O setor de fertilizantes fechou 2020 com vendas de 40,5 milhões de toneladas no Brasil, um recorde histórico e alta de 12% em relação ao ano anterior, quando foram comercializadas 36,2 milhões de toneladas.

O bom momento é resultado de uma combinação de fatores, como a demanda cada vez maior por alimentos, o câmbio e, agora, o avanço da vacinação e a consequente injeção monetária nos mercados importadores das commodities agrícolas brasileiras.

“O mercado está otimista e especialistas estimam um crescimento de 5% a 10% em 2021 na comparação com 2020”, projetou Ricardo Tortorella, diretor executivo da Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos).

Maicon Cossa, da Yara Brasil, destaca cenário positivo e anuncia investimentos
Maicon Cossa, da Yara Brasil, destaca cenário positivo e anuncia investimentos | Foto: Divulgação

Quanto mais o campo produz, mais a produção agropecuária demanda insumos. O aumento da produtividade verificado nas últimas décadas, muito superior ao da expansão da área plantada, torna o cenário cada vez mais propício para o mercado de fertilizantes.

Estudos do Ministério da Agricultura mostram que, entre 1979 e 2019, a produção agrícola brasileira cresceu 385%, enquanto a área plantada aumentou 33%. Ou seja, a produtividade cresceu mais de dez vezes.

ANTECIPAÇÃO

Tortorella acrescenta que as compras de fertilizantes estão sendo antecipadas pelos produtores por estarem ampliando as áreas de plantio, além de evitar riscos de eventuais falhas na logística para entregas futuras ou o aumento do câmbio.

“Os preços dos fertilizantes subiram por causa do aumento da demanda e da desvalorização do real. Mas o mais importante é que o preço das culturas, como soja, milho, algodão e café, também subiu. Como o produtor calcula o valor de insumos pela relação de troca de sacas de produção, esta relação se mantém favorável a ele, permitindo a antecipação e a ampliação das compras.”

IMPORTAÇÃO

O Brasil produz cerca de 15% dos fertilizantes que utiliza no campo, sendo que o restante, 85%, precisa importar. Com isso, os produtores dependem muito de uma boa logística.

Para equacionar esse desequilíbrio, o governo federal analisa e debate um Plano Nacional de Fertilizantes, para que seja possível produzir um pouco mais no Brasil e depender menos do exterior nas próximas décadas.

“Mas temos tido vários importantes avanços de infraestrutura e logística que permitiram ao Brasil se consolidar como player importante no agronegócio, como, por exemplo, investimentos no Corredor Norte que permitem escoar a produção em multimodais, como ferrovia, portos e hidrovias. Mas ainda temos muitos pontos a avançar em logística para poder ampliar nossa competitividade.”

Imagem ilustrativa da imagem Venda de fertilizantes bate recorde histórico

Entre eles, figuram a dificuldade de definição do preço do frete, a burocracia nos portos e a falta de armazéns. Estudos da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) mostram que o Brasil teria capacidade para armazenar 1,2 vez a quantidade da safra que produz. “Temos atualmente armazéns para menos de 0,5, é muito baixo”, pontuou Tortorella.

CENÁRIO POSITIVO

O vice-presidente comercial da Yara Brasil, Maicon Cossa, ressalta que a companhia – empresa líder no mercado brasileiro de fertilizantes – enxerga um cenário positivo para este ano, com exportações de produtos agrícolas e o preço da maioria das commodities agrícolas em alta.

“Acreditamos que o mercado ficará acima dos 40 milhões de toneladas novamente, com ligeiro crescimento em relação a 2020, e com um crescimento expressivo na utilização de fertilizantes especiais”, frisou.

Ele acrescenta que o crescimento do mercado ano após ano reflete a importância cada vez maior que o fertilizante tem adquirido como insumo estratégico para o agricultor adquirir maior rentabilidade.

Além disso, a possibilidade de melhores resultados, somada à preocupação com a sustentabilidade em cada etapa, confirma a tendência de uma busca crescente por soluções nutricionais completas e inovadoras, combinadas a ferramentas tecnológicas para uma gestão ainda mais inteligente da lavoura – sempre fundamentada no conhecimento agronômico das particularidades da agricultura brasileira.

“O resultado é uma busca maior por soluções especiais, segmento que tem registrado um crescimento no mercado brasileiro na casa de dois dígitos.”

AQUECIMENTO

E as comercializações de fertilizantes estão bastante aquecidas em 2021. Até o momento, a Yara Brasil já comercializou cerca de 75% do volume demandado ao longo do ano, muito por conta do bom momento da relação de troca de fertilizantes – quantidade de produto agrícola para se adquirir um insumo.

“A média, nesta época do ano, é em torno de 50%, número que se manteve nos últimos dois anos, com um ligeiro crescimento na comparação entre o ano passado e 2019”, afirmou.

A projeção da companhia é de crescimento neste ano alinhado ao mercado brasileiro, que deve ficar próximo a 5% nas entregas de fertilizantes para o produtor.

“O destaque deve ficar para a maior comercialização de fertilizantes especiais (adubação via solo, foliar e fertirrigação), que trazem alto valor agregado para o produtor e, consequentemente, mais produtividade, rentabilidade e sustentabilidade”, detalhou.

A Yara não divulga os dados de comercialização de insumos, mas ressalta que é responsável por mais de 20% do mercado brasileiro de fertilizantes.

O faturamento da Yara no Brasil, em 2020, foi de R$ 16 bilhões. “Por questões estratégicas, não comentamos números de projeções de faturamento para 2021 ou para os próximos anos, mas a expectativa é positiva, por conta do bom momento da agricultura brasileira e do mercado doméstico de fertilizantes, que está em franco crescimento, sobretudo em relação aos fertilizantes especiais.”

As operações da Yara no Brasil são focadas principalmente no mercado doméstico. Uma pequena parte do volume produzido pela Yara no Brasil é destinada ao mercado do Paraguai.

INVESTIMENTOS

De 2012 até 2021, a Yara investiu um total aproximado de R$ 15 bilhões no país. “Estamos com duas grandes obras em andamento: a primeira é a do Complexo de Rio Grande (RS), que será concluída ainda em 2021. Com investimentos de R$ 2 bilhões, ele consiste em duas fábricas para produção de fosfatados e NPK, uma planta de acidulação, uma planta de granulação e cinco unidades industriais misturadoras de fertilizantes. Há também píer próprio e ligação com o modal ferroviário para carga e descarga de matérias-primas e o transporte de produtos. Trata-se de uma iniciativa que transformará a unidade no maior e mais moderno parque de produção e de mistura de fertilizantes na América Latina.”

A segunda obra é o Complexo Mineroindustrial de Serra do Salitre, em Minas Gerais, um dos principais projetos da marca no País, com investimento de R$ 5 bilhões.

“Ele permitirá à empresa dobrar sua capacidade de produção e tem como objetivo a extração e beneficiamento de rocha fosfática para a produção de fertilizantes. Ou seja, reduzirá a dependência de importações e o déficit da balança comercial do setor, além de gerar emprego e renda para a indústria nacional e apoiar a produção de alimentos no país”, conclui.

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