Depois de 12 anos de escolaridade, cerca de 70% dos estudantes terminam a educação básica no País sem conseguir ler um texto simples e sem conhecimentos mínimos de matemática e só 4% têm conhecimento adequado nas duas disciplinas. A maior parte dos jovens não sabe identificar a informação principal de uma reportagem ou calcular porcentagem, por exemplo. A constatação alarmante é do Saeb 2017 (Sistema de Avaliação da Educação Básica, divulgado nesta quinta-feira (30) pelo MEC (Ministério da Educação).

O Saeb é a avaliação utilizada pelo governo federal para medir a aprendizagem dos alunos ao fim do quinto e nono anos do ensino fundamental e terceiro ano do ensino médio. Nesta edição, além das redes municipal, estadual e federal, participaram também estudantes da rede privada, superando os 5,4 milhões de alunos em mais de 70 mil escolas. Feita a cada dois anos, a avaliação é composta pelas médias de proficiências em português e matemática extraídas da Prova Brasil e pelo Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que será divulgado na próxima semana.

Os resultados levaram o ministro da Educação, Rossieli Soares Silva, a admitir o fracasso do ensino médio no País. "O ensino médio está absolutamente falido, está no fundo do poço", afirmou. "É uma das coisas mais preocupantes que a gente tem no País. Ou o aluno abandona a escola ou fica e não aprende nada. Se continuar tudo como está, há possibilidade de, em 2021 e em 2023, os alunos do fundamental já terem ultrapassado os do ensino médio", concluiu o ministro.

A previsão do ministro já se confirmou nesta edição da avaliação, em três estados. No Ceará e no Amazonas, estudantes do nono ano já têm nota maior que os do ensino médio em português. Em Santa Catarina, isso acontece em matemática. Isso quer dizer que se ambos fizessem a mesma prova, os mais novos se sairiam melhor.

O Saeb aponta ainda que a situação no ensino médio, considerado o período mais preocupante da educação básica, está estagnada desde 2009, com pequenas melhoras nas médias de proficiência em língua portuguesa. Em 2017, a nota foi de 268 pontos, apenas um acima do que o registrado há oito anos. Em matemática, a realidade é ainda mais grave. Em 2009, a média do ensino médio era de 275 pontos e, no ano passado, caiu cinco pontos, somando 270.

Nesta edição do Saeb o MEC fez uma classificação inédita dos níveis de proficiência, organizando-os em uma escala de zero a nove, sendo o menor número correspondente ao pior resultado. Níveis de zero a três são considerados insuficientes; entre quatro e seis, básico; e de sete a nove, adequado.

O ensino médio foi classificado no nível dois. Tanto em matemática quanto em português, mais de 70% dos alunos avaliados tinham nível insuficiente sendo que cerca de 23% deles estavam no nível zero.

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PARANÁ
Em meio a números tão assustadores, o Paraná consegue se destacar positivamente. Nas avaliações dos estudantes do quinto e nono anos do ensino fundamental, tanto em língua portuguesa quanto em matemática, o Estado oscilou entre a primeira e a quinta colocações, ficando algumas vezes atrás de estados como São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Distrito Federal.

No ensino médio, o cenário piora um pouco, mas o Paraná ainda fica bem posicionado no ranking. Nas avaliações dos alunos do terceiro ano do ensino médio, em língua portuguesa, o Estado totalizou 274,3 pontos, ocupando a sexta colocação. O melhor avaliado na disciplina foi o Espírito Santo, com 283,7 pontos. Em matemática, o Paraná somou 279 pontos e, novamente, foi o sexto colocado, com o Espírito Santo (291,6) no topo da lista.

Chefe do Departamento da Educação Básica da Seed (Secretaria Estadual de Educação), Caciano Ogliari trabalha com números diferentes porque só considera os números da rede estadual. Mesmo com a análise restrita de resultados, os alunos das escolas públicas estaduais tiveram resultados bem mais satisfatórios em relação a estados como Maranhão, Amapá, Pará, Amazonas e Bahia, que estão entre os estados com as piores pontuações em todas as séries analisadas, nas duas disciplinas.

"Melhoramos em todas as etapas, ressaltando que estamos falando de aprendizagem e não de aprovação, que é medida pelo Ideb. Em 2015, nos anos finais do ensino fundamental, nossa proficiência era de 249,37 e agora subiu para 261,39. Em língua portuguesa, subiu de 254 para 262", ressaltou Ogliari.

Como foi observado no País como um todo, no Paraná o ensino médio na rede estadual também deixou a desejar. Em língua portuguesa, houve estagnação. Em 2015 a proficiência em língua portuguesa foi de 266, mantendo a pontuação em 2017. Em matemática, houve um pequeno crescimento, passando de 265 para 268. "Nós fizemos uma avaliação que já apontou que os primeiros anos do ensino médio estão com uma proficiência maior, então daqui a dois anos o terceiro ano do ensino médio deve aumentar também. Mas é um dado para o qual é necessário olhar. É preciso repensar o ensino médio. Me parece que temos que avançar nas políticas de oferta do ensino médio", reconheceu.

Ao divulgar os resultados do Saeb, o MEC avaliou que os números deixam evidente que o ensino médio no Brasil tem agregado muito pouco ao desenvolvimento cognitivo dos estudantes visto que o nível de conhecimento demonstrado por alunos do nono ano do ensino fundamental pouco diferem do último ano do ensino médio. "A proficiência do ensino fundamental, nos anos finais, é quase a mesma que o ensino médio. Não avançou muito entre o nono e o terceiro ano do ensino médio. E isso acontece por diferentes circunstâncias, como o aluno trabalhador, por exemplo", disse Ogliari.

"Esse resultado nos deixa felizes e nos mostra que estamos no caminho certo. A Secretaria de Educação tem feito um trabalho muito forte, com muita responsabilidade com os núcleos regionais, as equipes pedagógicas das escolas e os professores, mas vamos fortalecer as práticas desenvolvidas até agora", afirmou a secretária estadual de Educação, Lúcia Cortez. Segundo ela, os números do Saeb 2017 servirão como base para discussões e planejamentos para o ensino a curto, médio e longo prazos.

MUNICÍPIO
A secretária municipal de Educação, Maria Tereza Paschoal de Moraes, comemora os índices do Saeb para Londrina. A média total das escolas da rede municipal ficou em 235,98, acima da média nacional, de 209,16, e também da estadual, 228,48. "Na segunda-feira o MEC irá divulgar o Ideb (Índice do Desenvolvimento da Educação Básica) e espero que avancemos ainda mais. O Saeb fala exatamente da aprendizagem e a gente confirmou um avanço significativo. Não temos escolas com aprendizado abaixo da média. Nossos resultados são muito positivos."

Os números do Saeb e do Ideb são utilizados no planejamento da rede e investimentos da secretaria. "Os índices mostram que a dificuldade maior é o ensino fundamental dois e o ensino médio, que também tem uma evasão muito grande", disse Moraes.

CONGRESSO
O governo Michel Temer enviou ao Congresso por medida provisória - que depois se tornou lei - uma reforma para o ensino médio que flexibiliza o currículo e cria diversos caminhos que podem ser escolhidos pelos jovens, entre eles o ensino técnico.

A proposta é polêmica, principalmente pela dificuldade de estrutura e professores para oferecer as diferentes formações. Entre os candidatos à Presidência, há os que defendem a revogação da lei. A BNCC (Base Nacional Comum Curricular) para a etapa, desenvolvida pelo atual governo, ainda não foi aprovada e também corre risco de ser mudada numa próxima gestão. (Com informações da Agência Estado e da Agência Brasil)