Imagem ilustrativa da imagem Dados públicos indicam mais de 4 mil doses de vacina fora de validade aplicadas no PR
| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Pelo menos 59 cidades paranaenses teriam aplicado doses vencidas da vacina AstraZeneca, contra a Covid-19, segundo levantamento divulgado com exclusividade pela Folha de S. Paulo nesta sexta-feira (2). De acordo com a reportagem, Maringá foi o município com maior número de vacinas fora do prazo de validade no Brasil, chegando a 3.536 doses aplicadas. A Prefeitura de Maringá nega o ocorrido e diz que há desencontro entre o envio e o recebimento do registro de vacinas aplicadas no município.

Maringá é reduto eleitoral do deputado federal Ricardo Barros (PP), líder do governo de Jair Bolsonaro na Câmara Federal. O parlamentar também teve seu nome envolvido em denúncias de supostas irregularidades na aquisição de vacinas pelo Brasil, conforme depoimentos dados à CPI da Covid, que corre no Senado Federal.

A reportagem da Folha de S. Paulo indica que, pelo menos, 26 mil doses vencidas teriam sido aplicadas em todo o País. No Paraná, foram 4.060 pessoas vacinadas após a data de vencimento dos imunizantes.

Os dados foram extraídos de registros oficiais do Ministério da Saúde, comparando informações de aplicações constantes no DataSus e em informações do Sage (Sala de Apoio à Gestão Estratégica), que registra os comprovantes de entrega dos imunizantes contra Covid-19 por Estado, com informações públicas sobre o número do lote vacinal, a data de validade, o fabricante e a data de entrega.

Depois de Maringá, a segunda cidade no Brasil com o maior registro de vacinação com doses vencidas é Belém (PA), com 2.673, São Paulo, com 996, Nilópolis (RJ), com 852, e Salvador (BA), com 824.

Ainda de acordo com a reportagem, todas as vacinas vencidas aplicadas seriam da AstraZeneca e referem-se apenas à primeira dose. Dos lotes citados pelo jornal paulistano, o Paraná recebeu apenas dois, segundo a Sesa (Secretaria Estadual de Saúde): 4120Z005 e CTMAV520, mas a pasta também diz, em nota oficial, que não houve entrega aos municípios ou aplicação fora da data de validade.

Das 59 cidades paranaenses, 12 constam com mais de 10 doses vencidas aplicadas. Do outro lado, 32 delas constam com apenas uma dose vencida aplicada.

Para Londrina constam duas doses vencidas aplicadas. Em manifestação oficial, a Prefeitura de Londrina negou que alguém tenha recebido doses fora da data de validade. “Em análise com os técnicos da secretaria, foi constatado que os dois casos que motivaram a inclusão da cidade na matéria, foi devido a um erro digitação interno do número do lote para o sistema do Ministério da Saúde”, diz o informativo.

Na Região Norte do Estado, também chama a atenção a situação de Arapongas (Região Metropolitana de Londrina), que teria aplicado 77 doses vencidas do lote 4120Z005. A assessoria de imprensa da administração municipal também nega, por meio de nota, que os imunizantes tenham passado da data de validade.

Do lote citado, 900 doses foram recebidas no dia 27 de janeiro, com validade até 14 de abril. “Após a identificação, já foram mapeadas todas as pessoas que tomaram vacinas deste lote. Todas haviam recebido a vacina dentro do prazo de validade, sendo inclusive a maior parte aplicadas em profissionais de saúde, não havendo perdas de nenhuma dose recebida pelo município devido ao prazo de validade”.

A assessoria também ressalta que o período refere-se ao início da campanha de vacinação, quando houve demora no recebimento da informação enviada pelos municípios ao Ministério da Saúde, bem como o sistema do Ministério da Saúde passou a apresentar divergências entre a data de aplicação da vacina e a data do recebimento desta informação.

A Prefeitura de Maringá promoveu uma coletiva de imprensa para dar esclarecimentos sobre o caso e também diz que que todas as doses enviadas pelo governo federal foram aplicadas dentro do prazo de validade. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, existe um processo de verificação da validade das vacinas que começa no recebimento da nota fiscal, inserção no sistema e verificação no envio para as unidades de saúde e no momento da aplicação que tornam quase impossível o uso fora do prazo de validade.

Segundo a coordenadora imunobiológica da Secretaria de Saúde, ocorreram problemas ao transmitir as informações das vacinas aplicadas para Brasília, que já foram detectados e notificados ao Ministério da Saúde em 11 de junho para correção. “O Ministério respondeu aos nossos e-mails e a correção no sistema será feita”, diz Edilene Pires de Oliveira.

O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) vêm a público esclarecer que:

– Todos os casos sobre aplicação de doses contra a Covid-19 fora do prazo de validade serão investigados;

– Não está descartado erro do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações, que desde o início da Campanha de Vacinação apresenta instabilidade no registro dos dados;

– O número de casos identificados corresponde a 0,0026% de todas as doses aplicadas no País, sendo necessárias ponderação e investigação quanto à aplicação das doses e preenchimento das informações;

– A ação de Estados e Municípios visa dar rápida resposta à sociedade brasileira;

Por fim, ressaltamos que todos os profissionais destacados pelos municípios para aplicação das vacinas adotam as boas práticas de vacinação, dentre as quais, a checagem do prazo de validade.