de uma vez, foi aplaudido.

O argentino teceu críticas à colonização. "Quando os colonos aqui chegaram, houve a oportunidade de um encontro frutífero, mas isso não foi o que sucedeu. Línguas e culturas indígenas foram suprimidas; crianças foram expostas a abusos físicos, verbais, psicológicos e espirituais."

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O pontífice já havia formalizado o pedido de desculpas em abril deste ano, mas à distância. Agora, a despeito de problemas de saúde, ele foi ao país para uma visita oficial que deve durar seis dias.

As instituições foram projetadas para apagar a cultura indígena e separaram à força ao menos 150 mil crianças de suas famílias para assimilá-las aos costumes ocidentais de 1880 a 1990. A Comissão Nacional criada para investigar o caso o descreveu como genocídio cultural.

O caso ganhou projeção quando, no ano passado, uma vala comum com 215 corpos de crianças foi encontrada na província da Colúmbia Britânica. Tratava-se da Escola Residencial Kamloops, que funcionou de 1890 até os anos 1970, sob o comando da igreja e do governo.

O governo do Canadá pediu desculpas às comunidades indígenas há 14 anos por essa prática e pagou bilhões de dólares em indenizações a ex-alunos. A igreja administrava de 60% a 70% das 130 instituições por meio de contratos com o governo. Durante anos, porém, o Vaticano silenciou sobre a reivindicação de um pedido de desculpas.

Francisco também pediu desculpas por isso. "Muitos cristãos adotaram uma mentalidade colonialista das potências que oprimiram os povos indígenas; peço perdão pelo modo com que membros da igreja cooperaram, com indiferença, com esse projeto de destruição cultural."

E seguiu: "Sei que as desculpas não são um ponto de chegada, mas sim o primeiro passo do ponto de partida que nunca será suficiente; serão poucas as ações para criar uma cultura capaz de evitar que essas situações não se repitam e não encontrem mais espaço na sociedade".

O ativista indígena Phil Fontaine, 77, que dirigiu a Assembleia das Primeiras Nações do Canadá, disse que a ação de Francisco ajuda a varrer dúvidas sobre a igreja. "Para que as coisas voltem a funcionar, temos de ser capazes de perdoar", afirmou ao jornal “The New York Times”. "E isso significa fazer as pazes com a igreja."

Fontaine foi um dos primeiros líderes indígenas a relatar publicamente o abuso que sofreu em escolas católicas quando criança. Há 32 anos, ele concedeu uma entrevista à rede CBC na qual contou as violências, incentivando outros indígenas a relatarem o que haviam sofrido.

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