Os dados revelados pelo estudo Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, do IBGE, fortalecem o entendimento de que as disparidades são causadas por preconceito racial, e não apenas uma questão de classe. Os números, contudo, precisam ser respondidos com medidas contra a desigualdade, sob pena de continuarem se repetindo.

A avaliação é da professora Lucimar Dias, integrante do NEAB-UFPR (Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade Federal do Paraná). Em entrevista à FOLHA, a doutora em educação explica que, apesar dos avanços, os cenários de desigualdade revelados estudo após estudo tendem a ser negligenciados.

“Seria importante que a sociedade pensasse nesses dados ao longo de todo o ano”, diz, em referência à maior visibilidade dada à questão da desigualdade racial em novembro. “Se não começarmos a construir políticas para superá-los, podemos cair nessa repetição de sempre constatar que a desigualdade foi rompida em certo grau, mas sem chegar aonde queremos, que é a igualdade”, diz. “A política de combate ao racismo tem de ser contínua, permanente e atender a várias instâncias.”

Para Dias, a constatação de que há, pela primeira vez, mais pretos e pardos no ensino superior público do que brancos é uma evidência de que as cotas raciais em universidades foram eficazes. “Foi a aplicação de uma ação afirmativa que fez o percentual, que já foi de 4%, ser impulsionado”, avalia.

A professora também considera o aumento da presença de negros nas instituições privadas um resultado positivo de programas de financiamento estudantil. “É consenso que, para melhorar a empregabilidade, é preciso investir na educação superior, cujo responsável é o governo federal. Desmontar essa política significaria recuar”, defende. “[O aumento da presença dos negros no ensino superior] produziu mais conhecimento, pluralizou a universidade e qualificou a população”, diz.

Já a persistência de maiores taxas de analfabetismo entre a população negra — mais acentuadamente no campo — evidencia a existência de desafios específicos que apenas a política de cotas na educação superior não dá conta de superar, avalia Dias.

“Se não houver uma política que considere que há mais negros analfabetos, e leve em consideração onde eles estão, não vamos superar essa desigualdade”, diz.

Segundo a especialista, são necessárias políticas de educação específicas para o campo. “Há uma lógica diferente, que dialoga com o sujeito naquele espaço”, explica. “Se não fizermos políticas pensando nestas especificidades e particularidades, os números vão se manter desiguais”, aponta.

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