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Maringá tem melhor saneamento do Brasil, e capitais do Norte, os piores

Paraná tem três cidades entre as 10 melhores do ranking do Trata Brasil. Londrina aparece na 14ª colocação

ATUALIZAÇÃO
20 de março de 2024

Thiago Amâncio - Folhapress
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Imagem ilustrativa da imagem Maringá tem melhor saneamento do Brasil, e capitais do Norte, os piores

São Paulo - Enquanto capitais da região Norte têm os piores índices de saneamento básico do Brasil, a cidade de Maringá tem os melhores. É o que aponta o Ranking do Saneamento 2024, publicação do Instituto Trata Brasil que analisa anualmente indicadores das cem maiores cidades brasileiras.

Segundo o estudo, cerca de 32 milhões de pessoas não têm acesso à água potável no Brasil e 90 milhões não estão conectadas à rede de esgoto, "refletindo em problemas na saúde para a população que diariamente sofre, hospitalizada por doenças de veiculação hídrica."

A cidade com o melhor saneamento do Brasil, segundo o instituto, é Maringá, com 99,99% da população com acesso à rede de água, 99,99% atendida por coleta de esgoto e 100% desse esgoto tratado. A cidade investe em média R$ 57,21 por habitante em saneamento.

As paulistas São José do Rio Preto e Campinas aparecem em seguida no ranking, também com nota máxima. A lista das 10 mais que segue com Limeira (SP), Uberlândia (MG), Niterói (RJ), São Paulo e Santos (SP), é fechado por duas paranaenses: Cascavel e Ponta Grossa, nas 9ª e 10ª posições.

Londrina aparece na 14ª posição, logo atrás de Foz do Iguaçu. O segundo município mais populoso do Paraná ganhou cinco posições na comparação com o ano anterior e ficou com nota 9,21. Curitiba aparece na 22ª colocação, sete abaixo do registrado em 2023.

O ranking foi feito a partir de dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento de 2022, os mais recentes, publicados pelo Ministério das Cidades -ou seja, com informações coletadas dois anos após a aprovação do Marco Legal do Saneamento no governo Jair Bolsonaro (PL).

Os piores índices são os de coleta e tratamento de esgoto. De acordo com o Trata Brasil, mais de 5.200 piscinas olímpicas de esgoto são despejadas diariamente na natureza sem tratamento.

"O tratamento dos esgotos é o indicador que está mais distante da universalização nas cidades, mostrando-se o principal gargalo a ser superado. Temos menos de dez anos para cumprir o compromisso de universalização do saneamento que o país assumiu para com os seus cidadãos", diz Luana Siewert Pretto, presidente da organização.

"Neste ano, de eleições municipais, é preciso trazer o saneamento para o centro das discussões."

Segundo o Marco Legal do Saneamento, cidades com 99% da população com acesso à água tratada e 90% com coleta e tratamento de esgoto são consideradas universalizadas.

A capital mais bem avaliada no ranking foi São Paulo, com 99,29% da população com acesso a água potável, 97,31% ligada à rede de esgoto e 73,08% do esgoto tratado. A cidade tem um investimento de R$ 219,20 em saneamento per capita.

Segundo o Trata Brasil, há "correlação entre o volume de investimentos e os avanços nos indicadores de saneamento básico".

Os 20 municípios que aparecem mais bem ranqueados tiveram investimento anual médio de R$ 201,47 per capita. Já os 20 piores investiram em média R$ 73,85 por habitante, uma diferença de 173%.

Maringá, porém, campeã do ano, investe apenas R$ 57,21 por morador em saneamento. De acordo com a publicação, cidades que já possuem indicadores avançados de desenvolvimento ou sistemas universalizados "podem apresentar valores abaixo da média nacional, sem comprometer o atendimento às metas".

No fim da lista está Várzea Grande (MT), na Grande Cuiabá, que investe apenas R$ 25,91 por morador.

Para cidades com o pior saneamento, "por terem indicadores muito atrasados e distantes da universalização, ter um investimento anual médio por habitante baixo resulta em uma dificuldade muito grande para atingir às metas estabelecidas".

Na média, as grandes cidades investem R$ 138,68 por habitante. O Plano Nacional de Saneamento Básico estabelece que é necessário um investimento de R$ 231,09 por habitante. Somente dez cidades investem acima disso, enquanto 42 gastam menos de R$ 100 por morador.

No topo da lista estão montantes vultosos, como Praia Grande (R$ 693), no litoral paulista, Santo André (R$ 628,07), Cuiabá (R$ 472,42) e Aparecida de Goiânia (R$ 463,28).

Os valores altos se explicam por grandes obras recentes de infraestrutura. Praia Grande, por exemplo, diz que investiu R$ 120 milhões em obras do Programa Onda Limpa para implementar sistemas de coleta e tratamento de esgoto a fim de despoluir suas praias.

Já Santo André também recebeu investimentos expressivos após a Sabesp assumir o serviço na cidade, em 2019.

A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) atende a 19 cidades das 100 maiores do país, segundo o ranking, quatro delas na lista das 15 melhores. A empresa deve ser privatizada ainda neste ano pelo governo Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Gesner Oliveira, da GO Associados, que também elabora o ranking, aponta que "o setor começa a reagir e a observar melhora em alguns indicadores, sobretudo nos municípios onde ocorreram leilões recentemente".

"No entanto, o avanço ainda é tímido e se quisermos atingir a universalização em tempo hábil até 2033, é necessário que o investimento anual mais do que dobre, saindo de seus R$ 22 bilhões anuais para quase R$ 47 bilhões anuais", diz.

Das cinco cidades com o melhor saneamento do país segundo o ranking, apenas uma tem o serviço operado por uma empresa privada, Limeira, com a BRK.

O ranking aponta que 22 dos 100 maiores municípios do países possuem 100% da população com atendimento total de água, e outras 18 cidades têm 99% da população contemplada, o que se adequa ao conceito de universalização segundo o Marco Legal do Saneamento. Do total das 27 capitais brasileiras, só 9 têm abastecimento acima de 99%.

Estão na região Norte as cinco cidades grandes com os piores acessos à água potável: Porto Velho, com apenas 41,79% da população; Ananindeua (PA), com 42,75%; Santarém (PA), com 48,8%; Rio Branco, com 53,5% e Macapá, com 54,38%. Três delas são capitais.

Já em relação à rede de esgoto, apenas cinco cidades têm 100% de coleta: Belo Horizonte e as paulistas Santo André, Piracicaba, Mauá e Bauru. Outras 35 cidades têm índice superior a 90%, o que também atende aos critérios do Marco Legal para universalização.

Além disso, seis cidades têm 100% de esgoto tratado e outras 23 têm índice superior a 80%, o que as coloca no critério de universalização. A média do tratamento de esgoto entre as cem maiores cidades é de 65,55%, enquanto a média brasileira é de 52,23%.

São João do Meriti (RJ) tem o pior índice, com nada do esgoto tratado. Outras cidades da Baixada Fluminense também aparecem entre as piores da lista, como Duque de Caxias e Belford Roxo.

É na região Norte onde estão as piores capitais em termos de esgoto. Em Porto Velho e Macapá, menos de 10% da população tem coleta. Na capital de Rondônia, apenas 1,71% do esgoto é tratado. Em Belém, onde quase 20% da população está ligada à rede, só 2,38% dos dejetos são tratados. Em Rio Branco, 0,72%.

Outro indicador avaliado no ranking do Trata Brasil foram as perdas na distribuição de água, medida pela relação entre água produzida e água efetivamente consumida nas residências.

Em média, 35,04% da água produzida nas maiores cidades do país foi perdida na distribuição, melhora em relação aos 36,51% do ano anterior. Só 14 cidades tiveram perdas abaixo de 25%, valor considerado adequado pelo instituto. Em outras 20 cidades, a perda supera os 50%.

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