Empresários e trabalhadores ligados a bares e eventos protestaram no Centro Cívico na tarde desta quarta-feira (24) para pedir "reparações" ao Poder Público por conta dos prejuízos acumulados ao longo da pandemia de coronavírus. O setor vem se submetendo às novas regras de funcionamento, o que incluiu em alguns momentos a suspensão das atividades como forma de conter o avanço da doença. O ato, que também foi realizado em outras cidades do estado e já estava agendado havia duas semanas, ocorreu um dia depois da Promotoria de Saúde Pública de Londrina recorrer ao Tribunal de Justiça do Paraná pedindo que o município determine novo fechamento de bares, igrejas e academias na cidade.

De acordo com a Abrasel, o prejuízo acumulado do setor gira em torno de R$ 100 milhões
De acordo com a Abrasel, o prejuízo acumulado do setor gira em torno de R$ 100 milhões | Foto: Isaac Fontana/FramePhoto/Folhapress

De acordo com o presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) em Londrina, Leonardo Leão, o prejuízo acumulado de todo o setor gira em torno de R$ 100 milhões, com pelo menos 4 mil postos de trabalho fechados. Londrina possuía antes do início da pandemia cerca de 3 mil empresas cuja atividade econômica era ligada ao setor de bares ou restaurantes, no entanto, muitos proprietários já fecharam seus estabelecimentos.

Leão avaliou que a situação financeira é tão desfavorável que alguns podem não conseguir quitar as contas de março. “Conversando com a grande maioria sei que muitas estão bastante endividadas, estão tentando jogar as dívidas e boletos mais para a frente, esperando que o Poder Executivo tome alguma atitude para que saúde e economia andem lado a lado”, lamentou.

Enquanto parte do grupo ergueu faixas e cartazes e rumou à Câmara Municipal, a diretoria da Abrasel se reuniu com assessores do prefeito Marcelo Belinati (PP). Na ocasião, um documento foi entregue e pediu uma unificação do entendimento dos fiscais da Prefeitura quanto ao distanciamento de mesas e a capacidade total de clientes. Leão lamentou que alguns estabelecimentos podem estar sendo notificados, multados ou fechados de forma incorreta por conta diferentes entendimentos quanto às regras em vigor.

“Existe uma regra em que precisamos respeitar 50% da capacidade total do estabelecimento, porém, a partir do momento em que colocamos quatro, cinco ou até sete pessoas numa mesa, querem que coloquemos quatro. Só que a grande maioria já vem de um convívio fora do bar, então não faz sentido”, lamentou.

Só para se ter uma ideia, a Guarda Municipal de Londrina recebeu 273 denúncias de descumprimento das medidas restritivas durante o Carnaval. Destas, 258 foram atendidas e 15 encaminhadas a outros órgãos. Dentre as ocorrências atendidas 24 eram festas em chácaras, eventos esportivos e cultos religiosos.

Por outro lado, o argumento repetido de forma exaustiva por Belinati durante o ano passado foi que cerca de metade dos casos de Covid-19 em Londrina foi diagnosticada em jovens entre 20 e 39 anos, justamente o público que mais frequenta bares e casas noturnas. Por meio de sua assessoria, o prefeito Marcelo Belinati (PP) informou que não iria comentar.

"TIRO NO PÉ”

Profissionais que atuam com produção de eventos também participaram da manifestação. Mateus Vieira de Assis, 23, que há cinco anos compõe uma equipe que realiza eventos focados no público jovem e universitários, contou que a última vez em que pôde trabalhar foi há exatamente um ano.

"Foi no dia 23 de fevereiro de 2020, ontem fez um ano. Não tem como nem medir nosso prejuízo. Durante o ano fazemos quatro, cinco eventos com com 6 mil, 7 mil pessoas, e durante o ano passado só fizemos um. As dívidas continuam aumentando", lamentou.

Para o presidente da Abrasel, a solução é focar em campanhas de conscientização utilizando as entidades de classe como parceiras do município. Isso poderia evitar o que considera um "tiro no pé", em alusão ao desemprego e o impacto na renda das empresas.

“Eu acredito que possamos ter eventos controlados com menos pessoas de forma a respeitar todo o decreto. Prezamos prezar pelo direito de ir e vir. Cabe às pessoas terem um pouco de cuidado, temos que bater em campanhas de conscientização junto com entidades, Acil (Associação Comercial e Industrial de Londrina) e a própria Prefeitura, isso sim faria uma diferença muito grande. O travamento de um setor ou outro acaba não sendo ideal. As pessoas saem de locais que oferecem álcool em gel e distanciamento das mesas para locais sem fiscalização e a Prefeitura não tem braços suficiente para fazer a fiscalização destes locais”, avaliou.

PERSE

Em dezembro, a Câmara dos Deputados admitiu a tramitação do projeto de lei 5638/2020 que cria o Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos). De autoria do deputado pernambucano Felipe Carreras (PSB), o programa prevê parcelamentos de débitos tributários em até 120 vezes não inferiores a R$ 300, além de descontos em multas e juros. O pacote também inclui medidas como iniciativas de créditos, preservação de empregos e manutenção do capital de giro das empresas e encontra-se aguardando o recebimento pela CCJC (Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania).