Rio - Pela primeira vez, há mais pretos e pardos no ensino superior público no Brasil do que brancos, mostram dados divulgados nesta quarta (13) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Imagem ilustrativa da imagem Pretos e pardos são maioria nas universidades públicas no Brasil, diz IBGE
| Foto: Saulo Ohara/20-8-2018

Os dados, da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), são de 2018 e apontam 50,3% de pretos e pardos nas universidades públicas brasileiras. Já brancos e outros compõem 49,7% do total, o que indica sub-representação do primeiro grupo - na população em geral, 55,8% são negros (pretos e pardos, pelo critério do IBGE).

Um dos fatores aos quais o IBGE credita esse avanço é o sistema de cotas, que reserva vagas a candidatos de determinados grupos populacionais, além de programas de apoio e expansão em universidades federais.

"Aumentou a autodeclaração de pretos ou pardos entre jovens", justificou Luanda Botelho, analista da Coordenação de População e Indicadores Sociais do IBGE. Desde 2016, pelo menos 50% das vagas disponíveis no Sisu (Sistema de Seleção Unificada), um dos programas de cotas, são distribuídas por critérios de renda, cor ou raça, conforme determinação do Ministério da Educação. Na rede privada, a maioria ainda é de brancos: 53,4% fazem parte desse grupo. Já negros e pardos representam 46,6% do total.

Mas, segundo o IBGE, o número também representa um aumento: eram 43,2% de negros e pardos nas universidades privadas em 2016. A melhora se deve especialmente a programas de financiamentos estudantis, como o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) e o Prouni (Programa Universidade para Todos).

Na divisão por idade, 55,6% dos estudantes pretos e pardos entre 18 e 24 anos estão nas universidades do País, enquanto 29,6% deles ainda estão no ensino médio e 4,9% não saíram do fundamental. Segundo o IBGE, o percentual de negros cursando ensino superior aumentou de 50,5% em 2016 para 55,6% em 2018, mas continua abaixo dos 78,8% de brancos dessa faixa etária que cursam uma faculdade.

ZONA RURAL

Embora a escolarização venha avançando nos últimos anos, o País ainda tem um longo caminho a percorrer para reduzir as desigualdades raciais no campo da educação. Um em cada cinco negros que vivem em zonas rurais ainda é analfabeto - está entre as pessoas com pelo menos 15 anos de idade que não sabem ler nem escrever.

A taxa de analfabetismo de pretos e pardos (9,1%) é mais do que o dobro do que a dos brancos (3,9%). Na zona rural, a taxa de analfabetismo de pretos e pardos sobe a 20,7%, contra 11% dos brancos. Mesmo em áreas urbanas, o analfabetismo é mais de duas vezes maior entre negros: a taxa de analfabetismo de brancos é de 3,1%, enquanto a de pretos e pardos é de 6,8%. A desigualdade de escolarização persiste mesmo quando comparadas as populações brancas e pretas ou pardas por faixas de renda, incluindo a população mais abastada. Entre os 20% da população com maiores rendimentos per capita, a evasão escolar de jovens adultos com 18 a 24 anos era de 4,3% entre os brancos. Entre os negros nessa faixa etária, essa evasão subia a 7,6%. "Mesmo quem está no quinto de maiores rendimentos, há desigualdade entre população branca e preta ou parda. Não é só questão de rendimento", observou Luanda Botelho.

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