Em menos de três meses neste ano, Londrina atingiu 439 mortes por Covid-19, segundo números divulgados pela Secretaria Municipal de Saúde. Com as 14 mortes computadas no boletim desta segunda-feira (22), o número total de óbitos registrados neste ano já é maior que a soma dos quase dez meses de pandemia, entre março a dezembro de 2020, quando foram registradas 436 vítimas. No acumulado, até agora, são 875 vidas perdidas para infecção causada pelo novo coronavírus no município.

De acordo com os dados da saúde, o número de pessoas contaminadas em 2021 em Londrina também está bem próximo de atingir a marca do ano passado. De janeiro até março deste ano, foram 21.454 casos confirmados por exames laboratoriais contra 21.873 em 2020. Ao todo, 43.327 londrinenses contraíram a doença. São 230 novos casos confirmados só no último boletim e 702 casos ativos neste momento na cidade.

Dentre os contaminados, 494 pessoas estão em isolamento domiciliar, sendo que 208 estão internados em hospitais, sendo 93 em UTI's e 115 em enfermaria. Os números de 2021 demostram o esgotamento no sistema de saúde. Por conta da demanda londrinense e dos municípios da região norte do Paraná, o HU (Hospital Universitário) de Londrina divulgou nota nesta segunda-feira informando que 64 pacientes aguardam uma vaga de UTI adulto. No hospital, as taxas de ocupação das vagas exclusivas para tratamento de Covid-19 estão na seguinte situação: enfermarias, 105%; UTI adulto, 110%; UTI pediátrica, 14%; e Pronto Socorro, 189%.

Para a coordenadora do hospital de retaguarda do HU, Zuleica Tano, são inúmeros fatores que aumentaram a letalidade, entre eles o afrouxamento das medidas de distanciamento, além da novas variantes, como a P1 do Amazonas e a britânica circulando pela cidade que são mais transmissíveis e letais. "Estamos vivendo os piores dias desta pandemia, isso eu posso afirmar com toda a certeza" Segundo a médica infectologista, a responsabilidade é de todos. "Em 12 meses eu vi minha mãe duas vezes, ainda assim de máscara e após colher exames. A gente tem que ter mais responsabilidade com os outros. Sei que nem todos pensam assim, tem pessoas que dizem que as mortes ocorrem de qualquer maneira, mas nem todo mundo morre de uma vez procurando por atendimento. Nunca tivemos oito UTIs cheias com a mesma doença. "

A médica ressalta ainda que a diferença dos óbitos deste ano está também em relação a faixa etária que caiu drasticamente. "A grande maioria dos pacientes internados está na faixa de 40 a 60 anos. Temos internados na UTI com 35 anos." Só neste último boletim dos 14 mortos, 11 tem entre 68 e 85, mas há duas mulheres de 54 anos e um homem de 44 anos. Mas nos últimos dois meses começaram a aparecer pessoas entre 20 e 40 anos com mais frequência.

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A superintendente do HU, Vivian Feijó, defende medidas de distanciamento social rígidas para frear esse avanço. "Estamos num momento muito crítico da pandemia, penso que vivemos hoje não só uma crise na saúde, mas uma crise humanitária pois muitos já se cansaram e não estão mais aderindo as medidas necessárias , reforçá-las se faz essencial e oportuno para o momento." Temos que nos unir contra o vírus, ou infelizmente bateremos recordes de óbitos"

A diretora informa que para comportar as taxas de ocupação acima de 100%, o HU acomoda pacientes de Covid-19 em áreas não exclusivas para infecção humana pelo novo coronavírus, o que pode comprometer a capacidade técnica do hospital em receber a demanda da rede de urgência e emergência. "Todo mundo já conhece alguém que está grave ou foi a óbito, infelizmente a doença está em aceleração e o colapso hospitalar também contribui com a demora no acesso ao leito qualificado e isso a literatura já diz, quanto mais demorado for o acesso ao leito qualificado, maior a taxa de mortalidade" disse Vivian.

Para a médica infectologista, essa curva só irá cair quando o número de vacinados crescer. "Não aglomerar, usar máscara e quando chegar a sua vez tomar a vacina. Isso todos têm que ter em mente", finaliza Zuleica Tano.