O nome Antônio é um dos mais populares no Brasil e tem sua origem no latim “antonius”, que significa “inestimável”. Há Antônios que o significado poderia ser também resiliente. É o caso de Antônio Luiz Galves, que aos 65 anos é o mais velho aprovado no Vestibular da UEL (Universidade Estadual de Londrina). Ele é o futuro calouro do curso de história.

“A educação é o caminho para mudar a sua história na vida. Estou indo lá para isso. Vou encontrar jovens com experiências diferentes da minha e gosto dessa troca", afirma Antônio Luiz Galves, futuro calouro de história
“A educação é o caminho para mudar a sua história na vida. Estou indo lá para isso. Vou encontrar jovens com experiências diferentes da minha e gosto dessa troca", afirma Antônio Luiz Galves, futuro calouro de história | Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

Filho de boias-frias de Cafelândia (SP), seus pais logo migraram para a região do ABC Paulista em busca de trabalho e foi onde seu pai começou a trabalhar como servente de pedreiro. Galves nasceu em Santo André em 1955 e ali trilhou uma história de ascensão social. Estudou, obteve duas graduações: administração de empresas e economia. Tornou-se empresário em São Paulo e chegou a ter 1,2 mil funcionários. “Mas a minha história é maluca. Fiz escolhas erradas tanto na área empresarial como na área pessoal. Confiei nas pessoas erradas. Quebrei e me afundei”, relatou. “Vim a Londrina há 14 anos. Cheguei a montar cinco lojas na cidade, me casei novamente, mas deu tudo errado e perdi tudo de novo. Fui despejado três vezes, a última vez de uma casa na zona norte. Fui para a lona e acabei na rua”, relembrou.

“Eu não tinha o que comer, mas alguém tinha me falado do Cras (Centro de Referência em Assistência Social). Eu fui lá e eles me deram uma cesta básica", relata ele, elogiando o serviço oferecido pela Prefeitura de Londrina. "Pude conhecer isso mais de perto como essas pessoas se dedicam."

Depois de ser alimentado, a assistente social disse que o ajudaria, mas que ele precisaria ter cabeça para sair daquela situação. Conseguiu benefícios sociais e foi acomodado no SOS (Serviço de Obras Sociais). “Morei quatro meses, 21 dias e seis horas ali. Não foi fácil”, conta ele, com a voz embargada. “Como eu tinha loja de roupas, cheguei lá com muitas peças, mas não podia ficar com tantas roupas na entidade. Tudo o que eu poderia ter de roupa deveria entrar em um armário que eles tinham. O restante teve de ser doado. Para quem já tinha morado em uma casa de alto padrão, aquilo foi muito difícil”, confessou.

“Fui à luta. Fazia serviços de capina para ganhar um dinheiro e estudei à noite no Colégio (Estadual) Vicente Rijo. Resolvi fazer alguns cursos técnicos de informática para me reinventar, mas tinha que pedir autorização para voltar mais tarde, já que o SOS possui horários definidos para retornar ao abrigo. Hoje trabalho vendendo software de gestão comercial e estou recomeçando nessa vida”, destacou.

Há dois anos ele deixou o SOS e passou a viver sozinho. Mas a rotina solitária de trabalhar e retornar para a casa vazia o deixava melancólico. “Decidi que voltaria à universidade, para estudar história. Quando eu acho que sei todas as respostas, a vida muda todas as perguntas e me faz começar tudo de novo. Eu sou aberto para isso. Particularmente quero usar essa graduação da melhor maneira que puder. Posso encontrar alguns caminhos e não quero passar despercebido", afirma.

"Há aqueles que falam que não dá para passar porque a gente está velho ou que a sociedade não dá oportunidade. As pessoas se acomodam e acham um culpado sempre para as coisas que não conseguem fazer, com todos os problemas que a vida nos traz. A gente não tem que culpar ninguém. Tem que buscar soluções e tem que ir à luta”, ressaltou o futuro calouro da UEL, que foi rejeitado em várias oportunidades de emprego por causa da idade.

“A educação é o caminho para mudar a sua história na vida. Estou indo lá para isso. Vou encontrar jovens com experiências diferentes da minha e gosto dessa troca. Quando vi minha aprovação chorei muito. Foi muito legal para a minha autoestima. Quero servir de exemplo para a minha filha de 7 anos. Quero ser um exemplo para ela e para outros jovens”, ressalta. A lista de aprovados do vestibular foi divulgada no último dia 5.

A aprovação de Galves já provoca mudanças em sua vida. Ele foi convidado para retornar ao SOS, mas desta vez como palestrante. “Pelo menos os meus veteranos não terão trabalho de raspar a minha cabeça, porque eu já sou careca”, conta. Palavra do inestimável e resiliente Antônio.

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