São Paulo - A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, fez de seu primeiro discurso no Parlamento nesta terça (25) um espaço para negar vínculos com o fascismo - a despeito da origem histórica de seu próprio partido e das posições por vezes extremas dos líderes da coalizão de ultradireita que a levou à chefiar o governo.

"Nunca senti qualquer simpatia ou proximidade com regimes antidemocráticos. Por nenhum regime, incluindo o fascismo", discursou Meloni
"Nunca senti qualquer simpatia ou proximidade com regimes antidemocráticos. Por nenhum regime, incluindo o fascismo", discursou Meloni | Foto: Filippo Monteforte/AFP

"Nunca senti qualquer simpatia ou proximidade com regimes antidemocráticos. Por nenhum regime, incluindo o fascismo", disse Meloni, acrescentando que considera as leis antissemitas implementadas pelo ditador Benito Mussolini no fim dos anos 1930 "o ponto mais baixo da história italiana, uma vergonha que manchará nosso povo para sempre".

A frase de Meloni tem um quê de contraditória: ainda aos 15 anos, a primeira-ministra italiana integrou a seção juvenil do Movimento Social Italiano (MSI), partido fundado em 1946 por integrantes dos últimos anos de Mussolini.

Paralelamente, sua atual legenda, o Irmãos da Itália, tem membros que até hoje comemoram datas do fascismo, além de ter em seu logotipo uma chama com as três cores da bandeira – também uma herança fascista.

Como esperado, Meloni abordou vários temas das políticas interna e externa da Itália - seu discurso tinha 16 páginas e durou mais de uma hora, segundo o jornal italiano “Corriere della Sera”.

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A primeira mulher a assumir o governo do país voltou a prometer que manterá a linha dura da União Europeia contra o presidente da Rússia, Vladimir Putin, defenderá sanções contra Moscou e seguirá apoiando a Ucrânia na guerra que se desenvolve há oito meses.

"Ceder à chantagem de Putin sobre a energia não resolveria o problema, mas o exacerbaria ao abrir caminho para mais demandas e chantagens", disse Meloni em referência à crise energética que assombra a Europa às vésperas do inverno e aos cortes de fornecimento de gás russo ao continente.

Na semana passada, a líder italiana já havia marcado posição ao afirmar que seu governo seria pró-Otan, aliança militar ocidental, e pró-Europa, em um sinal de discordância com seu colega de coalizão e ex-premiê Silvio Berlusconi - amigo de Putin.

O que difere as políticas de Meloni das de outros governos europeus, porém, talvez seja como lidar com o aumento nos preços do gás. Enquanto parte da Europa defende a aceleração do desenvolvimento de energias renováveis, ela defende que a pauta ambiental precisa ter como foco o cidadão – um eufemismo para o impacto econômico de uma eventual transição energética.

"O que nos distingue do ambientalismo ideológico é que queremos defender a natureza com o homem dentro", afirmou, deixando no ar a possibilidade de ser uma pedra no sapato da União Europeia em relação ao tema, ainda que tenha defendido investimentos em energias renováveis.

Meloni também frisou seu apoio a políticas financeiras para famílias e empresas endividadas devido à alta da inflação no continente - outros líderes europeus anunciaram medidas semelhantes nos últimos dias.

"O contexto em que o governo terá que agir é muito complicado, talvez o mais difícil desde a Segunda Guerra Mundial", disse, acrescentando que a Itália pode entrar em recessão em 2023.

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