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China anuncia acordo com Ilhas Salomão que permite tropas de Pequim no Pacífico

O tratado elevou as preocupações sobre as ambições militares chinesas no quintal australiano

ATUALIZAÇÃO
19 de abril de 2022

Folhapress
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São Paulo - A China anunciou nesta terça (19) a assinatura de um acordo de segurança com as Ilhas Salomão, país na região do Pacífico Sul, próximo à Austrália e à Nova Zelândia. O tratado elevou as preocupações sobre a circulação de tropas chinesas na região e sobre as ambições militares de Pequim no quintal australiano. 

 O acordo terceiriza a segurança no arquipélago e coloca as forças de segurança chinesas à disposição do governo salomonense para proteger a infraestrutura do país e garantir a ordem em caso de revoltas internas, segundo o pouco que foi divulgado até aqui. 

 Na prática, também expande a presença militar chinesa a uma nova região do Pacífico, além do já contestado avanço sobre o mar do Sul da China, na região entre Filipinas e Vietnã, criticado por nações do Sudeste Asiático. 

O acordo terceiriza a segurança no arquipélago e coloca as forças de segurança chinesas à disposição do governo salomonense para proteger a infraestrutura do país

Em março, uma versão preliminar do tratado vazou para a imprensa e provocou uma série de críticas pois contemplava a possibilidade de deslocamentos militares chineses na região de influência australiana
 

 O pacto anunciado nesta terça foi assinado pelos ministros das Relações Exteriores da China, Wang Yi, e das Ilhas Salomão, Jeremiah Manele, disse o porta-voz da chancelaria chinesa a jornalistas em Pequim. Ele não disse exatamente onde ou quando a assinatura do acordo ocorreu. 

 Em março, uma versão preliminar do tratado vazou para a imprensa e provocou uma série de críticas pois contemplava a possibilidade de deslocamentos militares chineses na região de influência australiana. 

 Em resposta, o primeiro-ministro das Ilhas Salomão, Manasseh Sogavare, afirmou no começo de abril que não permitiria a construção de uma base militar chinesa no país, mas isso não foi suficiente para acalmar a Austrália e aliados, que se mobilizam para pressionar o governo do país. O arquipélago fica a pouco mais de 1.600 quilômetros do ponto mais próximo da costa australiana. 

 Marise Payne, ministra australiana das Relações Exteriores, afirmou nesta terça que está "profundamente decepcionada" e que continua buscando entender os termos do acordo. "Estamos preocupados com a falta de transparência no desenvolvimento do tratado, dado seu potencial para minar a estabilidade em nossa região", disse ela em comunicado. 

 Na semana passada, Zed Seselja, ministro australiano para o Desenvolvimento Internacional e o Pacífico, visitou Honiara, capital das Ilhas Salomão, para pedir a Sogavare que não assinasse o pacto. 

 Acuados pelo avanço chinês, os Estados Unidos resolveram reforçar a presença no país e anunciaram uma visita com membros de alto escalão do governo para a capital nesta semana, onde pretendem também reabrir a embaixada americana. 

 "Apesar dos comentários do governo das Ilhas Salomão [de que não permitirá a instalação de uma base militar chinesa], a natureza ampla do acordo de segurança deixa aberta a porta para o envio de forças militares da China" para o arquipélago, disse Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA. "Acreditamos que a assinatura de tal acordo pode aumentar a desestabilização nas Ilhas Salomão e estabelecer um precedente preocupante para a região mais ampla das ilhas do Pacífico", afirmou. 

 Os Estados Unidos são aliados da Austrália no chamado Quad, grupo que inclui ainda Japão e Índia e que tem como objetivo principal conter a presença da China na região do Indo-Pacífico.  

Pequim reagiu à pressão diplomática. "As tentativas deliberadas de inflar as tensões e mobilizar campos rivais estão fadadas ao fracasso", disse Wang Wenbin, porta-voz da diplomacia chinesa, nesta terça. 

 A China também deve mandar uma delegação a Honiara em maio, e o governo salomonense permanece negando que o pacto permitirá à China instalar uma base militar no país. Douglas Ete, deputado e presidente do comitê de contas públicas do Parlamento do país, afirmou que a visita de maio vai fechar acordos para aumentar a cooperação em comércio, educação e pesca, mas que não inclui a instalação de bases militares. 

 Até 2019, as Ilhas Salomão reconheciam o governo em Taiwan, não em Pequim, como representantes legítimos da China – com a Revolução Comunista de 1949, o governo deposto se exilou em Taipé e permanece reivindicando o controle sobre todo o território continental, sem reconhecimento internacional. 

 Com a mudança a partir de 2019 do reconhecimento do governo comunista, o primeiro-ministro Sogavare foi alvo de uma moção de desconfiança no Parlamento (que venceu) e de grandes manifestações de rua, que acabaram desmobilizadas com a ajuda de equipamentos anti-protestos enviados por Pequim. 

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