Estudantes e docentes da UEL (Universidade Estadual de Londrina) protagonizaram, na manhã desta quarta-feira (13), um ato contra a violência e em memória de Julia Beatriz Garbossi Silva e Daniel Takashi Suzuki Sugahara, ambos com 23 anos, que foram assassinados a golpes de faca no dia 3 de setembro deste ano, no Jardim Jamaica (zona oeste). A mobilização prestou solidariedade, também, à estudante de Artes Cênicas que sobreviveu ao ataque após ser gravemente ferida.

A ação foi organizada por alunos e professores do Ceca (Centro de Educação, Comunicação e Artes) e do CLCH (Centro de Letras e Ciências Humanas), além de membros da Juntes - a Comissão de Prevenção à Violência de Gênero do Ceca -, da Comissão de Prevenção à Violência Sexual, de Gênero e Étnico-racial do CLCH e do Sebec (Serviço de Bem-estar à Comunidade).

A partir das 9h, os participantes passaram a se reunir na praça do Ceca para confeccionar cartazes e se posicionar não somente a respeito dos crimes cometidos contra os jovens, mas também contra casos de assédio e violência direcionado a mulheres, transexuais, negros e outros públicos socialmente vulneráveis.

A partir das 17h30, os manifestantes voltam a se reunir em frente ao RU (Restaurante Universitário). Na sequência, a partir das 18h30, caminham em direção ao gramado do CLCH, onde estão previstas falas de integrantes do movimento estudantil e dos membros das comissões organizadoras do ato.

POLÍTICAS INSTITUCIONAIS

Franciele Rodrigues, que é doutoranda em Sociologia na UEL e integrante da Juntes, ressalta que o ato tem também o objetivo de requerer políticas institucionais voltadas aos estudantes vítimas de assédio e violência.

"Por mais que esse crime não tenha ocorrido dentro da Universidade, aconteceu com duas estudantes daqui. Além disso, sabemos que a Universidade não é uma ilha, então está imersa nessa cultura do assédio. As vítimas precisam desse acolhimento dentro e fora da Universidade caso aconteça alguma coisa", defendeu.

Rodrigues apontou que um dia após os crimes a UEL declarou luto oficial. Mesmo assim, a paralisação das atividades e a atenção direcionada ao fato foi “parcial”.

"Parece que as coisas transcorreram normalmente, como se nada tivesse acontecido, inclusive no Ceca. A impressão que dá é que as coisas só paralisam quando há um corpo estendido no chão. É por isso que essas ações de combate são tão importantes."

COMISSÕES E DEMANDAS

As comissões de combate à violência do CLCH e do Ceca, apesar de auxiliarem e acompanharem as vítimas de assédio, têm seu trabalho limitado. De acordo com Rodrigues, os grupos contam com poucos participantes e, devido à falta de uma política institucional, não dispõem de meios instrumentais.

"Existem instâncias dentro da Universidade que auxiliam as vítimas, como a Ouvidoria. Mesmo assim, as coisas ficam muito soltas e não temos respaldo. Muitas vezes, as vítimas têm medo de denunciar. Quando temos uma política, mesmo que ela não vá resolver todos os problemas do mundo, temos o respaldo necessário", defendeu.

A mobilização dos estudantes e dos docentes organizou também a entrega de cartas para a reitora da UEL, Marta Favaro. Ao longo de todo o ato, os presentes puderam deixar suas considerações a respeito das necessidades e das demandas dos públicos socialmente vulneráveis ao assédio e à violência.

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A Comissão de Prevenção à Violência Sexual, de Gênero e Étnico-racial do CLCH e a Juntes irão entregar à reitora da UEL um ofício que requer a criação das políticas institucionais mencionadas pelos membros. As demandas têm como base, principalmente, dados sobre assédio na Universidade, que foram coletados e organizados por um GT (Grupo de Trabalho) coordenado pela professora Martha Ramírez-Galvez.

"Nós pedimos a criação de uma política institucional que tenha um protocolo de acolhimento e acompanhamento das vítimas. Também precisamos que essa política tenha punições para os praticantes do assédio e da violência", defendeu Ramírez-Galvez.

A professora explicou que, atualmente, as comissões têm o objetivo de acolher as vítimas, bem como oferecer aconselhamento e orientação quanto às denúncias e acompanhamento dos processos. Porém, Ramírez-Galvez defendeu que somente essas ações não são suficientes para atuar contra o assédio e a violência.

POSIÇÃO DA REITORIA

A reitora da UEL, Marta Favaro, não pôde comparecer à manifestação devido à sua agenda institucional e foi representada pela pró-reitora de Pesquisa e Pós-Graduação, Silvia Meletti. Ela afirmou concordar com as reivindicações das comissões quanto à criação de uma política institucional de enfrentamento ao assédio e à violência de gênero.

"Além de uma representação institucional, sou mulher, sou professora desta Universidade e sou uma docente que pesquisa a violação de Direitos Humanos. Então, para mim, é muito difícil estar aqui. Por outro lado, esse é um espaço que não posso abrir mão, pois preciso expressar minha indignação frente à violência contra a mulher", apontou.

A COM (Coordenadoria de Comunicação Social), da UEL, afirmou que as cartas e ofícios serão entregues na Reitoria da Universidade na tarde desta quarta-feira. Após a entrega, as reivindicações serão analisadas e a reitora irá se manifestar oficialmente.