Imagem ilustrativa da imagem Movimentos sociais protestam em Londrina contra morte de negro no RS
| Foto: Pixabay

O movimento negro, junto com outros movimentos sociais e entidades sindicais de Londrina, programam para a noite desta sexta-feira (20), Dia da Consciência Negra, uma manifestação em frente a unidade do Carrefour, em um shopping da zona sul, em protesto à morte de João Alberto Silveira Freitas, após sofrer agressões por parte dos seguranças de outra unidade da rede em Porto Alegre (RS).

O ato é organizado porque os movimentos entendem que o Carrefour também tem responsabilidade na morte. Negro, Freitas morreu após sofrer espancamento por dois seguranças de uma loja localizada no bairro Passo D’Areia, na capital gaúcha.

Em manifestação oficial por meio da assessoria de imprensa, a rede informou que romperia o contrato com a empresa responsável pelos seguranças e que demitiria o funcionário responsável pela loja na hora do ocorrido.

Fátima Beraldo, gestora de promoção da igualdade racial de Londrina, afirma que o ocorrido no Rio Grande do Sul "não é um ato isolado”. "O Carrefour é uma empresa em que é recorrente situações de racismo. Tem as que saem na imprensa, mas tem outras que não são noticiadas. Portanto, a indignação do movimento negro não é só por hoje, mas várias outras situações que são denunciadas e que não é tomada nenhuma medida”, diz.

A organização pede que os participantes levem velas, cartazes e faixas e que não descuidem em relação às medidas preventivas para evitar a proliferação do novo coronavírus. "O ato é necessário, assim como é tomarmos os cuidados como o uso de máscara, manter o distanciamento e levar álcool em gel”, alerta.

O OCORRIDO

Um inquérito foi instaurado para apurar as circunstâncias da morte de Freitas. Mais cedo, a delegada responsável pela investigação, Roberta Bertoldo, disse à imprensa que não se trata de um caso de racismo, mas não explicou o motivo para esta conclusão. Os dois homens responsáveis pelas agressões foram presos em flagrante.

Amigos de Freitas relataram à "Folha de S. Paulo” que o ambiente do mercado era hostil aos clientes torcedores do clube de futebol São José. "Geralmente, quando ia no mercado, o segurança já começava ficar olhando de cara feia pra gente, já tinha discriminação contra nós. Pegaram ele sozinho e agiram daquela forma", disse o amigo Carlos Eduardo Borges Carneiro.

O caso já tem sido comparado com o assassinato de George Floyd, um homem negro morto por sufocamento nos Estados Unidos em uma abordagem policial. "Não consigo respirar", disse Floyd, enquanto era contido.

No caso de Beto, como João Alberto Silveira Freitas era chamado pelas pessoas próximas, os seguranças chegaram a ficar em cima dele, nas costas, segundo a delegada Roberta Bertoldo, da 2ª Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa de Porto Alegre. Este tipo de contenção dificulta a respiração.

"Foi verificado junto à perícia que provavelmente ele tenha morrido por asfixia ou ataque cardíaco. O dois seguranças que agrediram ficaram em cima dele, aquilo dificultou a respiração dele. Quando falamos em asfixia não significa necessariamente estrangulamento, mas aquela forma de contenção de ficar em cima dele fez com que tivesse dificuldade de respirar e pode ter ocasionado um ataque cardíaco. Aguardamos o laudo oficial, mas são indícios preliminares a partir de sinais identificados pela perícia no corpo dele", disse Bertoldo à Folha.

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HISTÓRICO

Em agosto deste ano, a reação à morte de um representante de vendas em uma loja da rede de supermercados em Recife (PE) provocou críticas. O supermercado continuou a funcionar e o corpo do homem foi encoberto com guarda-sóis, tapumes e fardos de cerveja.

Na ocasião, o Carrefour disse que foi um erro não fechar a loja imediatamente.

O episódio foi o segundo a ter forte repercussão em redes sociais envolvendo a rede varejista. Em 2018, a morte da cadela Manchinha, vítima de agressão em uma loja do Carrefour em Osasco (Grande São Paulo), gerou protestos em frente à loja e uma investigação policial.