Jogos atraíram indígenas e não-indígenas neste sábado (3); evento continua no domingo
Jogos atraíram indígenas e não-indígenas neste sábado (3); evento continua no domingo | Foto: Célia Musilli

Neste fim de semana, a tradição dos povos originários tem marcado presença ao lado do concreto verticalizado da Gleba Palhano. Dezenas de indígenas das etnias caingangue e guarani estão no Aterro do Lago Igapó para participar da primeira edição dos Jogos Indígenas em Londrina.

O evento pode ser assistido pelo público em geral. Ele começou na tarde deste sábado (3) e segue até por volta das 14h de domingo (4). A programação contempla 10 modalidades que, disputadas por homens e mulheres, vão desde arco e flecha até corrida de tora.

“Outras pessoas estão vendo de fora, conhecendo os povos indígenas”, elogia a guarani ñandeva Evelyn Lourenço, da Terra Indígena Laranjinha
“Outras pessoas estão vendo de fora, conhecendo os povos indígenas”, elogia a guarani ñandeva Evelyn Lourenço, da Terra Indígena Laranjinha | Foto: Lucas Marcondes

Uma das primeiras a conquistar o pódio, Evelyn Paola Lourenço, de 21 anos, saiu da Terra Indígena Laranjinha, em Santa Amélia, para, ao lado das demais companheiras de equipe, levar o ouro na corrida de maracá – uma espécie de revezamento praticado em tiros curtos.

Embora já tenha estado em outros torneios indígenas, é a primeira vez que a jovem guarani ñandeva vem para um evento nesse formato em um centro urbano. “É algo muito importante para a comunidade. Outras pessoas estão vendo de fora, conhecendo os povos indígenas, sua cultura, tradição, crenças. Do mesmo jeito que a gente é lá dentro, a gente traz para a cidade”, contou Lourenço, que também pratica futebol desde os oito anos na escolinha da comunidade do Norte Pioneiro.

Para o vice-cacique da Laranjinha, Valdecir Mendes Rodrigues, a iniciativa é uma oportunidade para que, assim como no maracá, seja feita uma passagem de bastão – mas de uma geração para outra.

“A gente procura, através desses jogos, trazer a juventude, as crianças [da terra indígena]. A gente briga, no bom sentido, para nossa educação evoluir dentro das nossas comunidades, para que não percam a cultura, sua língua materna.”

Mulheres caingangues e guaranis também competiram em várias modalidades, como o carregamento de toras
Mulheres caingangues e guaranis também competiram em várias modalidades, como o carregamento de toras | Foto: Célia Musilli

PROTesto contra marco temporal

Durante os jogos, caingangues e guaranis reforçaram o movimento de protesto que vem ocorrendo nos últimos dias contra a recém-aprovação do projeto de lei (PL) 490/2007 pela Câmara dos Deputados. A proposta, que ainda passará pelo Senado Federal, estabelece a data da promulgação da Constituição, em 5 de outubro de 1988, como marco temporal para definir quais são os territórios indígenas no Brasil.

Faixas e cartazes foram empunhados e, na solenidade de abertura, houve vaias contra Luísa Canziani (PSD). Assim como os outros três deputados federais de Londrina, ela votou a favor da matéria.

“É um genocídio para os povos indígenas, vai liberar o povo branco para explorar nosso território, como a água, a mineração. A gente fez esse ato para mostrar que está presente nesse Brasil”, criticou Anilton Lourenço, do grupo Nen-Gá, da Terra Indígena Apucaraninha, em Tamarana, na Região Metropolitana de Londrina (RML).

Em nota, Canziani declarou não ser contra a demarcação de terras indígenas. “Sou muito sensível às demandas e necessidades, respeito e valorizo muito a cultura indígena na construção do nosso país e na identidade cultural dos brasileiros”, afirmou a congressista.

Ela sustentou que o PL “não vai acabar com as terras indígenas”, já que o texto institui a data da promulgação da Constituição “como marco temporal para o reconhecimento de ocupação de terras por indígenas, salvo aquelas que até a referida data estavam em conflito possessório”. Para Canziani, a matéria “vai garantir segurança jurídica a quem detém a posse da terra e resolve um imbróglio judicial que estava há anos sem respostas.”