Katerin Paez e o filho Josuel: "Estou muito agradecida"
Katerin Paez e o filho Josuel: "Estou muito agradecida" | Foto: Marcos Zanutto



Katerin Paez, 28, também veio de um abrigo em Boa Vista. Na aldeia há quase duas semanas, seu filho Josuel aprendeu a andar. O pequeno anda todo o dia, brinca, e dorme às 10 horas da noite. "Aqui tem muito cachorro e gato e ele sai chamando com a mão. Le gusta mucho los animales, no lo tiene miedo".

A melanina da pele morena exibe a quantidade de sol que eles tomaram no percurso. "Aqui Graças a Deus estamos bem, temos uma casa, uma cama, comida". Sua filha de quatro anos está na escola em Goioerê, mas a primogênita, de 11 anos, ficou com o pai na Venezuela. "Quero buscá-la. Na Venezuela não está fácil".

Todavia, ela não quer voltar a viver lá. "Eu gosto do Brasil. Sempre quis vir ao Brasil, mas não nas condições em que saí da Venezuela. Queria ir ao Rio de Janeiro, ainda mais nessa época, no Carnaval, me encanta. Mas foi a vontade de Deus que eu viesse para esse lugar e Ele sabe por que faz as coisas". Segundo Paez, em Goioerê há condições e oportunidade de trabalho. "Agradeço eternamente a vocês brasileiros pelo apoio que tem dado a gente. Em Boa Vista, os brasileiros, não todos, mas alguns são maus. Teve brasileiro que jogou o carro em cima de nós, andando com Josuel".

Paez conta que se pedisse ajuda nas ruas de Roraima era insultada. "Grazas a Dios ese mal tiempo acabó. Ahora saliu el sol y está más claro. Estou muito agradecida, Goioerê é muito bonita. A gente é boa, ando pela rua e todo mundo cumprimenta. Gostam muito das crianças, quando veem que sorriem para eles, é a alegria das pessoas".


Na tarde, na aldeia, os homens não estavam. Trabalhavam, ou procuravam emprego. Na entrada do sítio, uma casa exibe o nome do projeto: Brasil Sem Fronteiras. Uma árvore com palavras de apoio foi pintada pelos integrantes da ONG, com palavras como "estrutura" e "resiliência", além de fotos de quem já passou pelo abrigo.

Uma bandeira da Venezuela, o desenho da SOS Aldeias e uma bandeira do Brasil. Ilustrações pintadas meticulosamente por Stefany Flores embelezam a parede. Ela estudou desenho na Venezuela.

"Desde que chegamos da Venezuela, todos nos trataram bem aqui no Brasil. Gostei de Goioerê. Somos adventistas do 7º dia. Toda semana vamos à igreja, nos buscam e nos visitam". Seus irmãos e sobrinha ficaram na Venezuela. Sua mãe, Elsa Herrera , 50, veio primeiro para o Brasil e depois pediu que a buscassem. "Eu estava grávida e com minha filha".

"Si, vuelvo", respondeu, sobre um retorno para sua pátria. Mas só se a Venezuela voltar a ser como antes de Maduro. "Tinha comida, não havia necessidade. As coisas não eram caras. Não pagávamos luz, aluguel, tínhamos casa própria. Tudo. O gás era praticamente de graça. La luz no se paga, ni agua, nadie.

No Brasil, a família tem que passar por todo esse processo. "Um processo muito duro, mas cada coisa tem uma recompensa", lembra Herrera. A família tem 12 integrantes: cinco adultos e sete crianças. Eles compartilham tudo. Vão ao mercado e cuidam da limpeza.

"Nicolás Maduro não presta ajuda humanitária. Morrem crianças por desnutrição", lamenta a matriarca. Enquanto contava com a mãe o enredo das mazelas sociais de seu país, Flores dividia atenção com a pequena Helen Contreras, sua filha de três anos, que a escalava.

"Vimos muita comida aqui. Aqui tem tudo e lá muita gente não tem uma colherada. Lá com meio quilo de arroz comem dez, quinze, vinte pessoas, com muita água. Para comer por uma vez por dia, como uma sopa".

Em Roraima a situação também não era boa. Herrera lembra que fazia muito calor e eles eram abrigados em barracas. Tímida e sem querer tirar foto a princípio ou falar qualquer palavra em português, a pequena Helen soltou um repetido "você" ao se despedir.

"Vale a pena", definiu Herrera.

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