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Nobel de Medicina vai para descoberta de receptores sensoriais

Americanos elucidaram os mecanismos que permitem que o sistema nervoso capte estímulos de toque na pele

ATUALIZAÇÃO
04 de outubro de 2021

Reinaldo José Lopes - Folhapress
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São Carlos - O americano David Julius, 65, e o libanês de origem armênia Ardem Patapoutian, 54, que é naturalizado americano, são os ganhadores do Prêmio Nobel em Fisiologia ou Medicina de 2021. Trabalhando de forma independente em instituições nos EUA, os dois elucidaram os mecanismos que permitem que o sistema nervoso capte estímulos de temperatura e toque na pele. Julius trabalha na Universidade da Califórnia em San Francisco, enquanto Patapoutian, trabalha no Scripps Research, também na Califórnia.

David Julius e Ardem Patapoutian chegaram à conquista trabalhando de forma independente em instituições nos EUA
 

Para chegar às descobertas premiadas agora pelo comitê do Nobel, Julius contou com uma ajuda culinária. Ele começou estudando os efeitos da capsaicina, substância presente na pimenta-malagueta e outros tipos de pimenta muito picantes. A ideia é que a sensação de forte calor trazida pela capsaicina quando consumimos essas pimentas poderia ajudar a entender a sensibilidade das células nervosas à temperatura.

Seguindo esse raciocínio, o pesquisador americano conseguiu identificar o receptor, ou seja, a fechadura química das células onde as moléculas de capsaicina se conectam e produzem o efeito de "calor". Estudos posteriores mostraram que receptores semelhantes são responsáveis pela gradação das sensações de calor.

Patapoutian usou métodos similares, por um processo de tentativa e erro e "desligamento" de genes, para identificar os receptores das células nervosas ligados à sensação de toque. Os pesquisadores vão dividir o prêmio de 10 milhões de coroas suecas (ou cerca de US$ 1,15 milhão). Já autoindicações não são aceitas.

HISTÓRICO

Em 2020, o Nobel de Medicina foi dividido por três pesquisadores pela descoberta do vírus da hepatite C. O americano Harvey Alter, dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA (NIH), o britânico Michael Houghton, da Universidade de Alberta, e também o americano Charles Rice, da Universidade Rockefeller, foram os laureados.

Por causa da pandemia, em 2020, a medalha e o diploma de premiação foram enviados para a casa dos laureados, o que se repetirá neste ano. Há ainda a possibilidade de um presencial Dia do Nobel, em 10 de dezembro, com a premiação do Nobel da Paz - anunciada antes, porém. A decisão será tomada em meados de outubro.

Já em 2019, William G. Kaelin, da Universidade Harvard, Peter J. Ratcliffe, da Universidade de Oxford, e Gregg L. Semenza, da Universidade Johns Hopkins, foram os premiados por pesquisas sobre como as células percebem e alteram o comportamento de acordo com a disponibilidade de oxigênio.

Em 2018, foi a vez de James P. Allison e de Tasuku Honjo serem laureados pelas descobertas ligadas à imunoterapia, ou seja, ao combate do câncer com drogas que potencializam a função do sistema imunológico.

Entre as descobertas premiadas no passado estão as da estrutura do DNA por James Watson, Francis Crick e Maurice Wilkins (1962), a da penicilina por Fleming e outros (1945), a do ciclo do ácido cítrico por Hans Krebs (1953) e a da estrutura do sistema nervoso por Camillo Golgi e Santiago Ramón y Cajal (1906).

Outras descobertas notáveis premiadas pelo Nobel de Medicina ou Fisiologia são a da insulina (1932), da relação entre HPV e câncer (2008), a da fertilização in vitro (2010), a de que existem grupos sanguíneos (1930) e a de como agem os hormônios (1971).

A única pessoa nascida no Brasil que recebeu um Nobel foi o britânico Peter Medawar, pela descoberta das bases da tolerância imunológica adquirida, ou seja, a capacidade de fazer o sistema imunológico de um organismo não reagir a certos fatores.

"É meu desejo que, ao atribuir os prêmios, nenhuma consideração seja dada à nacionalidade, mas que o prêmio seja concedido à pessoa mais digna, sejam ou não escandinavos", diz o testamento de Alfred Nobel.

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