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Economia 5m de leitura

Manifestantes se reúnem em ato contra fechamento do comércio de Londrina

Profissionais de diferentes áreas consideram lockdown medida absurda

ATUALIZAÇÃO
06 de julho de 2020

Walkiria Vieira - Grupo Folha
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A concentração de carros na manhã de domingo chamou a atenção de moradores do Jardim Presidente. Com o objetivo de apelar para que o governo estadual não exija o fechamento do comércio de Londrina, profissionais de diferentes áreas de atuação se organizaram num ato pró-comércio. O ponto de encontro foi a avenida Castelo Branco, altura do número 180 - mas que ficou pequena para o número carros. Ruas como Dom Pedro II também foram ocupadas e o buzinaço fez cidadãos saírem às janelas em apoio ao movimento. O trajeto seguiu pela avenida Maringá, depois avenida Ayrton Senna, passou pela Madre Leonia Milito, movimentou toda a avenida Higienópolis e também trafegou pela rua Quintino Bocaiúva, avenida Rio Branco e chegou até a avenida Saul Elkind, na região Norte.  
 
O comerciante Rodrigo Casagrande, 40 anos, atua no ramo de papelaria e afirma que a união é por todos. "Recebemos o decreto do governador como algo ilógico porque os números mostram que não existe real motivo para esse novo fechamento". Casagrande está integrado a um grupo de WhatsApp que inclui mais de mil participantes. "Londrina é uma cidade que vive da prestação de serviços e do comércio, a população está consciente, tomando os cuidados e sabemos que esse possível fechamento também afeta a arrecadação municipal", alerta.
O representante de móveis para escritório, Leonardo Roger Santana, 45 anos, trata o ato como um gesto de comoção. "De modo pacífico, queremos que o prefeito não ceda ao lockdown. Isso é descabido e há cidades em condições piores e que não foram ameaçadas", argumenta. O empresário Marcos Granado, 50 anos, também esteve presente ao ato. Sente na pele e no bolso os reflexos da pandemia e teme pelo fechamento que pode ser feito novamente. Granado é do ramo de hotelaria e motéis e confessa que tem sofrido muito. "Estamos aqui pela preservação dos empregos. A cidade está sem eventos, o turismo de negócios está estagnado, mas em contrapartida os boletos, a folha de pagamento e os encargos não param", expõe. 
Pontos de vista, fatos e argumentos a favor do comércio
 A empresária Patricia Tófano, 43 anos, reflete: "Analise os números de óbitos registrados em cartório e veja que em 2018 morreram mais pessoas que agora, sabendo que ainda muitos receberam a causa "covid"  sem confirmação.Os números provam que é uma manipulação política. Chegamos ao ponto da irresponsabilidade de o governo, que sem levar em conta e avaliar com "sanidade" a consequência catastrófica para as famílias e empresas londrinenses de um novo fechamento do comércio, mais uma vez antecedendo a datas "comemorativas". Tófano relata que a construtora  do marido tem  50 funcionários. "Devido aos fechamentos, os clientes pararam as obras, cancelaram outras e o saldo de tudo isso são 45 desempregados", enumera. De seu ponto de vista, quem mais sofre são pequenos e médios empresários que não sobreviverão a mais um fechamento. "Triste irresponsabilidade", desabafa. 
Com duas carteiras de trabalho preenchidas no ramo da construção civil, o pedreiro e azulejista Aparecido Mariano Garcia, 61 anos, diz que há três teve que se reinventar e comercializa sucata. "Trabalhei para várias empreiteiras, ajudei a erguer muitos desses prédios da gleba, mas a idade avançada é um fator limitante. Agora carrego sucata para revender e vejo que algumas pessoas como servidores públicos - que possuem pagamento garantido todo mês, não pensam nos outros, e no que pode piorar. 
 
O autônomo Marcos Antônio Ferreira Delfino, 50 anos, atua como ambulante. É paraibano e vende tapetes, redes, casinhas de boneca e apoia o protesto na base da buzina. "Penso que vai prejudicar mais ainda. Eu pago aluguel e embora o governo liberou esse dinheirinho, já vai acabar. MInha esposa trabalha em uma faculdade como técnica de laboratório. Está há quatro meses em casa e sabe que muitos já foram dispensados. Fica em casa angustiada". conta. 
O empresário Jairo Melo Costa, 40 anos, atua no ramo de confecções e se mostra preocupado. "Mais uma vez estamos passando esse dilema, essa dificuldade em relação à economia da nossa cidade. Sabemos que a pandemia está aí, presente ainda, mas conforme nossa prefeitura vem nos informando, Londrina está muito bem frente a muitas cidades do Brasil e não tem porquê a gente fechar novamente, né?". questiona.
Segundo o empresário, estudos recentes mostram que um comércio parado de 25 a 28 dias já pode ir à falência. "Já ficamos fechados 30 dias, a venda recomeçou muito abaixo e apesar dos horários reduzidos, fechamento aos sábados - que representa 30% das vendas, estávamos nos recuperando. Agora tomamos essa paulada de novo. Estamos na incerteza e estamos na expectativa da live do prefeito deste domingo. Se ele determinar pelo fechamento, vamos acatar. Com isso, pode ter certeza que haverá lojas fechando, comércios falindo. Eu caminho e observo o mercado. Vejo inúmeras lojas fechadas e pontos para locação. Com tudo isso, a carreata visa a importância da manutenção do comércio aberto. Nossa cidade depende do comércio e vai ao desastre total. Estamos na luta, com fé em Deus que tudo isso vai passar para que saúde das empresas também sejam restauradas. Precisamos desse fôlego, expõe. 
E a saúde emocional como está? 
A coach parental Juliana Flores é contra o fechamento do comércio. Mãe de Ana Clara, 10 anos e Isaac, de sete anos, ela compreende muito bem os riscos da Covid19. Isaac é portador de paralisia cerebral e encefalopatia necrotizante aguda (ANE). Trata-se de uma doença rara, são 200 casos em todo o mundo e no Brasil só há mais um caso além do Isaac. "Se ele tiver uma gripe, pode vir a óbito", esclarece. "Por outro lado, não entendo qual é a lógica de fechar, pois todos os pontos elencados no decreto não condizem com a realidade de Londrina. E vão deixar a Regional como Jacarezinho, Ivaiporã e Apucarana, que utilizam os leitos de Londrina em caso de lotação abertos. Maringá está com mais infectados do que Londrina, com uma velocidade de contágio mais alta e não vai fechar",questiona. Na opinião de Flores, a mesma medida não está sendo aplicada a todos os lugares. 
E acrescenta: "No Paraná, maio fechou com 330 demissões, totalizando 1 milhão e 400 mil demissões no ano de 2020 desde o início do ano. Sei que esse vírus mata, tomamos todas as precauções e sabemos que as empresas que estão sendo fechadas agora e as pessoas que estão sendo demitidas, é um caso sem volta. Vai ter uma onda de fome, famílias passando necessidade, gente na miséria e já tem muita gente nessa condição. "Isso vai fazer com que aumente o número de doenças psicossomáticas, depressão, ansiedade, pânico, suicídio e até mesmo violência como assalto porque a população vai precisar de comida". Flores teme que entremos numa recessão nunca antes vista. "Nao vejo a necessidade do fechamento, mas vejo que existe muito mais política do que preocupação com a saúde da população. O prefeito Marcelo Belinati trouxe a estrutura certa para Londrina, levantou um aparato, nós nos equipamos e agora que estamos dentro dos parâmetros regidos, vem um decreto do governador", diverge. Flores também destaca a autonomia dos municípios. Isso não está certo", tem coisa errada, enfatiza.  
 
A nutricionista Pamela Rodrigues, 37 anos, engrossou a carreata. Só tirou a máscara para a fotografia. "Não tem necessidade de fechamento, não tem lógica essa determinação", pensa. A nutricionista explica que precisou fechar o consultório para os atendimentos presenciais. "Mas passei a fazer à distância. Vejo que os pacientes estão ficando mais ansiosos, depressivos e recorrendo à alimentação como fonte de prazer", alerta. " Sem poder ir a um parque, a um shopping, as pessoas sentem que falta algo. Vejo que a decisão pelo fechamento é um tratamento pior que a própria doença", crê. "Contraditoriamente, embora as famílias estejam mais em casa, e com mais tempo, estão aderindo a comidas práticas, fast-foods e os pais estão cedendo também por conta de toda essa situação. Basta olhar os serviços de delivery e as filas em drive-thru", expõe a nutricionista. 

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