A instalação de peças com pontas de ferro na entrada da rodoviária de Arapongas (Região Metropolitana de Londrina), espaço usado como abrigo por pessoas em situação de rua, gerou polêmica na cidade e imagem das estruturas foram parar no Instagram do Padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo da Rua de São Paulo.

As placas com pontas de ferro foram retiradas da rodoviária de Arapongas na tarde de segunda-feira (13)
As placas com pontas de ferro foram retiradas da rodoviária de Arapongas na tarde de segunda-feira (13) | Foto: Gustavo Carneiro

Logo após a repercussão do caso, o prefeito Sérgio Onofre divulgou um vídeo em que diz que foi pego de surpresa por um ato de funcionários na rodoviária. “Eu sei que ela precisa ser reformada ou demoli-la e fazer outra, porque está um terror. É um projeto que queremos executar. Tem muitos andarilhos que não querem ir para lugar algum, porque ganham um dinheirinho. Ali cometem atos sexuais, ali dentro e acabam fazendo tudo quanto é coisa que não podem fazer, atrapalhando as pessoas que têm quiosque lá dentro. Foi feito um pedido à gerente e ela tomou a decisão com a Secretaria de Obras. Eu pedi para desfazer tudo.” Na tarde de segunda-feira (13), o material foi removido do local.

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A própria Secretária de Ação Social classificou a medida de implantação das peças metálicas como ineficaz. Segundo Ismailda Ferreira de Lima da Silva, a Nina, em nenhum momento a pasta foi consultada sobre a implantação do dispositivo. “Eu tive acesso a isso no domingo, pelas redes sociais. Em Arapongas temos o Centro Pop, que atende uma média de 25 a 30 pessoas por dia, que faz o acolhimento e as pessoas recebem refeições e é feita uma entrevista com cada morador, quando é verificada a necessidade dele naquele momento.” Ela explicou que é avaliada a necessidade imediata, se precisam ir ao médico, se está passando mal, ou se precisa de internação para tratar o alcoolismo ou o vício de drogas. “Nós temos uma parceria com o Caps, que facilita esta internação de forma rápida para não perder esse desejo dessa pessoa para este tratamento", destacou.

Uma das pessoas que utiliza o local para descanso é Sandoval Santos, 46, ajudante de churrasqueiro que atualmente está em situação de rua. Ele relatou ter dificuldades de conseguir emprego por ser analfabeto. “A gerente da rodoviária sempre toca a gente daqui.”

Outra pessoa atingida pela ação é o ex-motorista de caminhão, Henrique Martins Damasceno, 47, que passou a morar nas ruas depois de sofrer um acidente e permanecer vários meses em coma. “Perdi tudo o que tinha. Não sei quem inventou de colocar aquilo para impedir a gente de sentar. Desde que instalaram aquilo falei que era um crime. Em vez de colocar aquilo, porque não arrumaram os banheiros, ou melhoraram a iluminação, porque a rodoviária está bem abandonada”, declarou.

Padre Júlio Lancellotti, em entrevista à FOLHA, disse que a única forma de superar toda ação hostil na arquitetura e no comportamento urbano é sair da hostilidade para a hospitalidade, como propõe a filósofa Adela Cortina, que cunhou o termo aporofobia (rejeição à pobreza). Para combater isso, Lancelotti ressalta que é preciso conviver e construir com as pessoas. “Não é fazer para, mas fazer com. Não criminalizar, mas ajudar a libertar e superar, a crescer e a buscar autonomia sem impor e sempre propor”, declarou.

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