Guarulhos, SP - A família de Pedro Castillo, ex-presidente do Peru deposto após uma tentativa fracassada de golpe de Estado, chegou nesta quarta (21) ao México, onde receberá asilo político. O anúncio foi feito por Martín Borrego, diretor para a América do Sul do Ministério de Relações Exteriores mexicano, em uma rede social.

Castillo está detido por desrespeitar preceitos da Carta Magna e tentar dissolver o Legislativo e concentrar poderes no Executivo
Castillo está detido por desrespeitar preceitos da Carta Magna e tentar dissolver o Legislativo e concentrar poderes no Executivo | Foto: Javier Torres/AFP/29-11-2022

Borrego publicou uma foto ao lado da mulher de Castillo, Lilia Paredes, e seus dois filhos, Arnold, 16, e Alondra, 10. "Orgulho da política externa que continua salvando vidas na América Latina", escreveu ele, afirmando ainda que a medida é um exemplo da tradição diplomática de seu país.

Yenifer Paredes, 26, irmã caçula da ex-primeira dama que foi criada como filha pelo casal e atualmente enfrenta acusações de corrupção na Justiça, não aparece na imagem.

A partida da família do ex-presidente já havia sido anunciada pela sucessora de Castillo na Presidência, Dina Boluarte, em uma entrevista no domingo (18). Na ocasião, ela afirmou que a investigação que a Receita Federal conduz a respeito de Lilia Paredes, suspeita de coordenar uma organização criminal ao lado do marido, não impedia a sua ida.

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Castillo está preso preventivamente, acusado de rebelião e conspiração após desrespeitar preceitos da Carta Magna peruana e tentar dissolver o Legislativo e concentrar poderes no Executivo. O governo do mexicano Andrés Manuel López Obrador, conhecido como AMLO, ofereceu a ele asilo político já no dia seguinte à deposição.

Desde então, Obrador tem feito uma série de declarações públicas em defesa do ex-líder peruano - contestando, desse modo, a legitimidade da gestão de Dina, que era vice de Castillo e foi empossada pelo Parlamento após o seu afastamento.

Assim que a presidente assumiu, AMLO disse que esperaria alguns dias para reconhecer a sua posse, e declarou que Castillo vinha sendo vítima de assédio desde a sua vitória nas eleições. Uma semana depois, o México assinou, junto com Argentina, Bolívia e Colômbia, uma carta que exortava o Peru a proteger os direitos humanos e legais de Castillo - ambígua, a nota não pedia, porém, a sua restituição ao cargo.

Dina reagiu imediatamente às falas de AMLO e convocou o embaixador do México em Lima, Pablo Monroy, à chancelaria peruana - considerado um ato de reprimenda na prática diplomática. Na terça (20), sua gestão deu um recado ainda mais duro ao México, e declarou o embaixador do país "persona non grata" no Peru, ordenando que ele deixe o país em 72 horas.

Obrador, por sua vez, afirmou que não pretende romper relações diplomáticas com a nação andina. "Não expulsaremos ninguém", disse em uma conferência de imprensa na quarta.

Dina vem lidando com um país em convulsão desde que assumiu. Apoiadores de Castillo saíram às ruas para exigir sua renúncia e a libertação do ex-presidente, além da antecipação das eleições gerais, a dissolução do Congresso e a criação de uma Assembleia Constituinte.

A escala e a violência dos atos, que fecharam aeroportos e bloquearam rodovias pelo território, levaram a presidente a decretar estado de emergência por 30 dias.

O Ministério da Saúde peruano registrou 26 mortes nos enfrentamentos dos manifestantes com as forças de segurança até agora, a maior parte delas na região ao sul dos Andes peruanos, onde os protestos foram mais intensos e local em que se concentrou o eleitorado de Castillo nas eleições passadas.

Esta semana, Dina conseguiu aprovar no Congresso um de seus principais planos para tentar apaziguar a população - a antecipação das eleições gerais do país de 2026 para 2024. Um projeto semelhante, que propunha que o pleito ocorresse já no ano que vem, havia sido rechaçada pelo Parlamento na semana anterior.

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