O vídeo que "viralizou" ao longo desta sexta-feira (2) e que mostra um empresário de Londrina jogando água em um idoso morador de rua para espantá-lo da porta do seu estabelecimento gerou muita discussão nas redes sociais e protestos, inclusive de entregadores contratados via aplicativos. A FOLHA esteve no ato, que durou cerca de 30 minutos e reuniu quase 20 entregadores, e constatou a insatisfação dos profissionais com o tratamento recebido naquele estabelecimento. Além disso, um policial militar chegou a ameaçar a equipe de reportagem, fato que foi relatado ao comando do 5º BPM (Batalhão da Polícia Militar).

Mais cedo, o proprietário do restaurante, no centro da cidade, havia informado que há cerca de 40 dias encontra sua calçada "fedida" por conta necessidades fisiológicas que o morador de rua faz durante a noite e que, mesmo após acionar a Polícia Militar e a Guarda Municipal, nenhuma providência é tomada.

Imagem ilustrativa da imagem Caso Ghada| Vídeo reacende debate sobre moradores de rua
| Foto: Reprodução

Para o coordenador da Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados de Londrina) Rafael Colli, a cidade de Londrina é "paradoxal no tocante à população de rua", avaliou. Para ele, enquanto o município possui um Ministério Público e uma Secretaria Municipal de Assistência Social atuantes, não consegue avançar na criação de parcerias com o setor privado e associações de moradores. “Não conseguem entender que as pessoas foram levadas à rua, não foi uma escolha. O caso do restaurante é a expressão de que a sociedade da área privada não percebeu que tratar um ser humano daquela forma mostra como ainda somos pouco evoluídos", lamentou.

SAIBA MAIS:

- Londrina: vídeo de comerciante jogando água para expulsar morador de rua gera protestos

- Restaurante é vandalizado e tem vidros da fachada quebrados no centro de Londrina

A promotora Susana de Lacerda avaliou que, mesmo com a pandemia da Covid-19, a situação atual é um pouco mais "estável". A avaliação leva em conta o fato de que a cidade ganhou novas vagas de acolhimento a partir de uma cessão de espaços por parte da Igreja Católica. Entretanto, demonstrou preocupação com os desafios do enfrentamento ao abuso de álcool e outras drogas, realidade de 90% das pessoas que vivem nas ruas e que deve se agravar diante da crise econômica aprofundada pela pandemia.

De acordo com a secretária municipal de Assistência Social, Jacqueline Micale, o atendimento durante a pandemia nunca deixou de ser realizado, apenas precisou se adequar, caso do Centro Pop, que precisou interromper atividades em grupo. Conforme afirmou à FOLHA, 25 orientadores sociais foram contratados e duas repúblicas foram implementadas neste ano. Entretanto, ressaltou que a situação é "estrutural, de todo o País", lembrou.

Por conta disso, a ação de voluntários ligados à Igreja e projetos culturais, como o "Projeto Brisa", que está em sua terceira temporada e conta com o apoio do Promic (Programa Municipal de Incentivo à Cultura), são fundamentais. A reportagem também apurou que dois projetos de lei estão sendo construídos pela atual administração e serão focados em pessoas que estiverem em fases mais avançadas de seus tratamentos contra a dependência química. Um busca incentivar a reserva de vagas de empregos em grandes companhias que prestarem serviços ao poder público. Já o segundo visa a criação de um "aluguel social".