Após a publicação de uma nota de repúdio compartilhada por centenas de pessoas nas redes sociais, membros da Associação dos Amigos e Moradores do Centro Histórico de Londrina conseguiram ajuda para pintar o espaço público que foi pichado. Segundo a associação, as pichações foram feitas por manifestantes do ato 29M, em favor da vacina e do auxílio emergencial e contra o presidente da República, Jair Bolsonaro, realizado no dia 29 de maio.
No texto, em mais de uma vez a entidade reconhece o direito de protestar dos manifestantes, um dos pilares da democracia, mas se disse “estarrecida” com a depredação do patrimônio público e pede punição ao que chama de “aberrações comportamentais” e cobra ressarcimento dos danos aos cofres públicos. A nota menciona um coletivo e dois partidos políticos.
Integrante da associação, Iara Franco Coutinho Hernandes lamentou o ocorrido. Ela contou que no final de abril, houve um empenho por parte da entidade para que o espaço público estivesse restaurado no dia 1º de maio, data em que a Concha completou 64 anos de existência. “Eu acho que é um direito que nós temos e temos que exercer muito bem, de protestar e falar o que não nos agrada, mas não temos o direito de depredar as casas e o comércio.”
Segundo Hernandes, os manifestantes picharam e colaram cartazes na parte interna da Concha. Os cartazes foram retirados com água e as pichações foram apagadas com tinta. Após os muitos compartilhamentos da nota de repúdio emitida pela associação nas redes sociais, a comunidade de Carros Antigos e Motociclistas se mobilizou para conseguir ajuda para limpar as pichações, o que já foi feito, embora o material arrecadado não tenha sido suficiente para apagar as pichações de bancos e piso.
À reportagem, a associação enviou fotos e vídeos de manifestantes reunidos na Concha e em passeata, captados no dia do ato público, e imagens de bandeiras de movimentos envolvidos na organização do protesto. Um dos registros mostra o “antes” e “depois”, mas em nenhum deles é possível identificar os autores das pichações.
Em Londrina, o movimento 29M foi articulado pelo Comitê Unificado, Frente Ampla composta por mais de 40 organizações. Uma delas, a Frente Feminista. Representante da Frente no comitê, Meire Moreno destacou que nas discussões que ajudaram a construir o ato público, a questão das pichações e lambes (cartazes) chegou a ser discutida, mas os organizadores decidiram que não era o momento desse tipo de manifestação e a orientação era para que houvesse a preservação do patrimônio público, o que foi reforçado durante o protesto. “Mas nem tudo o que se realiza no ato é a opinião da organização”, disse Moreno.
A membra da Frente Feminista destacou ainda que a Polícia Militar acompanhou todo o ato, para o qual foram destacados agentes e viaturas. “A polícia, que é profissionalizada, não conseguiu controlar o ato de algumas pessoas”, ressaltou Moreno. A organização estimou em três mil pessoas o número de participantes do evento.
Em nota de esclarecimento, o Comitê Unificado salientou que intervenções realizadas durante manifestações populares, como colagem de lambes e pichações, não podem ser controladas pelo comitê e que a organização não planeja ou executa essas ações. “Entendemos que qualquer pessoa infiltrada pode, por desejo individual, executar esse tipo de manifestação”, afirmou a nota.
A Frente Ampla também disse repudiar “a criminalização e a responsabilização do Comitê Unificado por conta deste motivo” (pichações na Concha Acústica).