Cristiano Englert, CMO da aceleradora Grow+, de Porto Alegre (RS) e um dos palestrantes da PUC Health Tech: "Health techs são a nova bola da vez"
Cristiano Englert, CMO da aceleradora Grow+, de Porto Alegre (RS) e um dos palestrantes da PUC Health Tech: "Health techs são a nova bola da vez" | Foto: Marcos Zanutto



As chamadas health techs estão revolucionando o setor de saúde. Mas qual o limite da atuação dessas startups no setor? Até que ponto tecnologias disruptivas são aceitas nessa área que lida com vidas diariamente? Essa foi um dos temas discutidos na PUC Health Tech - V Encontro Científico de Medicina, realizado pelo Camaf (Centro Acadêmico de Medicina Anísio Figueiredo) da PUCPR Campus Londrina.

Segundo estudo de 2018 da aceleradora Liga Ventures sobre as health techs, dentro de um universo de 1.085 startups brasileiras, 263 podem ser consideradas health techs, que são startups voltadas para alguma área de saúde. A maior parte está concentrada nas categorias de Sistemas de Gestão (17%), Hard Sciences (15%) e Bem-estar Físico e Mental e Buscadores e Agendamentos de consultas (10%).

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Nesse mercado, startups já começam a trazer inovação disruptiva ao setor de saúde. Cristiano Englert, CMO (chief medical officer) da aceleradora Grow+, de Porto Alegre (RS) e um dos palestrantes da PUC Health Tech, cita o exemplo de uma startup adquirida pela Amazon, que envia à casa do cliente pacotes com todos os remédios que ele precisa tomar, nas doses exatas. O serviço está associado a uma plataforma on-line, que alerta o usuário sobre os horários de ingestão dos medicamentos.

"Health techs são a nova bola da vez", diz. "A saúde como um todo é um mercado mais conservador. E se diz que ela é o próximo grande mercado a ser disruptado." Para Englert, isso representa uma grande oportunidade para as startups. A quantidade de dados vindos de objetos como wearables (dispositivos vestíveis) e monitores, por exemplo, só cresce e pode ser utilizado pelos serviços de saúde. "O paciente, os centros de saúde, clínicas, médicos, ainda são muito desconectados."

A Inteligência Artificial pode ser aplicada para analisar esse grande volume de dados. "Vai desde analisar exames médicos, radiológicos de maneira muito mais rápida e, por que não, até melhor que o próprio médico. E vai dar tempo dele trabalhar a parte mais humana, não ficar 100% focado nos processos mais manuais, automáticos, que a tecnologia vai substituir."

Por outro lado, existe uma discussão sobre os limites do uso da tecnologia na saúde. Algumas aplicações podem atingir a área de bioética, como no caso de uma startup que, por meio de uma amostra de saliva coletada em casa, pode mostrar a origem dos ancestrais de uma pessoa. No entanto, a partir dessa amostra, também é possível descobrir as chances de o indivíduo vir a ter doenças como Alzheimer ou Parkinson. "Daqui a pouco você vai ter um teste genético para saber que tipo de doença você pode vir a ter e mudar teu comportamento antes mesmo de tê-la. Aí envolve muito a parte bioética, mas isso vai acontecer."

Nos EUA e em outros países, já é liberada a telemedicina, com consultas via celular, por exemplo. "Se você está com gripe ou resfriado, vai para o centro de emergência e fica esperando três horas para ser atendido. O médico vai fazer cinco perguntas e prescrever um antitérmico. Isso não é o melhor que se pode ter como experiência do cliente. Hoje em dia você faz reserva em restaurante, em hotel, check-in e check-out tudo digital."

Na visão de Englert, existem questões regulatórias que precisam ser respeitadas, mas a inovação "sempre vem à frente". "Vide Uber, que cresceu. Hoje ninguém quer voltar atrás, pegar um táxi na rua ou chamar. Vem da vontade do empreendedor de ser rebelde, de buscar o novo, de quebrar barreiras. E depois ele vai avaliar se mercado se adapta ou não. É uma lei de mercado." Aceleradoras, incubadoras e mentores, por exemplo, ajudam o empreendedor a validar o seu negócio dentro do setor de saúde mas, mesmo assim, tecnologias inovadoras costumam desafiar regras preestabelecidas. "Se o empreendedor de uma universidade quer fazer uma solução, tem que saber o básico, saber se é permitido por lei. Mas se a solução é super inovadora, tiver 1 milhão de usuários, mostrou que realmente é boa e que está trazendo benefícios, vai ganhar o mercado antes e aquela força de pessoas vai pedir que ela seja regulada."