O IGP-M (Índice Geral de Preços Mercado) subiu 0,64% em outubro e chegou a 21,73% em 12 meses, informou na quinta-feira (28) a FGV (Fundação Getulio Vargas).

A previsão de analistas ouvidos pela agência Bloomberg era de que a variação mensal ficasse em 0,22%.

Em setembro, a variação do índice, que é conhecido como a inflação dos aluguéis, ficou negativa pela primeira vez desde o início de 2020. A retração de 0,64% foi puxada pela queda do preço do minério de ferro.

Em outubro, a queda menos acentuada dos preços do minério de ferro, combinada com a alta do diesel, foram as duas principais contribuições para que o índice voltasse a acelerar, segundo o coordenador de índice de preços do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) da FGV André Braz.

O resultado em outubro poderá ser aplicado aos contratos com aniversário em novembro. Se os proprietários dos imóveis decidirem aplicar o índice de maneira integral, um locatário que hoje pague R$ 3.000 de aluguel passará a pagar R$ 3.651 em dezembro.

A aplicação integral do índice, porém, não é obrigatória. Segundo pesquisa de locação do Secovi-SP (sindicato da habitação), os novos contratos fechados na capital em setembro tiveram valor médio 0,31% menor do que no mês anterior.

O IGP-M virou um indexador de aluguéis, mas a lei do inquilinato, que rege os contratos de locação não estabeleceu o índice de correção. A legislação apenas prevê a necessidade de as partes acertarem uma atualização anual para os contratos.

O uso dele é visto como uma herança da hiperinflação, quando era necessário proteger os bens das oscilações extremas de preços e da desvalorização da moeda. Há ainda uma questão prática, que é da data de divulgação. Mensalmente, a FGV divulga o IGP-M alguns dias antes do fim do mês.

Com a variação em mãos, os proprietários podem definir a correção dos aluguéis já para o mês seguinte.

A partir de meados do ano passado, o IGP-M entrou em trajetória de alta, pressionado principalmente pelos preços no atacado -em sua maioria, commodities negociadas em dólar.

O índice chegou a um pico em maio, a 37,04%, quando começou a cair, mas ainda está muito superior ao IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Apesar da escalada da inflação oficial, os dois índices seguem descolados e com trajetórias contrárias -o IGP-M vem em queda e o IPCA, em alta.

Em outubro, a prévia da inflação oficial, o IPCA-15, já bateu 10,34% em 12 meses, a maior variação desde 1995.

O descolamento dos dois índices resultou em uma onda de renegociações de contratos, ações judiciais e até um projeto de lei. Esse último está na pauta da Câmara dos Deputados desde a semana passada, mas ainda não foi colocado em votação. A proposta prevê a substituição do IGP-M pelo IPCA.

Empresas que administram imóveis, como a Lello e a Quinto Andar, deixaram de usar o índice como padrão em novos contratos e abriram canais de negociação entre proprietários e inquilinos.

A composição do IGP-M acabou sendo outro fator de questionamento entre os que defendem a utilização de outro índice para corrigir os contratos. A própria FGV estuda a criação de um indexador que considere a variação de preços ligados ao mercado imobiliário.

O IGP-M é uma cesta com três índices, que monitoram as altas e baixas de preços no atacado (o Índice de Preços ao Produtor Amplo), para o consumidor (o Índice de Preços ao Consumidor, similar ao IPCA) e na construção civil (o Índice Nacional de Custo da Construção).

O maior peso entre os três é o IPA, que responde por 60% do índice. Como ele é uma espécie de guarda-chuvas de preços praticados no campo, ele registra desde a variação de matérias-primas brutas até bens finais, além de produtos industriais e agropecuários.

Em outubro, o IPA variou 0,53%, e acumulou 26% em 12 meses. As principais altas foram registradas em óleo diesel (6,61%), café em grãos (10,19%), adubos e fertilizantes (9,02%) e mandioca (8,05%).

Há menos de seis meses, em maio, ele chegou a variar 5,23% e foi a 50,21% no período de um ano, levando o IGP-M ao pico da série histórica.

O IPC registrou variação de 1,05% em outubro. A tarifa de enegia elétrica, que vem pressionando as contas das famílias, subiu 2,90%, menos do que os 5,75% registrados em setembro. Também puxaram a alta de preços ao consumidor as passagens aéreas (22,84%), a gasolina (2,05%), o botijão de gás (3,61%) e o tomate (20,93%). Esse índice responde por 30% do IGP-M.

O último integrante da cesta da inflação dos aluguéis, e que responde por 10% da composição, é o INCC, aquele com maior ligação com o mercado imobiliário, por meio da construção civil. Em outubro, o INCC subiu 0,80% e acumulou alta de 15,35% em 12 meses.

O setor tem sido pressionado por alta de preços de insumos e matérias-primas. As maiores altas no mês foram de vergalhões e arames de aço ao carbono (7,91%), esquadrias de alumínio (3,39%) e massa de concreto (2,12%).

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