Comunidade universitária faz marcha antirracista no campus da UEL

Estudantes, professores, servidores e representantes da sociedade civil organizada marcaram presença na manhã desta quinta-feira (12) no campus da Universidade Estadual de Londrina para participarem da “Marcha UEL na Luta Antirracista e pela Diversidade”, organizada após a denúncia de conteúdo racista, discriminatório e de apologia ao fascismo e nazismo escrito em um dos sanitários masculinos do Centro de Ciências Exatas (CCE) da Universidade, no início do mês.

Os grupos se reuniram na praça do Centro de Comunicação e Artes (Ceca) e seguiram em passeata pelo Calçadão passando pelo CCE até o pátio do Restaurante Universitário, com um show com a cantora Cecília Bandeira acompanhada do grupo do Samba do Sereno. Na frente do cortejo, os indígenas da Reserva do Apucaraninha e membros do grupo “Os Guerreiros”, de canto e dança tradicional entoando gritos de batalha que se misturavam às palavras de ordem contra o racismo, opressão e discriminação que vinham dos participantes.

A manifestação foi aprovada por unanimidade pelo Conselho Universitário (CU) e contou com a presença do reitor, o professor Sérgio Carlos de Carvalho. “Eu, como reitor, tenho que reconhecer que a nossa instituição, assim como todas as instituições públicas do Brasil, padecem do racismo estrutural. Não podemos em nenhum momento da nossa gestão, ou da nossa existência institucional, deixar de ter isso em mente e deixar de ter ações contundentes de combate ao racismo. Esse movimento é importante, o Conselho Universitário rechaça qualquer ação racista e todas as ações possíveis e imagináveis fazemos para dar vazão a essa necessidade de combater o racismo estrutural que está instaurado na sociedade brasileira. Racismo é crime e ele tem que ser combatido. A UEL não vai se calar diante disso”, afirmou.

Ainda de acordo com Carvalho, o mais recente episódio de racismo ocorrido na UEL, foi comunicado a outras universidades e a UEL recebeu várias manifestações de solidariedade. O reitor pretende levar o fato na próxima reunião da Associação Paranaense das Instituições de Ensino Superior Público (Apiesp).

“Acredito que todas as reitorias de todas as universidades do Paraná repudiam fortemente qualquer ação racista dentro das instituições”, disse. O evento foi organizado a partir da nota de repúdio assinada por várias instâncias acadêmicas, além de entidades.

De acordo com a professora Andrea Pires Rocha, do Departamento de Serviço Social e uma das organizadoras do evento, a marcha é o resultado de uma construção coletiva de vários segmentos da UEL, entre eles da Comissão Interna que avalia as ações afirmativas dentro da universidade.

“A manifestação foi pensada como uma contraposição ao ódio, construir a partir da perspectiva da educação. A luta antirracista acontece aqui, na base. O racismo é um crime e a instituição está tomando as providências e foi isso que exigimos. Acreditamos que ainda é preciso ampliar. Não é a primeira vez que isso acontece na universidade e esperamos que seja a última, mas isso, depende da luta, de a gente contagiar. Transformar algo que é muito duro e traz muita dor e peso em algo que venha com leveza, sem deixar de lado a resistência”, comentou.

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Para Andrea, incluir os temas dos povos indígenas e da população LGBTQIA+ à manifestação representa a luta histórica. “Tentamos resgatar aspectos que essa sociedade racista sufoca, da beleza e da importância da diversidade. Quando alguém vem e fala de nazismo e fascismo, o ataque é a vários grupos e aqui estamos para construir uma outra narrativa, aquela antirracista com beleza e sem perder o aspecto da luta e resistência”, afirmou.

A Administração da UEL já registrou Boletim de Ocorrência sobre o conteúdo racista e a Ouvidoria, por meio de processos internos, também está averiguando imagens de segurança para tentar identificar responsáveis pelo crime.

O estudante de direito Thiago Salvador Novi, do movimento Força Autônoma Estudantil, estava presente na Marcha. “É uma questão de princípio, de combate a toda opressão. Aconteceu na UEL uma demonstração covarde de racismo, nazismo e fascismo dentro do nosso campus. Não podemos ficar calados diante disso. Temos que nos que posicionar, demostrar a nossa insatisfação e dizer que não vamos tolerar esse tipo de comportamento. A universidade pública é um espaço livre de conhecimento, pensamento crítico e não podemos permitir esse tipo de manifestação no nosso espaço”, declarou.

Ursula Boreal Lopes Brevilheri, estudante trans do curso de Ciências Sociais, quis alertar quanto às altas taxas de evasão escolar entre indivíduos transgêneros, travestis e transexuais. “São muitas lutas compartilhadas. A nossa luta contra o racismo é a mesma contra a transfobia, contra todos os tipos de opressão e preconceito. Se a universidade não é lugar de fazer justiça social, qual seria esse lugar?”, questionou.

Para a presidente do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (CMPIR), Fiama Heloísa Santos, a mobilização também serviu para mostrar um posicionamento antirracista de pelo menos parte da comunidade universitária. “A UEL demarca uma posição antirracista, de forma aberta, nítida e direta. Não aceitaremos mais esse tipo de crime, de ataque. Querem nos expulsar dos espaços e isso não vamos mais aceitar”, afirmou.

Maria de Fátima Beraldo, representante da Plenária de Mulheres Negras do Norte do Paraná, um coletivo feminista de luta antirracista, destacou que a Marcha é um ato muito importante da luta na cidade. “Nós, mulheres feministas pretas da Plenária, também nos colocamos à frente do combate a esse tipo de agressão. Não podemos mais admitir esse tipo de violência contra a população negra. Sabemos que, nos últimos tempos, tudo o que de mais cruel e feio no ser humano aflorou e não foi só em Londrina, acontece no país todo. Estamos aqui hoje para repudiar e lutar contra esse tipo de violência”, sentenciou.

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