Com 144 casos confirmados no NRE (Núcleo Regional de Educação) de Londrina desde junho, quando as aulas presenciais voltaram na rede estadual, professores ouvidos pela FOLHA garantem que as diretrizes sanitárias para barrar a contaminação nas salas de aula não estão sendo seguidas à risca assim que um novo docente é diagnosticado com a Covid-19. O descaso, como a categoria classifica a situação, tem aumentado a tensão entre aqueles que convivem no ambiente escolar.

Imagem ilustrativa da imagem Professores denunciam descumprimento de protocolos da Covid-19 em colégios estaduais
| Foto: iStocj

Sem querer se identificar por medo de represálias, uma professora que leciona em duas escolas da cidade relatou que começou a sentir os sintomas da doença. No dia seguinte, procurou atendimento médico e a confirmação chegou em seguida. Avisou a direção e o Comitê de Biossegurança do NRE sobre o fato, mas os outros colegas e alunos que tiveram contato com ela foram trabalhar e tiveram aulas normalmente.

"Mandei uma mensagem pelo WhatsApp para a direção dos dois colégios dizendo que estava infectada, mas os professores e estudantes não foram avisados. Liguei para uma amiga que trabalha comigo perguntando se eles foram pra escola e ela me disse que sim. Eu tive contato com muita gente e essas pessoas precisariam ser afastadas, o que não aconteceu. Só ficaram sabendo que eu estava com Covid-19 porque avisei uma professora", contou.

A docente assegura que seguiu todos os protocolos definidos pela Seed (Secretaria Estadual de Educação), mas não viu nenhuma providência ser tomada. "Alertei o comitê e a diretoria, mas nada foi feito. Como trabalho em duas unidades diferentes, circulo bastante, o que aumenta o risco de contaminação para outras pessoas, principalmente os alunos. Eles deveriam ser afastados, as aulas tinham que ser suspensas. Enfim, alguma medida precisaria ser tomada. Minha indignação é essa", descreveu.

Também ouvido pela reportagem, outro professor da rede estadual que dá aulas em Londrina denunciou a mesma omissão da secretaria. Ele não chegou a pegar a doença, mas afirma ter presenciado a inércia do Estado assim que uma colega positivou. "A professora avisou nossa chefia que estava com Covid-19, mas não soubemos de nada. Ela confidenciou que havia contraído a doença e aos poucos a notícia foi se espalhando. Ficamos sabendo desse jeito, ou seja, totalmente o contrário de como o comunicado deveria ser repassado. Tinha que vir de cima pra baixo", comentou.

O servidor confirmou que "as aulas transcorreram normalmente e os professores que tiveram contato com a colega infectada estão trabalhando como se nada tivesse acontecido, mas por ordem da secretaria", completou.

Denúncias antigas

O presidente da APP Sindicato de Londrina, Márcio Ribeiro, avaliou que este tipo de irregularidade tem sido denunciada pela entidade desde o começo da pandemia. "Estamos informando a Seed há meses sobre o descumprimento dos protocolos, mas nossa voz não é ouvida. Entendemos que a escola não é um ambiente seguro no atual momento pandêmico. Se as aulas no Paraná retornassem gradativamente, optando pelos alunos que não têm acesso à internet, o risco diminuiria. Não é o que estamos vendo. Parece que a pandemia acabou", informou.

Ribeiro considera que "agora todos estão vendo como as denúncias que a APP fez lá atrás sempre foram verdadeiras". De acordo com o representante do sindicato, "descobre-se o problema depois que ele acontece, e não antes. Quando o professor fica doente, o restante tem que continuar indo na escola. As aulas não são suspensas. O correto é suspender, mas isso só ocorre quando os alunos são infectados. Daí aquela turma tem as aulas canceladas até que a situação seja normalizada. O cuidado com a nossa classe é zero", reclamou.

Resposta

Procurada pela FOLHA, a Seed enviou uma nota que traz uma versão bem diferente da dos professores. Conforme a manifestação, "quando há notificação de casos de Covid-19 entre estudantes, professores ou funcionários de colégios estaduais, a instituição de ensino informa ao Comitê de Biossegurança de seu Núcleo Regional de Educação e toma as medidas orientadas pela Sesa (Secretaria Estadual de Saúde)".

De acordo com a secretaria, as orientações são as seguintes:

Caso suspeito:

Diretor solicita que a pessoa fique em isolamento e a encaminha a uma unidade de saúde local.

Caso confirmado de aluno:

Suspensão das aulas presenciais da turma do aluno que testou positivo.

Caso confirmado de professor:

Suspensão das aulas presenciais das turmas nas quais o professor ministrou aulas.

Três ou mais casos confirmados na mesma escola em menos de 14 dias:

Comissão de biossegurança do Núcleo Regional de Educação e chefe do Núcleo analisam a situação e podem suspender as aulas presenciais do turno ou da escola inteira.

O órgão finaliza a nota dizendo que "monitora os casos de Covid-19 nas escolas e publica semanalmente no site um levantamento do número de casos positivos e de escolas e turmas fechadas".