O nome do líder do governo federal na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR), voltou ao centro de uma nova denúncia de corrupção na compra de vacinas contra a Covid-19, nesta terça-feira (29). Apenas quatro dias após o parlamentar ser apontado como suspeito de participação em possíveis irregularidades na negociação de compra da vacina indiana Covaxin, agora a suspeição contra ele recai sobre as tratativas na aquisição de doses da AstraZeneca.

Imagem ilustrativa da imagem Nova denúncia de corrupção na Saúde recoloca Barros sob suspeição
| Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

Na terça-feira, a Folha de S.Paulo noticiou que Luiz Paulo Dominguetti Pereira, representante de uma empresa de suprimentos médicos, relatou ao jornal que o diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, teria pedido propina no valor de US$ 1 por dose da vacina AstraZeneca em troca da assinatura de um contrato.

A repercussão negativa das acusações de Dominguetti, que trouxe à tona a segunda denúncia de corrupção na Saúde em menos de uma semana, e a possibilidade de eclosão de um novo escândalo de grandes proporções capaz de ruir o já cambaleante governo de Jair Bolsonaro, fizeram o Ministério da Saúde agir rápido. No mesmo dia, o titular da pasta, Marcelo Queiroga, anunciou que Dias seria afastado do cargo. A exoneração deveria ser publicada na edição do Diário Oficial da União desta quarta-feira (30).

Mas a manobra às pressas não conseguiu evitar que as atenções se voltassem, mais uma vez, a Ricardo Barros. Minutos depois de ter o nome citado pelos irmãos Miranda na CPI da Pandemia, na sexta-feira (25), o parlamentar usou as redes sociais para se defender, negando participação na negociação de compra da vacina indiana. No domingo, o líder do governo na Câmara havia divulgado nota na qual voltou a negar envolvimento com a Covaxin e se colocou à disposição da CPI. Nesta quarta-feira, a CPI aprovou o requerimento de convocação de Barros, Dias e Dominguetti. Sobre a sua ligação com Dias e a suspeita de irregularidades na compra da AstraZeneca, Barros ainda não se manifestou.

Na compra da Covaxin, a suspeita é de que Barros, que também foi ministro da Saúde no governo de Michel Temer (2016-2018), teria favorecido o esquema fraudulento ao propor uma emenda produzida para facilitar a importação do imunizante indiano, flexibilizando a análise da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Nesta semana, no caso mais recente, o nome do líder do governo surge ligado ao de Dias, que teria chegado ao cargo por indicação do deputado. Em suas redes sociais, Barros negou ter feito a indicação e disse desconhecer Roberto Dias.

REPERCUSSÃO

Na Câmara Federal, os parlamentares aguardam os desdobramentos da CPI e dentro de suas atribuições, tomam as medidas cabíveis para cobrar explicações do governo federal. Nesta quarta-feira, durante reunião da Comissão de Finanças e Tributação da Casa, deputados aprovaram a presença de Queiroga no próximo dia 14 de julho, antes do recesso parlamentar. Caso não compareça, o ministro poderá responder a processo. “A nossa posição é de exigir respostas e evidências. É um grande escândalo para um governo que tinha como única qualidade a honestidade, visto que a competência nunca foi seu forte”, ironizou o deputado federal e integrante da comissão Enio Verri (PT-PR), que assim como Barros, tem sua base eleitoral em Maringá (Noroeste).

Para Verri, em razão das últimas denúncias envolvendo a compra de vacinas, Bolsonaro deverá avaliar se vale ou não a pena manter Barros na liderança do governo na Câmara Federal. “O presidente vai ter que fazer uma análise sobre os benefícios e os malefícios que a permanência de Barros (na função) vai trazer para o governo dele”, sugeriu o deputado.

Por meio de nota encaminhada à reportagem da FOLHA por sua assessoria, o senador Flávio Arns (Podemos-PR), considerou "muito graves" as denúncias e cobrou investigação. "É fundamental que todas as denúncias sejam investigadas a fundo. Não somente em relação à pandemia, mas em todas as áreas. Todas as condutas inadequadas e indicações de mau uso do recurso público ou improbidade devem ser investigadas", disse ele, que também defendeu o fim do foro privilegiado e prisão em segunda instância como forma de combater a impunidade "em todos os níveis e esferas de poder". A reportagem também tentou contato com os outros dois senadores paranaenses, também do Podemos: Alvaro Dias não retornou o contato, e Oriovisto Guimarães disse por meio da assessoria que estava com a agenda cheia ontem. A FOLHA também procurou o deputado federal Filipe Barros (PSL-PR), da base de apoio a Bolsonaro, mas ele não respondeu.