Phillipe Abreu, cirurgião oncológico robótico do Hospital Vita de Curitiba: "O movimento do teu punho não faz um giro de 360 graus. O robô consegue."
Phillipe Abreu, cirurgião oncológico robótico do Hospital Vita de Curitiba: "O movimento do teu punho não faz um giro de 360 graus. O robô consegue." | Foto: Divulgação



O uso da tecnologia não se aplica a todos os casos, pelo menos na cirurgia oncológica robótica. Mas, quando bem indicada, pode maximizar os resultados. Cirurgião oncológico robótico do Hospital Vita de Curitiba, Phillipe Abreu observa que existe uma tendência de "superindicação" de uso de tecnologias quando elas são criadas. A cirurgia oncológica robótica, que já é realizada inclusive em Curitiba pelo SUS (Sistema Único de Saúde), tem a vantagem de ser mais precisa - já que aumenta em 30 vezes a imagem do tratamento -, mais rápida e menos agressiva ao paciente. Porém, o procedimento é indicado apenas para cirurgias em pontos fixos do corpo.

A cirurgia com robô tem que levar em conta três aspectos: do cirurgião (treinamento), da cirurgia a ser realizada (localização, possibilidade de lesão associada) e do paciente - se ele tem alguma contraindicação do ponto de vista clínico, explica Abreu. "Se sou um cirurgião capacitado, se o paciente não tem contraindicação e o tumor está em uma localização favorável, vale a pena seguir frente. Mas se um desses três pilares não funcionar, o processo tradicional vai ter nível superior. Nem sempre o que é bom para mim é o melhor para o paciente." Além disso, a cirurgia robótica é em geral paga pelo paciente e custa mais caro ao hospital - cinco a seis vezes mais que uma cirurgia convencional, completa o cirurgião.

Para ele, o uso de tecnologia na saúde só traz ganhos quando bem indicada e bem aplicada. "Se o desfecho é pelo menos igual ao do (tratamento) convencional, eu não consigo ver onde não teria aplicabilidade da tecnologia. Ela sempre vai acrescentar, tentar até ser superior às limitações físicas do próprio ser humano. O movimento do teu punho não faz um giro de 360 graus. O robô consegue."

LINHA TÊNUE
É difícil definir a linha que separa a tecnologia da medicina ou do ser humano, comenta a presidente da Associação Médica de Londrina, Beatriz Tamura. Mas é fato que as mudanças são inevitáveis. "As mudanças já estão ocorrendo, inclusive de legislações, para se adequar às novas realidades do que é permitido ou não, do que é ético ou não na medicina, dos novos controles de informações cruzadas e utilizadas. Os CFMs, CRMs, também estão se adequando ao novo momento tecnológico, isso é inevitável."

Na opinião da médica, a tecnologia deve ser aplicada sempre, mas sem se esquecer do lado humano dos pacientes. "A tecnologia é um complemento para o melhor diagnóstico, o melhor tratamento e a melhor condução, mas não perdendo o contexto da medicina, na qual trabalhamos com o ser humano, que é um ser vivo, complexo, com inteligência, razão e sentimentos."(M.F.C.)