Nas quadrilhas especializadas há até criminosos especializados em escalar e sabotar caminhões em movimento
Nas quadrilhas especializadas há até criminosos especializados em escalar e sabotar caminhões em movimento | Foto: Marcos Zanutto



Segundo a Fetranspar (Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado do Paraná), o Paraná responde por pouco mais de 3% dos roubos de cargas no Brasil. O número é pequeno na comparação com o Rio de Janeiro, onde ocorrem 40,81% dos crimes do tipo, e com São Paulo, com 40,75% das ocorrências. Os dados são da NTC&Logística (Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística) e se referem a 2017.

Os riscos a que estão sujeitos motoristas e empresas de transporte de cargas nas estradas do Estado, no entanto, exigem atenção, dizem fontes da área. Segundo a Fetranspar, cerca de 70 roubos de carga são comunicados todos os meses no Estado. As ações criminosas vão desde os furtos não violentos nos postos de beira de estrada até roubos de cargas valiosas com armamento de uso restrito das Forças Armadas, passando por simples assaltos.

Além de armas como submetralhadoras e espingardas, as quadrilhas lançam mão de artifícios como bloqueadores eletrônicos de rastreamento para poderem movimentar cargas roubadas livremente e até criminosos especializados em escalar e sabotar caminhões em movimento.

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"Eles se aproximam do veículo e um deles, o 'homem-aranha', sobe, vai até a frente e tira os cabos para que o veículo pare de funcionar e, assim, eles possam fazem a abordagem. É um tipo de roubo que acontece na serra, quando veículos andam em baixa velocidade", contou a policial rodoviária federal Silvane Furlanetto.

Trechos como a BR-376 entre São José dos Pinhais, na Grande Curitiba, e Garuva (SC) são considerados pontos críticos no Paraná. "Temos inclusive trechos onde há ausência de comunicação e o risco é maior", conta o delegado titular da DFRC (Delegacia de Furtos e Roubos de Cargas) de Curitiba, Ademair da Cruz Braga Junior.

Em Irati (Sudeste), predominam ocorrências de roubo de combustível, enquanto em Palmeira (Sul) observam-se mais roubos de carga. Curitiba e região metropolitana, por conta da malha viária que liga o Sul ao Norte do País, acaba sendo alvo de criminosos interessados em produtos que saem do Rio Grande do Sul, como fumo e produtos da indústria de automóveis. A região também atrai ladrões visando cargas a caminho do Porto de Paranaguá. No interior, há maior índice de roubos de frango e soja, especialmente no Oeste. Já na região de Londrina, o maior problema são os receptadores.

Segundo a publicação mais recente da NTC&Logística das estatísticas de Roubo de Cargas no Brasil, referente a 2017, o número de roubos de carga no País saltou de 14,4 mil em 2012 para 26 mil em 2017 - alta de 80%. O delegado da DFRC, no entanto, diz que o Paraná está na contramão dessa tendência.

A delegacia apresentou em dezembro um estudo apontando uma redução de 56% dos crimes ligados ao transporte em 2018 - chegando a 100% para determinadas cargas, como frango. No caso de roubos de cargas de cigarros, a redução foi de 85%.

Segundo Braga Junior, embora o roubo de cargas seja atrativo para os criminosos pelo alto retorno, há fatores que facilitam a investigação destas organizações. "O roubo de cargas, diferente dos demais, não é uma ação dinâmica, porque depende de locais estáticos para acondicionar a carga roubada, como barracões e depósitos", explica. "Isso permite que a investigação siga a extensa linha até o receptador, que passa por motoristas, agenciadores e falsificadores. Isso permite agir preventivamente", diz. A DFRC relata ter recuperado 90% das cargas roubadas de maior valor (acima de R$ 200 mil).

Embora o índice de roubos de carga no Paraná seja "insignificante" na comparação com São Paulo e Rio de Janeiro, não se deve descansar diante desses números, defende o presidente da Fetranspar, coronel Sérgio Malucelli. "Precisamos diminuí-los com mais ações preventivas das polícias rodoviárias e reforço da investigação por parte da Polícia Civil", diz.

Segundo a policial rodoviária federal Silvane Furlanetto, a PRF faz rondas regulares para inibir os crimes, mas fatores como o número baixo de efetivo para a longa extensão das rodovias dificultam a operação. "É difícil estar todo o tempo todo na rodovia", diz.