Viralizaram nas redes sociais duas fotografias que teriam sido feitas dentro de um banheiro masculino da UEL (Universidade Estadual de Londrina) contendo frases de teor racista e de exaltação a Hitler e Mussolini. As imagens geraram indignação e serão investigadas pelos órgãos competentes da universidade.

Imagem ilustrativa da imagem UEL abre investigações para apurar mensagens racistas
| Foto: Gustavo Carneiro

Os dizeres foram escritos de canetinha em uma parede e em um porta-papel higiênico de um banheiro do CCE (Centro de Ciências Exatas), contendo os dizeres “negros são burros”, “negros devem morrer” (ambas em inglês), “eles são burros sim”, “fascismo vive”, “heil Hitler and Mussolini”. O prédio abarca os cursos de Biotecnologia, Ciência da Computação, Física, Geografia, Matemática e Química.

Diversos grupos e órgãos, indignados com os escritos, elaboraram uma nota de repúdio que, até a conclusão desta reportagem, foi assinada por 88 entidades, departamentos, colegiados, projetos de pesquisa ou extensão e coletivos independentes.

Segundo o documento, “Essas frases são criminosas, pois, segundo a Lei n. 7.716, de 5 de janeiro de 1989, devem ser punidos ‘os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional’.

O racismo é crime, bem como o proselitismo ao fascismo e ao nazismo”. O mesmo grupo que articulou a elaboração da nota formalizou o encaminhamento do caso aos canais da Universidade. Em nota, a UEL confirmou o recebimento das denúncias junto à sua Ouvidoria e afirmou que abrirá processos internos para averiguação da autoria através da análise das imagens de segurança da Prefeitura do Campus.

A instituição também afirmou que “rechaça qualquer atitude de conteúdo racista e destaca que todos os esforços serão empreendidos para que práticas racistas não voltem a ocorrer no ambiente universitário”. Os dizeres já foram apagados. Eles foram escritos em um banheiro do mesmo prédio em que a professora Margarida de Cassia Campos, do Departamento de Geociências, trabalha.

“O que me tocou mais no fundo foi pedir a morte dos negros”, conta ela, que participou da elaboração da nota. “Esses escritos vão ferir a existência das pessoas negras e podem influenciar, inclusive, o adoecimento psicológico. Você imagina um menino negro que entra ali no banheiro e vê que estão pedindo a morte dele dentro do campus?”, questiona.

Maria de Fátima Beraldo, professora e gestora de política de igualdade racial de Londrina, avalia que os escritos na parede do banheiro da UEL fazem parte de um contexto mais amplo de violências físicas e simbólicas.

“Vivemos um momento em que o racismo, assim como outras formas de discriminação e preconceito, tem se fortalecido, seguido de discursos de ódio, de falta de respeito e de destituição da humanidade das pessoas que têm pertencimento diferente do ocidental”, afirma.

Segundo Campos, também foi encaminhado ao conhecimento da Ouvidoria da Universidade um desenho de uma suástica que foi encontrado em uma pilastra do CCA (Centro de Ciências Agrárias) na quinta-feira (5).

Embora ainda não haja informações sobre possíveis autores desses crimes, ela ressalta a importância de que a questão seja tratada de forma ampla: “a gente não pode dizer que eles (os autores) são loucos ou que são algo à parte da sociedade. Como o racismo é estrutural, ele está dentro de cada indivíduo”. Esse entendimento é reforçado por Beraldo.

“A violência não é caminho de vida, e sim rumo para a morte. Todas as vidas importam”, pontua. Para a gestora, “é necessário que a sociedade brasileira dê um basta para toda essa violência, que tem ceifado a paz e a vida de tantas pessoas”.

Como noticiado pelo Bonde (https://www.bonde.com.br/educacao/noticias/primeiro-debatede-candidatos-a-reitoria-da-uel-tem-confronto-de-ideologias-politicas-e-propostas-de-gestao), durante o processo eleitoral para escolha do novo reitor da UEL, o então candidato Gabriel Gianattasio, professor do Departamento de História, afirmou ter sofrido ameaças de morte por meio de cartazes espalhados no campus em março deste ano. O caso continua sendo investigado pelos órgãos da Universidade e ainda não possui um desfecho. A disputa foi vencida pela professora Marta Favaro.

Nesta quinta-feira (12) será realizada a marcha UEL na luta antirracista e pela diversidade. A concentração será no Ceca, às 10 horas, com marcha até o pátio do Restaurante Universitário, atividades culturais indígenas e show protesto com Cecília e Samba do Sereno, às 12h30.

Receba nossas notícias direto no seu celular! Envie também suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1.