Tempo máximo de permanência na república é de dois anos; depois eles são reintegrados totalmente à sociedade
Tempo máximo de permanência na república é de dois anos; depois eles são reintegrados totalmente à sociedade | Foto: Gustavo Carneiro



Na sala da casa, uma divisória no meio do cômodo separa a área privativa do setor usado pelos profissionais que prestam apoio aos ocupantes da república. Há uma televisão e dois sofás no primeiro cômodo. Alguns livros no mesmo móvel da televisão. Um dos moradores convida para conhecer os quartos. As camas dos beliches estão arrumadas e o piso claro, refletindo o sol que entra pela janela ao fundo, ajuda a iluminar ainda mais o ambiente. Banheiros estão à disposição nos quartos e também no corredor para uso dos dez moradores. A casa está silenciosa; a maioria dos moradores está trabalhando nesse horário. Na cozinha, o maior dos cômodos, está o básico de eletrodomésticos para o preparo das refeições, mas chama a atenção pela organização e limpeza.

Esta é uma das casas que abriga a república dos moradores em recuperação de vulnerabilidades diversas, numa recém-estabelecida parceria entre a secretaria de Assistência Social de Londrina e a entidade MMA (Ministério de Missões e Adoração). A proposta deste modelo de abrigo está prevista na Política Nacional de Assistência Social como um atendimento específico para pessoas que já avançaram no tratamento contra uso abusivo de drogas ou outras situações que o serviço de assistência social do município atende. O tempo de permanência na república é de no máximo dois anos para então serem reintegrados à sociedade totalmente.

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Para a assistente social que integra a equipe técnica de atendimento à casa, Tatiane Sperandio, morar na república funciona como um treinamento para reencontrar a independência. "O objetivo é reforçar a ideia do empoderamento em cada um deles. Esse treino vai permitir que eles consigam seguir a vida normalmente como parte sociedade." Pequenas ações como retirar documentos pessoais são relatados como um desafio, mas também um exercício para a independência plena. "Se eles precisam obter uma carteira de trabalho, nós ajudamos com informações de onde ir e como conseguir, mas são eles que vão até os locais, aprenderem a se virar", reforça a assistente social. A psicóloga Deise Saito é outra profissional do corpo técnico.

Além do corpo técnico, há ainda um controle administrativo está presente para gestão dos recursos e prestação de contas. Esta estrutura faz parte dos requisitos também previstos no chamamento público em 2018. A MMA assumiu o convênio com a prefeitura em janeiro. Pelo edital, serão oferecidas 32 vagas em quatro modelos de república. Esta é a primeira em funcionamento.


ATOS CARIDOSOS
"Quem está tentando voltar a um rotina normal precisa ter emprego, ter formas de se capacitar para conseguir uma vaga, além de atendimento de saúde quando necessário e também de uma moradia. Esses são os direitos básicos que eles buscam e que é direito de qualquer cidadão." esclarece Sperandio. Para ela, a imagem antiga de doação por pura caridade ainda permanece no imaginário, mas o que se pratica é parte de uma política pública bem estabelecida. "Vem o recurso financeiro, mas isso não é tudo. É preciso esse conjunto de serviços funcionando para que o projeto de reintegração dê certo."

Nos fundos da casa, há um bom espaço de pátio e uma garagem. Está nos planos criar ali uma horta suspensa. "Falta ainda conseguir alguns pallets ou suportes, as sementes e outros detalhes para ajeitarmos a horta. Também seria bom aprender primeiro como faz", conta um dos moradores. Este é um dos serviços que as assistentes sociais sugerem, que pode ser obtido com apoio de voluntários. "Um próximo passo é chamar voluntários, treiná-los e ter esses profissionais colaborando com atividades simples como ensinar a cortar de grama, a cozinhar de forma prática e saudável, a cuidar da horta."

Moradores da república ainda precisam de alguns utensílios de cozinha, eletrodomésticos, roupas de cama e banho e também roupas masculinas. A orientação é entrar em contato pelo telefone (43) 3328-8872 para saber o que pode ser doado e também como colaborar sendo um voluntário.

* Supervisão: Lucilia Okamura - editora

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