A acusação que representa a família do adolescente Gabriel Sartori deverá recorrer da decisão do júri popular, que na noite da última segunda-feira (21) absolveu o policial militar Bruno Carnelos Zangirolami, acusado pela morte de Sartori, ocorrida em 15 de junho de 2017. O adolescente foi morto em frente a uma escola no bairro onde morava, no jardim Cafezal (zona sul), em Londrina, após ser atingido por um disparo de arma de fogo feito pelo PM.

O caso teve grande repercussão na cidade. O crime aconteceu em um feriado de Corpus Christi. Segundo testemunhas, Sartori estava acompanhado de outros dois adolescentes em frente à escola onde Zangirolami morava. Ao perceber a movimentação no local, o PM, que estava de folga no dia, foi até a rua acompanhado de um cão para verificar o que acontecia e, na sequência, disparou contra o chão. A bala ricocheteou e atingiu Sartori. Ele tinha acabado de completar 17 anos e hoje estaria com 21.

Zangirolami respondia por homicídio com dolo eventual, quando o autor prevê que suas atitudes podem resultar na morte de outra pessoa. O julgamento durou cerca de 11 horas e o Tribunal do Júri reconheceu a materialidade e a autoria do crime, mas a maioria dos sete jurados entendeu que o policial militar agiu em legítima defesa.

O júri popular foi fechado ao público em razão dos protocolos de segurança referentes à pandemia de Covid-19. Os familiares de Sartori acompanharam toda a sessão do lado de fora do Fórum Criminal de Londrina e ao saberem da decisão, ficaram indignados. A mãe do adolescente, a gerente comercial Cristiane Sartori, questionou a decisão do júri. “É ridículo dizer que foi em legítima defesa. Foi provado judicialmente, com testemunha, que os adolescentes não tinham como confrontar o policial. O Gabriel era franzino, tinha 1,62 metro de altura. Eram três adolescentes desarmados. Como iriam para cima de um policial que estava com um cachorro de grande porte?”

“Nós, da família, estamos vivendo um novo luto. É como se o Gabriel tivesse morrido ontem (segunda-feira) de novo. Todo mundo está sem chão. Depois de cinco anos, estamos sofrendo toda a dor novamente, estamos nos sentindo injustiçados. É muito doído”, desabafou a mãe. “Ele (PM) tinha mil maneiras de se defender se houvesse uma agressão. A última delas seria o tiro. Para mim, nunca vai existir uma fala dele que me convença.”

A mãe do adolescente também disse ter se sentido humilhada com a chegada de várias viaturas da PM ao local, ao final do julgamento. “Começaram a chegar muitos policiais, inclusive do Choque. Desceram com armas pesadas, dispersando todo mundo como se nós fôssemos bandidos. Me senti muito humilhada na frente do Fórum. Foi horrível o que fizeram para que a gente não visse a saída do Bruno.”

DEFESA

O advogado de defesa de Zangirolami, Eduardo Miléo, que sempre alegou legítima defesa. “Os rapazes vinham de frente quando o Bruno disparou para o chão e a bala ricocheteou e acertou o Gabriel. Se o Gabriel estivesse correndo, a bala teria o atingido nas costas, mas ele estava investindo contra o policial”, argumentou. “É possível que a acusação recorra da causa, mas acho pouco provável que a decisão seja reformada quando há atribuição de legítima defesa. O Tribunal deverá chancelar a decisão.”

Receba nossas notícias direto no seu celular! Envie também suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link wa.me/message/6WMTNSJARGMLL1.