Foram 10 horas de viagem de Exu (PE) até Curitiba “em busca de um sonho”, diz Victória Andrade, graduada em Direito. A pernambucana conta que estava estudando intensamente no último ano para a prova concurso da PCPR (Polícia Civil do Paraná), que seria realizada na tarde deste domingo (21) em Curitiba e região metropolitana, mas foi suspensa horas antes.

Imagem ilustrativa da imagem Concurso da PCPR: candidatos reclamam de descaso e falta de organização
| Foto: Eduardo Esteves

Assim Andrade, 106.338 candidatos se inscreveram para as 400 vagas oferecidas pela PCPR, sendo 300 para investigador, 50 para papiloscopista e 50 para delegado. A quantidade de candidatos inscritos de outros estados não foi informada pela assessoria PCPR, mas no perfil oficial do órgão em rede social, milhares de inscritos relatam os prejuízos financeiros e emocionais por terem encarado longas horas de viagem.

“É um sonho frustrado para a maioria dessas pessoas que se preparavam para este concurso da Polícia Civil do Paraná", comenta Andrade. "Acho que todos estão indignados, especialmente aqueles que vieram de tão longe como eu.”

“É um sentimento de revolta e de frustação. Chegamos em Curitiba na manhã de sábado para nos preparar, confirmar o local de prova, mas quando acordamos hoje cedo para sair com calma, recebemos a notícia de que a prova foi suspensa", desabafa a advogada Camila Ferraz Escame Sanches, de Londrina. "É uma decepção. Você se organiza, estuda, investe nos estudos e em cursinho, além do deslocamento para sermos tratados com total falta de respeito da organização do concurso. A revolta é grande porque me preparo para esta prova há quatro anos.”

Formado em Publicidade e Propaganda, Eduardo Esteves, também de Londrina, se preparava para a vaga de Investigador da Polícia Civil há dois anos. Ele está retornando para a casa, decepcionado. “É um descaso. Durante a semana, eu estava na expectativa de cancelamento pelo cenário da Covid-19, mas não esperava que isso iria acontecer no dia da prova”, destaca.

Imagem ilustrativa da imagem Concurso da PCPR: candidatos reclamam de descaso e falta de organização
| Foto: Eduardo Esteves

O NC-UFPR (Núcleo de Concursos da Universidade Federal do Paraná) se manifestou por nota em seu site oficial, alegando que o motivo da suspensão se deve à ausência de requisitos indispensáveis de segurança para a aplicação das provas, na última checagem realizada na madrugada deste domingo (21). O texto diz ainda que a prova será adiada para outra data “a ser oportunamente informada”.

No início do mês, o MPT-PR (Ministério Público do Trabalho no Paraná), a DPE-PR (Defensoria Pública do Estado do Paraná) e a DPU (Defensoria Pública da União) haviam recomendado um novo adiamento da prova. Entre os argumentos estavam a preocupação com a disseminação do novo coronavírus, a taxa de retransmissão e a exaustão dos funcionários do setor da saúde, além da circulação de inscritos vindos de outros estados. No entanto, a recomendação foi desconsiderada pela equipe responsável pela seleção.

Também em nota, a PCPR disse que foi pega de surpresa com a suspensão e que já encaminhou ofício ao NC-UFPR requisitando os motivos da medida adotada pela Banca contratada. O delegado geral da PCPR, Silvio Jacob Rockembach, deu uma entrevista coletiva no início desta tarde para falar sobre as ações que serão adotadas em razão do cancelamento do concurso público.

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O Governo do Estado já informou que irá abrir processo por quebra de contrato contra o NC-UFPR. “Em razão das alegações para o cancelamento do concurso, o governo esclarece que toda a organização, inclusive as medidas de segurança que deveriam ser adotadas durante a prova, eram de responsabilidade o NC-UFPR, de acordo com o contrato firmado com a Polícia Civil”. A FOLHA tentou contato com a assessoria de comunicação da UFPR, mas até o momento não houve retorno.

OUTRO PROBLEMA

Durante a semana, todos os candidatos tiveram problemas para acessar o ensalamento no site da NC-UFPR e a confirmação dos 300 locais de prova só foi dada no início da tarde de sábado (20).

Segundo Sanches, que chegou no sábado em Curitiba, “o site ficou fora do ar e a maioria dos candidatos com quem conversamos no dia também não sabia o local de prova. Só foi normalizar ontem, a partir das 12h. Isso já deixou todo mundo apreensivo”, conta.

“Ninguém espera uma falta de organização deste tamanho de uma instituição tão conceituada como é a Federal. Não tem sentido porque a pandemia está aí há muito tempo e insistiram na realização da prova dias atrás. É uma situação bem difícil. Agora vou ter que voltar para casa cansada, estressada, sem contar os riscos que a gente já correu vindo para Curitiba, junto com pessoas de outras regiões. Fiquei em um hotel com 100% da capacidade. A cidade estava bem movimentada e muita gente sem máscara”, comenta a londrinense Ana Paula Barrufaldi Sitta, que há três anos e meio estuda para o concurso. Ela se inscreveu para a vaga de papiloscopista. (Colaborou Viviani Costa)