O (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do site Metrópoles, denunciou e a Folha de Londrina confirmou informações oficiais sobre vacinas aplicadas com data de validade expirada. Foram analisados registros de envios de imunizantes para as unidades da federação, que teriam sido aplicadas em 1.254 pessoas doses de lotes do imunizante Covishield, desenvolvido pela Oxford/AstraZeneca, fabricadas na Índia em outubro do ano passado. Por esse levantamento, no Paraná, 35 doses vencidas foram aplicadas. As informações do Ministério da Saúde apontam que Guarapuava teria aplicado 31 doses de Astrazeneca vencidas; Ampére, Arapongas, Campo Mourão e Umuarama aplicaram uma dose vencida cada.

As informações do Ministério da Saúde apontam que Guarapuava teria aplicado 31 doses de Astrazeneca vencidas; Ampere, Arapongas, Campo Mourão e Umuarama aplicaram uma dose vencida cada.
As informações do Ministério da Saúde apontam que Guarapuava teria aplicado 31 doses de Astrazeneca vencidas; Ampere, Arapongas, Campo Mourão e Umuarama aplicaram uma dose vencida cada. | Foto: Gilson Abreu/AEN

O problema está relacionado às doses de três lotes de vacinas produzidas pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford. Os lotes 4120Z001, 4120Z004 e 4120Z005 foram importados prontos pelo Brasil. São grupos de imunizantes cuja data de validade, de seis meses, já expirou.

O registro no Ministério da Saúde aponta que o lote 4120Z001 foi liberado para ser distribuído em 24 de fevereiro e expirou no dia 29 de março. A maior parte dos casos de aplicação de vacinas vencidas no Brasil está ligada a esse lote. Foram 869 casos identificados em cinco estados. Já os lotes 4120Z004 – com 108 casos em cinco estados; e 4120Z005 – 277 casos em 17 Unidades da Federação foram autorizados em 22 de janeiro e venceram em 13 e 14 de abril, respectivamente.

Do lote 4120Z001, todas as 33 pessoas que receberam a dose no Paraná conseguiram fazer isso ainda dentro da data de validade. Do lote 4120Z004, 54 pessoas receberam a vacina no Paraná, e também todas ainda dentro da data de validade. O maior problema no Estado foi o lote 4120Z005, que foi ministrado para 48.910 pessoas por aqui. Foi neste lote que estavam as 35 vacinas aplicadas fora da data de validade no Paraná.

A bula da vacina no site da Anvisa informa que a validade do imunizante é de seis meses a partir da data de fabricação. Diz também que o produto não deve ser usado após o prazo previsto. “Não use medicamento com o prazo de validade vencido. Guarde-o em sua embalagem original”, é o que consta no documento oficial.

Em resposta aos questionamentos da reportagem da Folha, a Anvisa declarou que não há solicitação sobre pedido para revalidação de datas de validade das vacinas até o momento. “A revisão de condições de conservação é feita a partir de estudos desenvolvidos pelos laboratórios que devem demonstrar que a vacina mantém suas características inalteradas em condições diferentes. As condições de conservação, armazenamento e prazo de validade descritos em bula são baseados nos estudos de estabilidade e devem ser seguidos para garantir a qualidade de vacinas e medicamentos.”

A epidemiologista Carla Domingues, que coordenou o Programa Nacional de Imunização (PNI) do Ministério da Saúde entre 2011 e 2019, afirma que toda vacina depois de vencida tem que ser desprezada. “O Ministério da Saúde recebe o lote, ele entra no sistema de informação e lá se coloca a data do vencimento dele. Quando chega no Estado e no Município, eles também precisam lançar o número do lote, então essa informação existe. É obrigatório que eles mantenham esse controle. Na carteirinha é colocada a data de aplicação e o lote, mas não se coloca a data de validade. Se tivesse como fazer o recall teria como fazer, mas não é o caso”, afirmou. “Não se recomenda aplicar novamente a primeira dose da vacina para quem recebeu a vacina vencida. A recomendação é completar o esquema de vacinação. A pessoa vai tomar a segunda dose, os anticorpos vão ser acionados novamente e cria-se mais anticorpos”, explicou.

De acordo com a epidemiologista, quando o lote tem prazo curto de validade, o Ministério da Saúde avisa antes de enviar que o lote tem essa condição, e pergunta para os Estados se têm interesse de utilizá-los e os Estados respondem se tem interesse ou não. Ao mesmo tempo, as secretarias de saúde notificam os municípios para que todos fiquem atentos. “Mesmo com esse alerta, é primordial que a data de validade seja verificada na sala de vacina. A primeira coisa antes de aplicar a vacina é verificar a validade da vacina”, argumentou.

O episódio, diz a epidemiologista, serve para ficar alerta e que esses erros não devem ser repetidos. “Isso é o que a gente chama de boas práticas de vacinação. A primeira coisa é olhar a data de validade. Se for a segunda dose tem que olhar se a pessoa tomou a Coronavac ou a Oxford/Astrazeneca. Não pode aplicar Astrazeneca em quem recebeu Coronavac. Não pode aplicar em criança, como já ocorreu. São erros de administração de vacina e a responsabilidade é da sala de vacina. Por isso tem que ter supervisor e enfermeiro para acompanhar. Esses erros precisam ser notificados como efeito adverso e no mínimo precisa chamar quem cometeu o erro para orientação e para ser capacitado, muito mais do que buscar penalizar essas pessoas. Esses servidores estão trabalhando em um estresse gigantesco e não tem que discutir punição de servidor. Erros humanos podem acontecer. O que não pode acontecer é a repetição de erros”, argumentou.

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