A secretaria de Assistência Social de Londrina prestou perto de 500 atendimentos a pessoas em situação de rua em 2018. Diariamente, são entre 60 a 80 atendimentos no Centro Pop (Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua), o primeiro estágio da pasta a esta população. O atendimento primário considera desde alimentação e banhos até o encaminhamento para abrigos, conforme cada caso. "Temos os três níveis de atendimento. A segunda etapa, o acolhimento em instituições da cidade, é o de média complexidade. É para pessoas que sofreram alguma violência ou causaram algum transtorno e não conseguem se restabelecer sozinhos à vida cotidiana. Já as repúblicas representam um grau de alta complexidade", explica a secretária Jaqueline Micali.

Nas repúblicas, os moradores são treinados para organizar sua rotina, cuidar de seus pertences e praticar o convívio com outras pessoas. Este é o modelo implantado oficialmente em Londrina em janeiro, em parceria com o Ministério de Missões e Adoração. No total são 32 vagas divididas em quatro repúblicas. Duas são para adultos entre 21 e 59 anos, com uma delas destinada a pessoas com deficiência. Outras duas devem abrigar jovens, de 18 a 21 anos, que virão de acolhimentos de menores. A república já em funcionamento, com dez vagas, atende homens entre 21 e 59 anos.

"O município banca em média 80% dos custos e a instituição 20%. A prefeitura repassa o recurso e monitora. É preciso que a entidade parceira siga o plano de trabalho pré-definido", explica Micali. "É preciso ficar claro que esse projeto é para um público específico. É para pessoas que têm vínculos familiares rompidos, uma trajetória prévia de problemas com vícios e outras dificuldades, mas que atualmente estão em processo avançado de restabelecimento e podem pensar em retomar a autonomia plena", reforça.

EMPOBRECIMENTO E PRECONCEITO
Entre as dificuldades nesse cenário, a secretária pontua a crise econômica como um dos principais aceleradores para o aumento de pessoas vivendo nas ruas. "É um reflexo direto do empobrecimento. E podem ser pessoas de um raio de cidades próximas que procuram cidades maiores como Londrina. As operações adicionais como o Noite Fria e a criação das repúblicas estão vindo para atender esse aumento."

O preconceito também é mencionado como outra dificuldade ao trabalho da assistência social. "Gostaria que as pessoas entendessem que não estamos atuando como benevolentes e distribuindo doações. Temos gestão e seguimos uma política pública. Há um sistema organizado de atendimento que visa o bem para todo o município. Os pilares econômico e social precisam funcionar em conjunto; não há como separá-los para dar certo."

Questionada sobre a possibilidade de aumento no número da população de rua a partir da implantação de repúblicas, ela defende que isso não faz sentido. "Ninguém vai para as ruas porque gosta, é porque houve alguma situação anterior que provocou esse ato. Aí entra o atendimento social para entender se é um problema de uso abusivo de drogas, conflitos familiares, problema econômicos ou o que levou a pessoa a este patamar. Essa é a investigação a ser feita para que o problema seja verdadeiramente resolvido. E outro ponto é que a partir do funcionamento da política pública, o número de pessoas nessa situação tende a diminuir e a própria população vai perceber a efetividade do trabalho realizado. E não é porque a população nas ruas é desagradável aos olhos, mas sim porque ninguém precisa estar nessas condições", reforça.

Em 2017, uma república para moradores de rua foi instalada pelo Centro Pop e ainda está em funcionamento. Essa experiência foi a primeira na cidade e serviu de base o projeto agora implantando pelo município.