Pelos hospedeiros das redes sociais e grupos de mensagens, o vírus da desinformação começou a circular entre 2015 e 2016 e, sem alarde, se tornou uma pandemia. Mensagens falsas, estudos sem fontes, opiniões baseadas na pseudociência se espalharam e, logo, o movimento antivacina ganhou força e viveu seu ápice na crise global do coronavírus.

A taxa de imunização do Plano Nacional de Vacinação caiu, 
drasticamente, no calendário tradicional e nas campanhas
A taxa de imunização do Plano Nacional de Vacinação caiu, drasticamente, no calendário tradicional e nas campanhas | Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Após tantos sintomas, o diagnóstico. A alta taxa de imunização do Plano Nacional de Vacinação caiu, drasticamente, tanto no calendário tradicional, por idade, quanto nas campanhas. Hoje, o Paraná possui a menor cobertura vacinal dos últimos cinco anos. Levantamento feito pela FOLHA aponta que doenças como poliomielite e sarampo têm índices de imunização que colocam o setor da saúde em alerta.

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De acordo com os dados da Sesa (Secretaria da Saúde do Estado do Paraná), a vacina da poliomielite tinha uma cobertura de 90% até 2018, mas o número caiu para 53% das crianças até o momento, lembrando que os dados de 2022 ainda estão em aberto.

Na atual campanha, o Estado já conseguiu vacinar 63% de mais de 620 mil crianças até 4 anos, até quarta-feira (28), de acordo com Vacinômetro Nacional. O percentual de cobertura cresceu nas últimas semanas após ampla divulgação e apelo para que os pais levassem os filhos para imunização nos postos de saúde.

Mesmo assim, ainda significa que quase 40% do público-alvo segue desprotegido de uma doença que foi erradicada há 30 anos no Brasil, mas que teve o vírus encontrado em esgotos de Nova York e Londres em agosto. O vírus da pólio é transmitido pelo contato direto entre pessoas por via fecal-oral, objetos, alimentos e água contaminada, além de gotículas da garganta na fala, tosse ou espirro.

Por aqui, a campanha contra a poliomielite, voltada para crianças até 4 anos, segue até sexta-feira (30), mas os órgãos de saúde se desdobram para atingir um percentual abaixo em comparação ao de cinco anos atrás.

Imagem ilustrativa da imagem Paraná tem menor cobertura vacinal de sarampo e poliomielite em cinco anos
| Foto: Folha Arte

De acordo com a chefe da Divisão de Vigilância do Programa de Imunização no Paraná, Virginia Dobkowski Franco dos Santos, após as três doses iniciais entre 2 e 6 meses de idade, o reforço vacinal da pólio é feito aos 15 meses e aos 4 anos com o objetivo de reativar o sistema imunológico com as “gotinhas”, que se tornaram um símbolo da vacinação brasileira com o personagem Zé Gotinha.

O levantamento mostra que a cobertura até 4 anos atingiu 86,79% em 2019 no Estado, mas após a pandemia, o número caiu para 67,87% no ano passado. Há dois dias do final da campanha, com encerramento prorrogado de 9 para 30 de setembro, a cobertura vacinal deve ficar mais uma vez abaixo do ano anterior. A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda 95% da cobertura vacinal, mas a atual campanha no Brasil está apenas com quase 55% do público-alvo imunizado contra a pólio.

“Não é falta de vacina ou de acesso. Ampliamos os horários de atendimento e a divulgação, mas existe uma falta de percepção do risco dessas doenças erradicadas e muita desinformação sobre vacinas por causa do aumento de fake news na Saúde”, alertou a chefe da Divisão no Paraná.

Ela também lembrou que a campanha de imunização contra o sarampo foi realizada entre abril e maio deste ano, junto com a vacinação da influenza, mas apenas 47% das 620 mil crianças até 5 anos foram imunizadas com a tríplice viral (sarampo-caxumba-rubéola) no período.

Após 20 anos, o Paraná voltou a registrar casos de sarampo a partir de agosto de 2019, quando uma mulher teve a doença na Região Metropolitana de Curitiba, depois de uma viagem ao Estado de São Paulo, que registrou surto de sarampo naquele ano. A doença pode ser transmitida por gotículas com partículas do vírus pelo ar e pelo contato social.

No ano seguinte, o Paraná também registrou surtos da doença e teve mais de 2 mil casos de sarampo entre 2019 e 2020. Não houve óbito por sarampo no período. Dependendo da evolução da doença, o sarampo pode ser fatal.

A vacina no Brasil é recomendada em duas doses: aos 12 meses com a vacina tríplice viral e aos 15 meses com a tetra viral (sarampo-caxumba-rubéola-varicela). Na ausência da tetra viral, a criança também pode ser imunizada com a segunda dose da tríplice viral, mais a vacina da varicela.

O secretário municipal de Saúde, Felippe Machado, afirmou que o mundo passou por duas pandemias ao mesmo tempo. Além da Covid-19, a proliferação das fake news foi nociva e prejudicou a vacinação como um todo no planeta, na avaliação dele.

Outro fator apontado pelo chefe da pasta da Saúde em Londrina é que as novas gerações não conviveram com as doenças erradicadas pelas vacinas no Brasil. O último caso de pólio no país é de 1989. “As gerações passadas temiam perder os filhos para essas doenças ou que eles ficassem marcados por toda a vida pelas sequelas. Esse é um risco que a geração atual pode voltar a enfrentar, mas ainda é possível reverter, graças a vacina”, alertou.

A Secretaria de Saúde de Londrina promoveu uma série de ações para aumentar a vacinação durante a campanha contra poliomielite. As Unidades Básicas de Saúde tiveram os horários de atendimento ampliados para atenderem aos pais e crianças após às 18h e nos sábados. Além disso, a vacinação contra pólio também foi realizada em shoppings e nas escolas, com autorização dos responsáveis pelos alunos. “É uma luta inglória, mas não podemos desistir”, desabafou.

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