São Paulo - Em meio a um novo acirramento nos combates da Guerra da Ucrânia, o Ocidente demonstrou ter comprado a aposta feita no campo de batalha real e retórico por Vladimir Putin nas últimas semanas.

Scholz, que sucedeu Angela Merkel no fim do ano passado e herdou um legado de proximidade entre Berlim e Moscou marcada por uma grande parceria energética, tem alternado falas conciliadoras e mais duras
Scholz, que sucedeu Angela Merkel no fim do ano passado e herdou um legado de proximidade entre Berlim e Moscou marcada por uma grande parceria energética, tem alternado falas conciliadoras e mais duras | Foto: Tobias Schwarz/AFP

O chefe da diplomacia da UE (União Europeia) disse nesta quinta (13) que um ataque nuclear russo contra o vizinho resultaria na "aniquilação" do Exército de Putin, e o primeiro-ministro alemão elevou o usual tom comedido e afirmou que a guerra do russo é "uma cruzada contra a democracia liberal".

O espanhol Josep Borrell, alto representante da UE para assuntos estrangeiros e segurança, afirmou em Bruges, na Bélgica, que "deve ficar claro que qualquer ataque nuclear contra a Ucrânia vai gerar uma resposta". "Não será uma resposta nuclear, mas uma tão poderosa do lado militar que o Exército russo seria aniquilado", afirmou.

É a declaração mais clara sobre o tema dada por uma autoridade ocidental até aqui. Os americanos, donos da bola quando o assunto é a defesa militar dos aliados europeus na Otan, já haviam falado em "consequências catastróficas" em caso de uso da bomba atômica, mas não as desenhado em público.

Já o alemão Olaf Scholz se manifestou em um vídeo gravado para uma conferência de sociais-democratas em Berlim. "Não é só sobre a Ucrânia. Eles [Putin e seus apoiadores] consideram que a guerra contra a Ucrânia é parte de uma cruzada maior, uma cruzada contra a democracia liberal", afirmou.

Ao longo da guerra, Scholz, que sucedeu Angela Merkel no fim do ano passado e herdou um legado de proximidade entre Berlim e Moscou marcada por uma grande parceria energética, alternou falas conciliadoras e mais duras.

Na prática, cuidou de seu quintal ao buscar alternativas ao gás russo e triplicou o orçamento militar alemão neste ano, rompendo décadas de restrição no setor.

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No entanto, sempre foi econômico na ajuda a Kiev: demorou três meses para enviar meros três blindados de proteção antiaérea Gepard e outros quatro para entregar as primeiras unidades do sistema antiaéro basedo no míssil Iris-T.

Acerca do conteúdo, Scholz não está errado. Putin deixa claro desde 2004 que encara a relação com o Ocidente como uma disputa de civilizações e valores, e o percebido avanço de estruturas ocidentais na periferia ex-soviética, como uma ameaça existencial.

O russo reafirmou isso tudo quando discursou no evento em que anexou quatro territórios da Ucrânia, de quem já tinha tirado a Crimeia, sem conflito, em 2014. Antes, havia prometido defender as áreas, que não controla totalmente, com "todos os meios necessários".

Isso, somado a falas mais diretas dele e de aliados, é uma ameaça nuclear. Ainda que do ponto de vista militar seja algo duvidoso e politicamente suicida, o emprego de uma bomba atômica tática, de baixa potência, é vista como uma possibilidade baixa, mas existente, entre analistas.

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