A tradição de consumir o moti no Ano Novo cruzou o mundo com os primeiros imigrantes japoneses e é pelas mãos dos seus descendentes que se mantém até hoje. Símbolo de proteção, boa sorte, saúde, felicidade e prosperidade, o bolinho de arroz é a materialização do espírito de coletividade, da perpetuação dos valores e da organização, sempre tão presentes na cultura oriental.

Mas para preservar a história e a cultura de um povo, é preciso engajar os jovens e despertar neles a consciência sobre a importância de dar prosseguimento aos costumes. Neste ano, no trabalho de preparação dos motis para recepcionar 2025, a comunidade japonesa que integra a Acel atuou fortemente na mobilização dos mais novos com o intuito de prepará-los para levar adiante a tradição milenar.

Neste sábado (28), entre os 120 voluntários que se reuniram para produzir os motis, 30% eram representantes da nova geração que compreenderam que caberá a eles a tarefa de dar seguimento ao trabalho perpetuado ao longo dos séculos por seus ancestrais.

A arquiteta Juliana Akemi Nakahara, 32 anos, participou do preparo dos tradicionais bolinhos de arroz pela primeira vez, atendendo ao convite de um amigo. ˜É muito legal perceber que é uma tradição, uma coisa da cultura. Tento sempre estar envolvida com a cultura japonesa. Meus pais me ensinaram a importância de preservar os valores e a nossa cultura.“

Nakahara ficou na cozinha, preparando as panelas para o cozimento do arroz. Depois de ficar de molho de um dia para o outro, o cereal é colocado envolto em tecido em uma panela para ser preparado no vapor. Boa parte dos 650 quilos de arroz utilizados no preparo dos motis produzidos pela Acel, passou pelas mãos da arquiteta.

“Nunca tinha participado. Cada coisa tem seu processo, seu jeito de fazer. E é muito interessante ver as famílias se ajudando, o encontro de gerações. A gente acha que eles não vão acolher porque a gente não sabe fazer, mas foram muito receptivos e estão engajados em passar os ensinamentos aos mais jovens“, comentou.

“Neste ano, convocamos os jovens da Acel. E os colocamos em todas as etapas para eles participarem. Para o ano que vem, alguns já podem dar continuidade. Nós vamos passando e as pessoas que entraram e nos ensinaram, não estão mais também e isso acaba. A gente se preocupa muito em manter a tradição“, destacou o presidente do Conselho Deliberativo da Acel, Roberto Lima.

Após 50 minutos no vapor, o arroz está pronto para ser levado para a máquina onde a massa será trabalhada por cerca de 30 minutos, até que chegue no ponto perfeito para que os motis possam ser modelados. Um dos responsáveis por essa tarefa é Maoro Matsuoka que apesar dos 86 anos de idade, demonstra ter ainda muita disposição para levar essa tradição adiante. “Faz 20 anos que trabalho como voluntário. Ajudo a levar todos os bons sentimentos a quem vai comer o moti. A gente não pode parar e ficar aqui o dia todo é um sinal de que tenho saúde.“

A massa pronta é transferida para grandes mesas onde é esticada e cortada por muitas mãos habilidosas. Dali, os bolinhos saem prontos para serem polvilhados com amido de milho, a última etapa antes de serem embalados e entregues nas mãos daqueles que darão continuidade ao costume de consumir o moti na primeira refeição do primeiro dia do ano.

Entre os voluntários envolvidos na fase final da produção estava o empresário Paulo Hara. “O moti é uma coisa milenar, uma tradição japonesa que os nossos antepassados trouxeram para nós e sempre, desde criança, a gente aprendeu que o moti traz esperança, rejuvenesce as pessoas, representa a vida nova. Tem todo um simbolismo“, comentou Hara, que além de comer o moti, também vê o bolinho de arroz como um símbolo de proteção e costuma colocar algumas unidades na mesa das refeições, para trazer fartura, na mesa do escritório, para atrair boa sorte, e no carro, como forma de proteção. “Aprendi com a minha mãe e acredito nisso desde criança. Sou casado com uma brasileira e minha sogra também já pegou o costume.“

O arroz, um dos principais símbolos da culinária japonesa, é solto quando cru, representando o indivíduo. Quando cozidos, os grãos se juntam em comunidade, e depois de amassada e enrolada, a preparação se transforma em irmandade.

O preparo dos motis pelos voluntários da Acel é uma tradição que já dura seis décadas. Há várias formas de se consumir o bolinho de arroz, mas em Londrina, a comunidade nipônica se reúne no primeiro domingo do ano para uma cerimônia budista na qual o moti é servido cozido com legumes em um tipo de sopa, chamada ozoni. Tomar essa sopa na primeira refeição do ano, explicou a presidente da Acel, Luzia Deliberador, é a simbolização da harmonia, do coletivo, da saúde e da felicidade.