Autor de 11 livros que tratam de temas jurídicos, o advogado e professor universitário André Trindade faz sua estreia no segmento literário com o romance policial “O Segredo de Francisco”. Lançada pela editora londrinense Thoth, a obra se baseia em fatos reais sobre o Vaticano que foram usados pelo escritor para mostrar o peso que a tradição de dogmas religiosos exerce em uma sociedade em constante mutação. Segredos da Igreja Católica fazem parte do roteiro que narra uma história de amor nascida no meio de perseguições e mortes. Trazendo um retrato humanizado do Papa Francisco como um dos personagens centrais, a trama é um convite para que o leitor desvende qual seria a ligação entre um jovem professor e a morte do Arcebispo da Argentina.

Livro aborda fatos históricos e lendas relacionadas ao Vaticano, tratando inclusive da existência de uma papisa que se vestiu de homem para entrar num mosteiro  e ficou conhecida como João, o Inglês
Livro aborda fatos históricos e lendas relacionadas ao Vaticano, tratando inclusive da existência de uma papisa que se vestiu de homem para entrar num mosteiro e ficou conhecida como João, o Inglês | Foto: iStock

Nascido na cidade de Sertão - no interior do Rio Grande do Sul - e radicado em Londrina há 15 anos, Trindade comenta como surgiu a inspiração para escrever o livro. “Foi a ideia de trazer à luz a história da Igreja Católica e muitos dos seus rituais. Fatos que poucos conhecem”, diz. Entre as curiosidades publicadas por ele no livro está o resgate da lenda criada em torno da Papisa Joana.

O escritor enfatiza que trata-se de uma história muito interessante que acabou se tornando uma lenda sobre um período em que a Igreja Católica foi comandada por uma mulher. “Tem até um filme que se chama Papisa Joana e que conta a trajetória de uma menina alemã de família humilde que aprendeu a ler escondida da família pois na época, cerca de 850 d.C., as mulheres eram proibidas de estudar. Ela torna-se muito culta e passa a se vestir de homem para conseguir entrar em um mosteiro quando se muda para Roma e fica conhecida como "João, o Inglês." Torna-se muito próxima do Papa da época [Leão IV], a quem oferece cuidados médicos, e com a morte dele acaba sendo eleita para ocupar o seu lugar. Neste período acaba se apaixonando por um monge e tem um fim trágico, pois acaba dando à luz durante uma procissão e em seguida é apedrejada pela multidão”.

Trindade resgata a história da Papisa Joana para levantar o debate em torno da restrição imposta pela Igreja Católica que há até pouco tempo não permitia a participação de mulheres em sua gestão. “Embora não exista nada nos ensinamentos de Jesus orientando algo nesse sentido, a Igreja Católica usa como exemplo o fato de apenas 12 discípulos homens terem sido convidados para a Grande Ceia para aceitar a ordenação apenas para homens. Até pouco tempo atrás não havia mulheres atuando na gestão do Vaticano. Isso começou a mudar recentemente, quando o Papa Francisco nomeou uma mulher para um cargo até então ocupado apenas para homens”, aponta o escritor ao citar a nomeação da freira francesa Nathalie Becquart, que em fevereiro desse ano assumiu o posto de subsecretária do Sínodo dos Bispos.

Outro fato polêmico abordado no livro é o envolvimento do Vaticano com a Máfia. “A relação entre igreja e a máfia fica na esfera da ficção, mas com certeza vai gerar polêmica. Lembrando que o Vaticano é um país e a movimentação financeira do Banco do Vaticano passou a ser investigada nos últimos anos. Aproveito esse fato para falar sobre a criação da máfia e sua aproximação com instituições políticas e religiosas. Conheci de perto a história da máfia quando morei na Itália, em 2001, e estudei com o promotor responsável pela Operação Mãos Limpas”, comenta ao revelar que também utilizou outras fontes de pesquisa durante a produção do livro, como sites, livros da igreja e o Vaticano News (portal de notícias oficiais do Vaticano).

André Trindade lança o livro "O Segredo de Francisco", seu primeiro romance
André Trindade lança o livro "O Segredo de Francisco", seu primeiro romance | Foto: Divulgação

O autor avalia que sob o comando do Papa Francisco a Igreja Católica está passando por um período maior de abertura. “Logo que assumiu o comando ele comentou que a gestão do Banco do Vaticano deve ser transparente. Além de nomear mulheres para cargos importantes dentro da igreja, ele tem se mostrado flexível em relação a vários outros dogmas. É necessário que isso aconteça para atualizar a posição da igreja sobre questões atuais da sociedade. O Papa Francisco tem conseguido aproximar a igreja do povo sem abrir mão de alicerces básicos, trazendo um olhar mais humanizado”, avalia.

Episódios reais da trajetória do Papa Francisco também são retratados pelo autor no livro. "Apesar de ser um dos maiores líderes espirituais da história, ele também é um ser humano com sentimentos e família. A história do Francisco é muito rica e interessante. Entre a infância em Buenos Aires e o papado muitos fatos chamam a atenção de sua trajetória como, por exemplo, a história de que ele tinha uma namorada antes de entrar para a igreja e que só resolveu ser ordenado porque ela se recusou a se casar com ele”, relata.

Apreciador da obra dos escritores americanos Dan Brown (autor do Código da Vinci) e John Grisham (que atuava como advogado antes de se tornar escritor de sucesso com mais de 300 milhões de livros vendidos), Trindade comenta que sua entrada no universo da literatura é um caminho sem volta. “A linguajem jurídica é muito técnica. A literatura é uma forma de criar e visualizar um mundo paralelo, fora do nosso contexto. Através dela abrimos nossa visão e nossos horizontes. Ela é essencial para fomentar a criatividade. Gostei da experiência de escrever um romance e já estou fomentando ideias para o meu próximo livro”, revela.

Serviço:

Livro “O Segredo de Francisco”, de André Trindade

Editora Thoth

224 páginas

À venda no site da Editora Thoth